[imagem original ©governo do estado de são paulo]

 

 

 

 

 

 

Jorge Vicente

22

 

 

não quero escapar dessa cidade tão minha

e tão dentro do abismo, da vertigem, do desassossego

 

não quero talvez morrer como tivesse vivido,

com a serenidade roubada pelo ruído de bombas e de

pele e de estratégias e filosofias inúteis

 

não quero que essa cidade se incendeie

na garantia de que a poesia salva ou impede morteiros

 

em 22 comemos o que resta de nós

e entregamos à violência dos tanques.

 

 

Jorge Vicente

Na web

InComunidade

 

 

 

 

 

 

José Carlos Vieira

CARDIOPATIA (ou réquiem para um velho punk)

 

 

Morreu numa madrugada quente

a lua, talvez minguante

ao lado, uma garrafa de vinho pela metade

a taça em cacos jazia no tapete cinza.

Perto do travesseiro

o livro Ao sul de lugar algum,

de Charles Bukowski:

"Randall era conhecido por ser

um solitário convicto, um bêbado,

um homem amargo,

mas seus poemas eram crus e honestos,

simples e selvagens..."

morreu

coração explodiu, apesar da pouca idade

virou uma gelatina disforme, dentro da carne enrugada.

morreu

tinha uma amante mais velha que ele

a cada 15 dias, o visitava

ela gemia, urrava, suava, chorava, ria

e falava de eternidade.

Deixava sempre dinheiro

dentro do aquário vazio de água e com plantas de plástico

E ia embora para a casa do marido em seu sedã dourado.

morreu

um tumor poderia levá-lo mais tarde

uma facada de amor ao lado do baço também

um susto, um tique, um teco.

morreu

como morre um inseto

cego diante da luz de um automóvel

um anjo no chão depois do pecado.

Os anéis de prata brilhavam nos dedos já frios e entrevados...

uma caneta, uma carta de amor por começar

o papel em branco.

sim, a morte era branca como aquela folha

inútil, vaga, vazia

inexorável vácuo sem volta...

morreu

diante do espelho silencioso

de um quadro de Iolovitch

entre remédios e remorsos...

a vida é um clichê

uma mentira encenada no palco

para uma plateia de medíocres

só os medíocres sobrevivem tanto...

morreu

era uma vida de pequenos suicídios diários:

acordar, mijar, gritar o nome da melhor mulher

voltar para a cama

tropeçando em amores deixados nas gavetas do passado

aaaahhh! desespero!...

morreu

sem perdão para a culpa dos outros

não um canalha, ou um cristo, ou um buda

mas um poeta enganado, desenganado

um mito do rock sem comprimidos e seringas...

morreu

não havia vida há muito

rastejava pelos bares

vomitava palavras nos esgotos dos saraus

enfrentava o hálito da morte todas as madrugadas...

deixou cicatrizes em diversos seios

mordidas insanas em batom azul

sinais cravados para sempre

em peles lisas e perfumadas

Morreu...

O sol já vai nascer...

E as moscas lambem os olhos secos...

 

 

José Carlos Vieira

Na web

Correio Brasiliense

 

 

 

 

 

 

José Luiz Furtado

Lugares comuns

 

 

O tempo passa e os rios

Os rios se repetem, como ondas e mais ondas,

no mar,

calmos

E nada para ao sopro do ar.

 

A Flor rubra gira no vento

archote

em torno dos funerais.

Vinda em fogos, barbitúrica

peneirando grãos de cinza

sobre o pó e a espuma

do que somos em tumulto

vem essa Flor

desincendiando

o inferno

 

 

José Luiz Furtado

Poeta e professor de Filosofia da UFOP.

 

 

 

 

 

 

Jovino Machado

ElaSim

 

 

a poesia é torta

a poesia é gauche

a poesia é esquerda

 

a poesia é puta

a poesia é pura

a poesia é podre

 

a poesia é água

a poesia é terra

a poesia é fogo

a poesia é ar

 

a poesia é falta

a poesia é drible

a poesia é gol]

 

a poesia é socialista

a poesia é comunista

a poesia é humanista

 

a poesia é bar

a poesia é lar

a poesia é mar

 

a poesia é bella

a poesia é duda

a poesia é áurea

 

a poesia é bi

a poesia é trans

a poesia é viadinha

 

a poesia é lindinha

a poesia é raspadinha

a poesia é cabeludinha

 

a poesia é foda

ela sim

 

 

Jovino Machado

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Juliana Blasina

Quase um Monet

 

 

A vida como um quadro impressionista

:

sem contornos

sem chiaroscuro

 

flores em mancha se mesclam ao muro

 

um corpo amorfo na paisagem e

um barco

(talvez

rumo às pedras)

 

nesse horizonte trêmulo.

 

 

Juliana Blausina

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Julio Mendonça

O Brasil curvou-se ante o Brasil

 

 

 

 

Julio Mendonça

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Jussara Salazar

duas portas me habitam

 

 

Aproximo o espelho

uma nesga de sol mergulha no café

enquanto leio

filosofando sobre sabonetes baratos do hotel

entre um e outro olhar enviesado da camareira

entre corredores monótonos

_____minha pele é uma sombra na cidade

minha pele tem febre

e caminha pela tarde

na grande avenida entre as colinas de são sebastião

entre repetições do êxtase de santa teresa

entre pilhas de livros

e demônios de louça

que riem das dez perguntas sem nexo

_____ entediar-me em cantos de maldizer o silêncio?

visto o casaco

amarro os sapatos e um fio de luz sobe pelo teto

imitações de miniaturas gregas

com seus pés de abaporu

perdidas entre infiltrações

da ferrugem dos canos

são rituais de desejo

sobre as paredes sentimentais do casarão antigo

com suas portas numeradas

escadas

por onde fugirei para a rua se a noite vier

e hás de dormir____ ah cordeiro

tua sonhada leveza

enquanto revolverei esta terra

encharcada

de nossa memória

 

 

Jussara Salazar

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Justino Justino Justino

Sem título

 

 

 

 

Justino Justino Justino

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Kátia Borges

Kapalabhati

 

 

O poema perfeito respira no erro

que o socorre em kapalabhati.

 

O poema perfeito se esconde

enquanto respira

no erro que o socorre

em onze expirações contínuas.

 

O poema perfeito escorre,

em sukhasana, ujjayi-pranayama.

(bhastrikas como se rimas,

estrofes como se ramas,

dharmas como se dramas)

 

O poema perfeito brinca

entre os ossos do crânio

 

 

Kátia Borges

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Katia Marchese

Cúmulos

 

 

Nunca mais

olhou para o Céu

esse túmulo de seus mortos

 

[o azul é vingativo]

 

Girou o eixo,

a Terra paira sobre sua cabeça,

o verde pende

e agarra as mãos.

 

Deixa o abismo aos pés.

 

 

Katia Marchese

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Leida Reis

Identidades

 

 

Os modernos se estreparam

Na encruzilhada dos 100 anos

Cem esquinas bastaram para

A revelação da revolução:

Nem foram os paulistas nem os cariocas

Uma trans de botas tortas e fios de cabelo amarelados moradora da vala de um cemitério no interior do interior do Ceará mal sabia pintar ou escrever ou mesmo tocar flauta nunca quis ser moderna e eis aí, eterna.

 

 

Leida Reis

No Instagram

@leida.reis

 

 

 

 

 

 

Leila Guenther

Poema dadaísta tupiniquim tirado de umas manchetes de jornal

 

 

 

 

Leila Guenther

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Lígia Dabul

Sem título

 

 

Ela me cobra um veludo. O poema feito para comer.

Minto sobre o que vou falar. Indico até o andamento.

Empresto o metrônomo. Mas lembro que, eu mesma,

ando evitando o açúcar.

 

A outra quer pendurar estrofes na parede. E o cara

conseguiu uma pintura contemporânea, o conceito

dentro, e sem moldura. Observo por três horas. Digo que

gosto. Até que gosto. Combina com o sofá.

 

Só que estou aflita. Um poeta ressuscitou ainda agora.

Sinto algo que não conseguiria explicar. Um poema feito

para ler, imagino. While my guitar

 

 

[Do livro Som. Rio de Janeiro: Editora Bem-Te-Vi. 2005]

 

 

Lígia Dabul

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes

carrossel de silêncio

 

 

meu filho fala sozinho

 

no meio das crianças

brinca com ninguém

 

finge-se de gato

imita o cachorro

 

au

au

au

autista

 

(e o mundo finge que ele não existe)

 

 

Linaldo Guedes

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

Lindevania Martins

Itinerário para um títere

 

 

Vamos puxar as suas cordas

e fazer você pular

cordas esticadas

vamos controlar os seus ouvidos

e sussurrar todos os dias

até você achar normal

o que antes produzia horror

nossas vozes

deitarão em seus vestíbulos

e você defenderá nossos princípios

nossos meios e nossos fins

porque alguns nascem bons

outros ruins

e é preciso construir altas paredes

para deter o ataque a seus jardins

insuflado em seus medos

você aceitará a nossa seita

porque só ali há proteção

contra todo tipo de demônio

nenhuma vida mais será sagrada

e você pegará em sua cozinha

corda, fósforos e álcool

e você acenderá nossas fogueiras

e queimará cada um dos que odiamos

e expurgará do mundo cada um

que a nós se opõe

porque será sua

a nossa raiva e ambição

e serão nossas as suas mãos sujas de sangue

e será nossa a fuligem em seu peito

e será nossa sua boca escancarada de prazer

ante o espetáculo vermelho das chamas

que consumirá deles a carne

e expandirá no mundo o ódio

de nossa múltipla respiração.

 

 

Lindevania Martins

No Instagram

@lindamartins

 

 

 

 

 

 

Líria Porto

bandoleiras

 

 

maritacas maritacam

voam em bando

bicam verdes amarelos

e no meio da algazarra

roubam caquinhos do céu

para enfeitar as asas

 

 

[Do livro quem tem pena de passarinho é passarinho. Peirópolis, 2021]

 

 

Líria Porto

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Luci Collin

Meus oito anos

 

 

 

 

Luci Collin

Na Germina

> Contos

 

 

 

 

 

 

Luciano Cortez

Soneto quase imperfeito

 

 

Quando em ti me aconchego,

Nada em mim tem sucesso.

As palavras baixas que teço

Não são as que quero ou peço.

 

Escondido em mim não me encontro,

Só o desencanto entre voz e gesto.

Escolho perdido sempre o monstro

Que se encontra em mim indigesto.

 

O sem jeito com que me ofereço

Ao mundo, a ti, ou a todas,

Não tem igual, não tem preço.

Sou o adereço que guirlanda as bodas.

 

Ou as bolas. Que em mim se destina

O tropeço, ou a palavra que peca:

Pescar xoxotas na tina,

Ser chulo, louco ou jeca.

 

Ou melhor: a solidão que escalpelo

Pelo a pelo, nesses versos nus,

Arredondam-se nas coxas que peço

A Rebeca, Dolores ou Jesus, melhor,

Chupa-flor, Nada Consta, Seu Moço.

 

 

Luciano Cortez

Um dos fundadores da revista Cemflores, é poeta, artista plástico e professor da PUC-MINAS.

 

 

 

 

 

 

Luís Perdiz

Sem título

 

 

Uma flor me abriu no meio

e eu quero seu mistério.

Venho das chamas anunciar

a pressa em ser a presa

que nunca se encerra.

 

 

Luís Perdiz

Na web

Revista Primata

 

 

 

 

 

 

Luís Serguilha

PLANO-MOVENTE____13____

 

 

Um poema-animal também acontece na força tremenda do impreciso com fluidos hiperplásicos entre edemas copulares, apoptoses heteronímicas, tromboses venosas e levedurinas amebianas rés às esputações cadavéricas dos vertedouros de goivas verbais, de malhas jugulares e de fístulas vascularizadas por purgatórios ao cimo das drenagens cristalográficas: há uma dança da antropologia no espaço de conexões anfibológicas onde um fora-adentrado das herbolárias com cérebros vibrantemente etológicos resvala contra o espasmo aforístico de um lacrau ciliar: dedos entremeados, disjuntivos e acopladores de intensas camadas de equivocidades, percorrem um poema dilatados por aranhuços de cistos seminais: inseparáveis anáforas vociferantes perfuram a especiação pedunculada das vesículas vocabulares com agulhas exócrinas da vinificação: dizem: ulcerações petrológicas da ecosofia. Uma LEITORA-corvídea se capta, se rouba sem filiações estrogénicas, sem taxonomias, estorcegando linhas eritematosas até às proliferações dos múltiplos pontos de vista polimerizados por estolhos de contas elipsoidais que a atravessam policromaticamente (as partituras barrocas, alegóricas religam-se aos trespasses mucilaginosos, aos quiasmas dos endométrios secretores, às neotenias geniculadas onde as úlceras heterotróficas nutrem os azougues dos colapsos das palavras): um animal-poema torna-se um muco cervical com bolores infinitamente fractalizados contra enxertaduras anti-antrópicas e uma LEITORA enovelada por ritmicidades anicónicas faz dos verbos zonas plágicas com furúnculos luzentes ao cimo da conflagração perianal: um animal-poema dobra, condensa as córneas multicatalíticas da palavra dentro de vertiginosos garimpos, destruindo dicotomias e injunções epistemológicas com cataplasmas endorreicos: uma LEITORA com hérnias hemisféricas ao cimo das libações das farmacopeias tenta verter e extrapassar as substruções do poema em desmembramento e em contraposição labiríntica entre os engenhos ecoantes das distâncias, as áreas de silêncios sem pontos de partida e sem as bocas dos julgadores de estrofes traqueais onde se executou um crime fora de prenúncios inanimados (ADIANTAR-SE e retroceder na siderurgia do desastre e da crueldade de um tempo microperceptivo que dura incessantemente onde o ascendimento anómalo desponta pensado obliquamente no im-possível dos processamentos genéticos: politonalidades das fundagens escarvadas pela língua mudamente relacional sobre uma língua diastólica com sonoridades híbridas das brânquias): os alfabetos tacteados, farejados pelos choques súbitos-fílmicos-sanguissedentos, alucinam as vizinhanças do poema-possuído-por-si dentro das intersecções anárquicas do poema intraduzível e perseguidor de não-figurações-visionárias: dizem: carnaduras prosopomórficas no alto das eleáticas-incorpóreas, propagando prismas-das-glossolalias e escapamentos ininterruptos e dilatados por ferropeias tectónicas e por abaladuras cataclásticas (um poema-animal disjuntivamente fabulado nas tramas sintácticas das bastardias ostráceas malhadoras de ondas de excídios metamórficos onde os mapeamentos se ab-rogam, se estimulam, se fendilham entre pontos de fuga simultâneos): a transmutação sonora-molecular atravessa as géneses abstractas, os gestos poliédricos expandidos-des-articulados sobre os policristais dos apostemas tarantulares: há uma ondulação de corpos sem gramáticas que induzem a reinscrição melismática doutros corpos, arrancando simulacros às descamações dos simulacros, aberturas aos antropófagos das aberturas com enunciações de desequilíbrios verbais sobre as marchas polifónicas de uma FALA: batimentos carburantes das enxertias gésticas despontam alterados entre planos invisíveis e correntezas de temperaturas jugulares que tentam entranhar nas angulações etogramáticas para as desmanchar com sangramentos anorgânicos (um poema escarifica-se anabolicamente entre vários prismas sintomatologistas que  fissuram os nutrientes da equivocidade com carbúnculos pancreáticos ao cimo dos abatedouros das hebefrenias): as zonas im-perceptíveis do poema solevam os sedimentos da ancianidade des-dita e espargida na duração cinemacromática dos animais onde uma LEITORA consagra os traços da monstruosidade uterina quase translínguistica porque arquitecta diafragmas himenais com múltiplas sonoplastias moduladores de equimoses verbais em deflagração: dizem: voragens impensavelmente reflexionadas nos escafandros das estocásticas que desabam e se repercutem nos creófagos silabários de uma FALA: há veações dos citologistas-em-avalanche esgrimista e no zigue-zague do inacabado dos metais-sem-detalhes, uma LEITORA recria os instantes de um GRITO-micro-intervalar entre chicotes flutuantes dos gestemas, alomorfias dos ossos citrinos e sincronizações desconexas das membranas cruéis (perpassar as experimentações das vastezas do corpo do animal-poema para impulsionar as escapadas dos opostos-simultâneos e quebrar os binómios com as exocitoses das curandeiras que atravessam as espessuras gérmicas da LEITORA: diastrofias de hordas verbais dissolvidas por traduções filmofânicas catapultadas pelas sangraduras da traição do insituável da palavra em ritmo intemperístico: sismicidades das infralínguas criadoras do sacrare-larvar-gangrenoso do animal que recusa a desaparição umbilical da sua pele): Uma FALA em translação flebotomiza-se com enzimas cársticas ao redor das dismorfoses cardíacas das palavras: há uma medula penível na língua já esfuracada pela oscilação orogénica que experimenta as manchas dos fórceps das turbulências por meio de batimentos noológicos do animal-poema: uma LEITORA se estranha ao voltar-se para si com investiduras deslizantes, inesgotáveis, para esponjar a diferença enérgica que desliza desabaladamente para si, sobre si, fora se si, reforçando a diérese sónica de Ulisses, a fusão cetácea de Ahab, as anisotropias, as contraposições dos semiogramas dos enervamentos das palavras onde a carnadura dos cascos bulbiformes solavanca nas lâminas dos silêncios das minerações hipotónicas dos vazios, das granulometrias lipídicas dos verbos e das cravagens insufladas por atractores de microcinemas: dizem: autofagia de uma FALA no alto de um tecido conjuntivo com rebentações félsicas: um animal-poema dedilha-se e acrescenta-se às copulações carboníferas das distâncias das azulejarias que fazem da hiemação demonológica uma equimose randomizada por antecâmeras jugulares (um animal não se prismatiza, ele é já-em-si uma adivinhação piroclástica e heteronímica engolfada por topologias dos rasgos inconscientes com parresías por vir: há uma visão polilinguística que se diferencia nas estepes fractalizadas da LEITORA que se relaciona com as necrotomias do indiscernível sobre  entretempos de um animal com bunglossas em mudança por detrás da  cismogénese: o que pode a LEITORA saber dentro de irradiações de partículas cosmogónicas sem influxos hereditários? Um poema-animal advém do gastrocnémio-holográfico em variação multímoda que surge depois do impensado de si-mesmo, produzido pelo desequilíbrio activo das des-proporções antes do presente futurível: aqui-agora: um roubo das cartografias etimológicas se actualiza entre fronteiras híbridas-movediças e traduções inexprimíveis: as basculações anabólicas da LEITORA  atravessam a vernação do animal-poema com as espirais copulares plenas de espôndilos das efracções com os graus máximos de uma microsazonação cubista onde os esfolamentos e a putrefacção babelesca das palavras  desdobram os cadáveres das distâncias com os vertedouros dos vazios: uma palavra se excisa com tecelagens alófilas para se decifrar por meio de deciframentos incisuras de coágulos da assepsia verbal: há uma LEITORA imunológica com esquivanças e epicentros nas frisagens do seu ventre de entrepausas anagramáticas onde os sopros  sinapsiais se impregnam  na tradução-enviesada por perfídias dos desaguadouros dos relojoeiros polilinguísticos:  um poema-animal poliniza guindastes videntes com androfagias a dilacerarem-se nas hesitações cartomantes: dizem: percussionistas refractários na asseveração hipotérmica onde os chocalhos dos epifenómenos abrem os sudários dos demiurgos com os carpos das putas-IT com dicionários multizonais e  arquitraves ontogénicas a cauterizarem as fricções de uma FALA  nas contracturas larvares de um poema: dizem: reminiscências polinervadas por invaginações de limiares de úvulas testemunhais que sobem pela hapticidade da LEITORA até à transição oxigenada das vértebras rés à contrapeçonha da prestidigitação: nos espelhamentos cosmofónicos um animal amplia as trilhadeiras dos labirintólogos perante a genitália kairótica que espreita as ciências sulfúricas ao cimo das bússolas hidrópicas: as escoras dos palíndromos da LEITORA recuperam as subducções das artesanias dos serpentários que  multiplicam utensílios diplóides nos timbres das escavações lodacentas das palavras: por vezes fotosssínteses do microcaos despontam com crueldades embriónicas que expandem as vésperas lapidificadas de um signo onde uma FALA com batimentos insaciáveis usa a plenitude da dissecação das escarpas verbais para  se entrenhar nas hibernações criptogâmicas:

 

Há uma crisálida exercitada sobre as cornucópias à volta da sonorização molecular que se abre às inervações do poema  com estendedouros da duração a decifrararem os arpões parietais dos vazios: havia  alimárias transumantes nos vitrais entrançadores do poema-animal que faziam das safenas aiónicas uma hifenização de mitocôndrias com ecossons do tórax de uma LEITORA: havia  ametistas dentro dos hidrofones dos batedouros de entreteceduras do cristalino onde uma  hemorragia de lucarnas  articulavam os abalos da glandulação verbal às salinidades das pústulas expiatórias: havia êxodos onomatúrgicos nas antecedências de uma esclera verbal onde a adubação insana da autogamia era feita por gadanhas dos vascolejamentos dos trilhadores de vulvas à volta de lavadouros de línguas com vidraças disruptivas: havia uma LEITORA com clepsidras nas excrescências helicoidais das mucosas onde um poema-animal por meio das bricolagens dos brônquios se crivava nas escavaduras patafísicas para assimilar as salmouras ováricas a expandir eclipses mineralizados sobre os esgotamentos  das guinadas zoológicas: havia microfísicas ectoplasmáticas no poema-animal: dizem: fitotomias anabolizadas por híbridos sobre os nervos das vertigens: havia confessionários sintomatologistas com estames hemisféricos azuis ao cimo das segadeiras de ar que esboçavam alforrias cranianas por dentro de extravios contorcionistas onde uma palavra delirava entre entroncamentos salíferos: aqui-agora: as flutuações das síncopes assopram as nadadeiras nouménicas com as debulhadeiras ciclópicas dos fotogramas: havia uma improvisação nos palatos escafandristas da LEITORA a evaporar sedimentologias verbais rés às helioses obcecantes de uma FALA que ainda catalisa torceduras hidrológicas com ralentações exogâmicas: havia ângulos espasmódicos nas silabarias do poema-animal vascularizado pela babelização placentária onde uma FALA com arquivos plágicos  faz da  mineralogia um ergástulo psicodélico das palavras: havia  decomposições de ventosas nas porosidades das palavras que escambavam neoplasmos através de gravitações angulosas das blasfémias: dizem:   tuberculoses coalescentes golpeadas por glandes perpassadas por bocas com restevas de entrecortes dos bestiários: havia uma LEITORA com coágulos ungidos pela cibernética virulenta dos flagícios ao redor hipóxias das circuncisões de uma FALA com  estacarias dos mangues rentes aos dínamos histológicos da língua: havia uma copulação metalúrgica no poema-animal com varizes esofágicas turbilhonares a alicerçarem as secagens das palavras com as anábases dos vazios a baterem nas ruínas biossedimentares dos partos: havia microtons fúngicos a ejacularem pigmentações radiais sobre um poema com lâminas das queimaduras encefálicas  hibernando nas endorfinas indissolúveis: havia um acossamento de nodosidades incestuosas por dentro das palavras estacadas por sufusões de úlceras diastólicas onde uma vorticidade de tapeçarias opalescentes impulsionava uma refracção do escaravelho nos eléctrodos abotoadores de lanhos verbais da LEITORA: havia um animal-poema com crueldades da hodologia nas extremidades gérmicas esponjadas pelas antecipações citológicas da LEITORA que se extravasa(va) por meio de bisturis da vaticinação falsária onde as febres das pariduras rebentavam nos batedouros das coagulações matriciais: aqui-agora: a decantação verbal faz dos testemunhos do flagício um aradouro de rosáceas que esponjam o insituável fosfórico das putas: despontam cisões nas ampulhetas das luminárias órficas da LEITORA e o cio do vazadouro das têmperas das línguas constrói uma perturbação enciclopédica nas cabeças das falcoeiras com parresias infiltradas na carnagem: uma LEITORA mergulha na sua putrescência luteínica e com a regurgitação dos cadafalsos das catálises verbais envolve-se por meio do silêncio da ovogênese no animal-poema até atingir o bolor das escarpas do vazio em inseminação pneumatófora: sensores do vazio grafitam uma FALA até à difracção da insânia violácea.

 

 

Luís Serguilha

Na Germina

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