Reginaldo Francisco de Oliveira

 

Minha Terra

 

Minha terra tem fartura

De milho, caju e feijão

O povo que aqui trabalha

Trabalha sem parar

Quando vem janeiro

Toda a terra se acha preparada

Para plantar milho, abóbora, feijão,

Mandioca e algodão.

É a alegria do homem

Ver a chuva cair no chão,

Para fazer sua plantação

Na terra preparada

Nesse querido sertão.

Tudo que se planta aqui dá,

Basta a chuva cair

Para que tudo possa mudar

E para a felicidade do sertanejo

A chuva não pode faltar.

É prazer do nordestino

Ver a terra molhada,

O gado no campo pastando,

A água no açude,

O bem-te-vi cantando,

O céu nublado.

É aqui que vejo o sol nascer,

O dia perecer,

A noite chegar,

O galo cantar,

Foi aqui que nasci

E aqui quero morrer!

 

 

 

 

 

 

Renan Nuernberger

 

Canção do Exílio

 

retesados passarinho

e palmeira, síntese:

sal-espuma.

 

coração engaiolado

sem terra e sem canto:

só pressente.

 

 

 

a saudade será cínica

inventando cores:

distendida.

 

 

 

Renan Nuernberger
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Reynaldo Bessa & Marcelo Alvarez

 

Canção do Exílio

 

Minha terra tinha palmeiras

Onde vivia o sabiá;

As aves que longe gorjeiam

Não foram mortas como as de cá.

Nosso céu tem mais fumaça,

Nossas várzeas, caçadores,

Nossos bosques têm madeira

Para os móveis dos senhores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Não me ponho a cismar

Se minha terra tem palmeiras

Ou se ainda temos sabiá.

Minha terra tem primores:

Estão em algum cartão postal.

Em cismar, sozinho, à noite,

Não me ponho a cismar

Se a palmeira virou cinzas

junto com o sabiá.

Não permita Deus que eu morra

Sem que veja isto mudar.

Não permita Deus que eu cisme

Que a palmeira virou toco

E o sabiá quedou-se rouco

Por não ter pra quem cantar.

 

 

Reynaldo Bessa
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Entrevista

 

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya

 

Reflexão Nº 1

 

Palmeiras
minha terra tem
Aqui na Paissandu
onde moro
Vi também
no sítio do Antônio
em Jacarepaguá
Palmeiras
e exílio
todo brasileiro conhece

 

 

Ricardo Alfaya
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Ricardo Domeneck

 

Cão São da Ex-ilha

 

o desgosto de cada

passo confirmar o mapa

e o diafragma contraído

entende o queixo

no joelho,

meio-dia e meia

o centro da certeza

que caminha do "quero"

ao "não-quero",

palha, fênix, Joana

d'Arc, como perceber

que abismo e precipício

não

são sinônimos

exatos,

ou acordar no meio da

noite sem energia

elétrica

e sussurrar com a calma

do fim da força:

equivalendo

silêncio e escuridão,

real

apenas a escolha

da língua, entre-

tanto a

memória

das possibilidades

morre

para que o fato

entre inassistido

nas atas

do verídico;

saiu o sol,

deve estar tudo

bem; subiu a lua,

deve estar tudo

bem;

trocar de pele

continuamente

talvez

leve-me ao centro

e a ausência

me escame

como quem diz

"eu sinto

a falta"

 

 

Ricardo Domeneck
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Ricardo Leão


A Nação do Exílio


Minha terra tem bárbaros

Que são muito violentos.

À noite, o céu estrelado,

Tenho medo se os vemos.


Minha terra tem patos

Que também são jumentos,

E gozam como o diabo

Com o povo em sofrimento.


Minha terra tem fármacos

Que vendemos aos centos

Aos que acham ser bem machos

E aos outros que não pensam.


Minha terra tem gados

De estúpidos nos templos,

E que exaltam, aos brados,

Um deus de ódio e veneno.


Minha terra tem pardos

Que se acham eurocêntricos,

E andam sempre em andrajos

Sem ver o que estão vendo.


Minha terra tem lacaios

Cujos amos dispenso,

E que andam aos abraços

Com monstros bem obscenos.


Minha terra tem otários

Que gozam, em portento,

Com todos os carrascos

Dos quais estou correndo.


Minha terra tem astros

E artistas sem talento.

Uma chusma de parvos

Cujos nomes não lembro.


Minha terra tem carros

Guiados sem documento,

E monstrengos fardados

Que atiram quando tensos.


Minha terra tem barcos

Que andam a barlavento.

Quem sabe, um dia, parto

Ao país além do tempo.



Ricardo Leão

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Rita de Cássia


Onde Canta o Sabiá

[Interpretação: Mastruz com Leite]


Eu vou te levar

Onde canta o sabiá

Onde a lua nos espia

Com olhar de menina

Com cheiro do mato

O vento vindo da colina

Nossa cama é a grama

Pra fazer amor menina


[refrão]

Sou caboclo do sertão

Só tenho amor no coração

Pra oferecer

A natureza é minha casa,

Vida é viver

Tudo pra eu e ocê


Lá tem um riacho para a gente se banhar

Pegar peixe, nadar junto

E até vadiar

Quando for de noite, nós

Acende o nosso amor

Faz fogueira, não tem frio,

Pois sou seu cobertor


[refrão]

Sou caboclo do sertão

Só tenho amor no coração

Pra oferecer

A natureza é minha casa,

Vida é viver

Tudo pra eu e ocê


Quando for cedinho

A passarada a cantar

Vem o sol alumiando

Pra nos acordar

Lá meu paraíso tudo é feito

Com amor

Só faltava uma deusa

E você chegou







Rita Lee e Roberto de Carvalho


Pirarucu


Minha terra tem "pranetas"

Onde canta o uirapuru

Tem morcego, borboletas

Tem santinho, tem voodoo!


Progresso tá na "menoparza"

Sou um "reberde" sem "carça"

Já num "guento" mais lorota

Quero meu dinheiro de "vorta"!


Euxinguxatuduxingu!

Eupirucupirarucu!


O "Exocete" é tiete

O destroyer "num distrói eu"

E o veneno das "usina"

Fede mais do que urina!


Entre os "russo e americano"

Prefiro gregos e "troiano"

Pelo menos eles "num fala"

Que "nóis é" boliviano!


Euxinguxatuduxingu!

Eupirucupirarucu!






Robertson Frizero Barros

 

Novíssima Canção do Exílio

 

Não sei bem, Deus, se ainda quero

que me leves para lá.

Sei apenas que aqui,

distante da minha terra,

meu bairro de infância

ganha palmeiras imperiais

enormes, impolutas,

e nelas há até mesmo

sabiás que gorjeiam de verdade

ao sobrevoar várzeas, bosques e amores

que jamais viram meus olhos

de degredado sem volta.

Em cismar, sozinho, à noite,

mais prazer encontro eu lá...

Ah, amores! Oh, primores tantos!

Ah, céu tão cheio de estrelas!

Mas nada como um dia após o outro.

 

 

 

 

Uma Canção do Exílio

 

Terra tem palmeiras. Minha?

Canta o sabiá. Onde?

Que aqui gorjeiam? Aves?

Gorjeiam como lá? Não.

O céu tem mais estrelas. Nosso?

A várzea tem mais flores. Nossa?

Os bosques têm mais vida. Nossos?

Vida, nossa, mais amores?...

Sozinho, à noite, cismo em cismar:

prazer encontro eu lá? Mais

palmeiras... Minha terra tem

sabiá. Onde? Canta?

Primores, minha terra tem,

e tais não encontro; eu, cá,

em cismar — à sozinha noite —

mais me encontro lá. Prazer,

minha terra tem. Palmeiras,

onde? Canta o Sabiá.

Permita Deus que eu morra; não

sem que eu volte para lá.

Primores, que os desfrute por cá.

Que ainda aviste as palmeiras sem

o sabiá — que canta onde?

 

 

 

 

 

 

Rodrigo de Souza Leão

 

Gaiola

 

um sabiá sem saber onde pousar

pássaro a teimar contra o vidro

 

palmeiras não têm galhos

minhas asas não têm penas

 

no teu seio, mil sabores

nos teus olhos, mil colores

minha vida, só algemas

 

uma garça voa sobre a lagoa

 

 

Rodrigo de Souza Leão
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Rogério Miranzelo

 

Canção Destorcida

 

Minha terra tem Parreira,

Onde plana o Dadá;

Os craques que aqui lampejam,

Não lampejam como lá.

 

Tem camisa de estrelas,

Pelada em Várzea das Flores;

Mas meu time nesta vida

É preto e branco de amores.

 

Brilharam dias e noites,

Garrincha, Zico e Pelé;

Minha terra tem reinados:

Reinaldo, Ronaldos, Romário.

 

Minha terra tem pintores,

Rivelino, Falcão e Kaká;

Tem maestros e trovadores,

Ademir, Cerezo e Didi.

Minha terra tem Telê,

Onde pousa o Dadá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem ver meu Galo ganhar.

 

 

Rogério Miranzelo
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Ronaldo Costa Fernandes

 

Canção do Exílio

 

Minha terra tem leite condensado de angústia

onde na câmera escura do castigo

se revelam as imagens negativas.

Minha terra têm pernas que, na madrugada,

caminham sem cabeça.

As pernas que tenho já não caminham como lá.

 

Minha terra tem espelhos com reflexos condicionados

que só sabem multiplicar.

Mas o espelho mostra o mundo

ao contrário que ainda persiste por cá.

 

Deus, não deixe que antes de morrer

eu volte para minha infância

com pernas sem cabeça,

a imagem negra da câmera escura,

e espelhos matemáticos a me assombrar.

 

 

Ronaldo Costa Fernandes
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Contos

 

 

 

 

 

 

Rosa Pena

 

*

 

Em sonhar, sozinha, à noite,

teimo em contigo estar.

Entre minhas coxas uma palmeira,

que adora teu sabiá!

 

 

Rosa Pena
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Crônicas

 

 

 

 

 

 

Rosane Villela

 

Exílio de Amor

 

Meu sabiá me cantou
que ele ia para longe
onde nem um dia o vento
lhe tocaria a sua fronte.
 
Fiquei cismada com aquilo
dancei no aflito da situação
mesmo quando um entendido de pios
me disse que o sabiá não ia não.
 
A sua gaiola não era de ouro
nem a porta tinha tranca
e eu pensava que só a minha brisa
lhe bastava à vida manca
 
sem palmeiras e sem gorjeios
dos outros sabiás...

 

 

Rosane Villela
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Rose Felliciano

 

Minha Terra Tem Sonetos

 

Tem meus passos, tuas ruas

E como nelas andei...

Amei em noites de lua,

Nas nuas brisas, despertei...

 

O teu céu é de um azul diferente

As estrelas são confidentes

Carregas meus sonhos, minha vida

Pelas tuas avenidas a desfilar....

 

És tão bela, minha cidade

Que mesmo em lindas viagens

Sinto saudades de ti...

 

Em nenhum lugar desse mundo

Haverá porto seguro

Como o que tenho aqui...

 

 

 

 

 

 

Rubem Braga

 

*

 

Se eu dissesse que cantava, mentiria. Não cantava. Estava quieto; demorou-se algum tempo, depois partiu.

 

Mas eu presto meu depoimento perante a História. Eu vi. Era um sabiá, e pousou no alto da palmeira. "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá". Não cantou. Ouviu o canto de outro sabiá que cantava longe, e partiu.

 

Era um sabiá-laranjeira, de peito cor de ferrugem; pousou numa palmeira cheia de cachos de coquinhos, perto da varanda. Ouviu um canto distante, que vinha talvez dos pés de mulungu. Sabeis, naturalmente: é agosto e os mulungus estão floridos, estão em pura flor, cada um é uma grande chama cor de tijolo. Foi de lá que veio um canto saudoso, e meu sabiá-laranjeira partiu.

 

Mas ele estava pousado na palmeira. Descansa em paz nas ondas do mar, meu velho Antônio Gonçalves Dias; dorme no seio azul de Iemanjá, Antônio. Ainda há sabiás nas palmeiras, ainda há esperança no Brasil.

 

 

 

 

 

 
Sá-Poty


A Culpa É de Gonçalves Dias


Havia festa supimpa

em casa de seu doutor

um jantar do outro mundo,

lindo baile encantador.


Alguém lembrou não sei como

fizessem recitativos

afugentando da sala

alguns poetas esquivos.


Por fim o Souza promete

alguma coisa dizer

e a gente sem outro jeito,

se prepara pra sofrer.


Em torno ao piano se agrupam

várias meninas, em fila,

e a Carlota endiabrada

começa a tocar a Dalila.


O Souza tempera a guela

e grave começa assim:

— Minha terra tem palmeira

e tem também Palmeirim.


[Jornal do Recife. Recife: 23 de julho de 1933, ed. 00164]






Sabrina Taury

 

Canção de Fuga

 

Minha terra tem bandidos

Lá não posso mais morar

Já tiraram a minha casa

E nem morto eu volto lá.

 

Nosso céu já está farto

Cheio de vítimas inocentes

Nossos bosques viraram cemitério

Descanso para aqueles indigentes.

 

Se sair sozinho à noite

Posso ver na imensidão

Luzes que atravessam o céu

Tiros que percorrem a escuridão.

 

Não permita Deus que eu morra

Vítima de um tiro perdido

Ou que seja confundido

Com um demente ou um bandido.

 

 

 

Canção de Retorno

 

Sinto falta da minha terra

Do meu cantinho, onde canta o curió

Do meu bosque, à sombra da mangueira

Da vida pra qual não posso mais voltar.

 

Passo as noites sozinho

O carnaval, as estrelas;

Visões do paraíso

Primores que não mais verei.

 

De dia, também fico triste

O futebol, o sol

Alegrias que não mais viverei.

 

Queira Deus que eu não morra

Antes de dar uma última "espiadela" lá

Que eu ainda veja minha terra onde canta o curió.

 

 

 

Apenas Canção

 

Minha  terra tem axé, forró e blablablá.

Tem dança de salão, lambada e lá, lá, laia.

Mas o que tem que nunca vou esquecer

São loiras e morenas que dançam até amanhecer.

 

Em cismar, sozinho, à noite

Na balada vou procurar

As músicas da minha terra

Os imortais que sabiam cantar.

 

Do romance até o rock

De MPB até o pop

Só a minha terra tem a Bossa

Sem falar no samba, ia, ia.

 

Meus salões têm mais estrelas

Como as chacretes do Velho Guerreiro

Do Rei Roberto Carlos,

Até o louco que canta no banheiro.

 

Não permita Deus que eu morra

Em imenso silêncio profundo

Que eu possa escutar as músicas da minha terra

Enquanto dou meu último sussurro.

 

 

 

Algum Cantar

 

Na minha terra não encontro mais a palmeira

Onde cantava o sabiá

Não sei onde posso encontrar a andorinha

Nem sei mais onde posso procurar.

 

Minha terra tinha aves

Que o explorador dizimou

Foi tanta caça e tanta gana

Que a vida se expirou.

 

Se acordar, sozinho, à noite

A coruja não vou escutar

Nem vou ouvir o prelúdio

Do galo selvagem a cantar

 

Não permita Deus que eu morra

Antes de aos meus filhos mostrar

Ao menos uma quase extinta palmeira

Com um sabiá a cantar.

 

(2002)

 

 

 

 

 

   

Saliva

 

Canção de Exílio Moderno

 

Nessa terra sem madeira,

Onde tinha sabiá,

As aves, que aqui ficavam,

Foram levadas para lá.

 

Nesse céu sem estrelas,

Nessa várzea sem flores,

Nossas florestas sem vida,

Vivendo aos prantos e dores.

 

Sem dormir uma só noite,

Sem prazer de cá ficar,

Nossa terra sem fronteiras,

A antiga terra do sabiá.

 

Naquela terra de mil valores,

Fauna e flora não têm mais lá,

O dia virará noite,

Meu passado ficou lá,

Aquilo virou só poeira,

De lá se foi o sabiá.

 

Não permitirei que essa terra morra,

Na esperança dela se regenerar,

Comer dos frutos de lá plantados,

Que não nascem por cá,

Replanto a floresta de boas madeiras,

E o sabiá volta a cantar.

 

 

 

 

 

 

Sandro Fortes

 

Do exílio

 

tem palmeiras

onde

 

as aves

 

que gorjeiam

não gorjeiam.

 

Sandro Fortes

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Sérgio Milliet


Um poeta canta o Rio, 1958


Minha terra tem palmeiras... Pois sim! Viraram palmito, foram enlatadas e deglutidas em empadas. E onde gorgeiam agora as aves? Porque a terra, hoje, tem arranha-céus abafados, calçadas cheias de buracos, sujeira nas ruas sem água. Postes em lugar de árvores e discos em vez de passarinhos. Mas o poeta continua a cantar palmeiras e sabiás. Cego à realidade? Não, que os melhores versos de Vinicius de Morais dizem do Rio moderno. O que o antigo lhe inspira é a modinha dos bons tempos e um sorriso de comiseração para os saudosistas.


A cidade mudou. Para pior? Para melhor? Não é bem isso: mudou simplesmente, como mudam todas as coisas, como a gente muda. Não há como desprezar o presente só porque não se assemelha ao passado: é erro de quem descuida de viver. E isso é tão grave que o caboclo diz "descuidou" de quem morreu sem moléstia aparente.


Uma doce saudade, entretanto, não é de envergonhar. Há momentos que de bom grado a gente veria repetirem-se. O sinal da decrepitude próxima não está nessa inovação de gostosura, está é na preocupação valorizadora do passado pelo passado, na tomada de posse da memória pelas datas e nomes de nenhuma significação.


Em Vinicius, o passado não se associa ao presente, num lamento mais ou menos árido, e sim numa afirmação sadia:


Laranjeira pequenina

carregadinha de flor

eu também estou dando pássaros

eu também estou dando flores

eu também estou dando frutos

eu também estou dando amor.


Vinicius canta amorosamente o Rio. Como Afranio Zuccolotto canta S. Paulo em "Porto Geral". Este é mais enxuto, mais discreto, na sua declaração de amor. Aquele, bem tropical, extrovertido, algo enfatuado como todo metropolitano que se preza, a olhar de cima para os provincianos. Sua definição do carioca é característica: é ter humor, malícia, nobreza sem exibicionismo, bondade sem afetação, indiscutível e evidente superioridade de espírito enfim... A esse felizardo Deus quis dar o mais belo dos presentes... a mulher carioca: a que tem


... um corpinho

Que mais ninguém tem

Ela faz um carinho

melhor que ninguém

Ela tem um passinho

que vai e que vem

Ela tem um jeitinho

de nhen-nhen-nhen, nhen.


Nem a fibra de gaúcha, nem o encanto da mineira, nem a "erva" da paulista, nem as qualidades muitas de todas as demais valem


O que ela tem, tem, tem.


O "Roteiro Lírico" publicado em o "Mundo Ilustrado" (05/02/58) é delicioso de leveza e de meiguice. Brejeiro, simpaticamente malandro, pode erguer-se por vezes a um diapasão muito alto, alcançar esse tom da autêntica poesia sem a qual uma existência "seria incompreensível":


... a velha lua


Ficava do seu nicho me assistindo beber e eu muita vez a vi luzindo no meu copo de uísque, branca e pura 


... a destilar tristeza e poesia...


Essa fala é de um Villon (ou Verlaine) com sotaque brasileiro.







Silas Correa Leite


Minha terra tem Corinthians, onde canta a Rita Lee, 1995

A Rita Lee é a verdadeira Sabiá de Sampa, nesses 450 anos de muitos forfés e gandaias, críticas e invencionices, exageros e mentiras. Irreverente ela é, um baú de paradoxos, que troça até mesmo do marido-vítima (acha-o mais "esquisito" do que o Michael Jackson) e já teria, segundo as boas más línguas, apanhado dele, quando tava numa larica daquelas... (Ave Sampa — os que vão sobreviver são saúvas...)

Pois é, nessa Sampa de campos & espaços — panamérica de áfricas utópicas (Caetanear, por que não?) — de Anchieta a Tom Zé, de Mário de Andrade a Adoniran Barbosa, de tantas riquezas injustas, lucros impunes (muito ouro e pouco pão) é a mãe-do-rock Rita Lee quem deu o tom, na passarela de nossas liras paulistanas. Ainda bem.

Nesses tempos bicudos, em que a Marta Light do PT, depois de um tucanato amoral e decadente, mostra a cobra e investiga os antros, lutado contra a máfia dos transportes, dos fiscais, dos perueiros, do contrabando informal, dos camelôs e também por isso vem sendo levianamente atacada por promotores açodados pela decadência do tucanato, a Augusta Sampa comemora 450 anos e temos muitas razões para comemorar, apesar de tantas históricas dívidas impagas desde a libertação dos escravos, depois desde o dia da mentira da canalha de 64, e depois de FHC, o Pai da Fome que, como ex-sociólogo, sequestrou o sonho de justiça social de milhões de incautos eleitores-amebas que acreditam numa fraude eleitoreira chamada plano real...

Depois de obras faraônicas, superfaturadas, de túneis inúteis e suspeitas de desvios de altas verbas no Rodoanel, a Marta do PT tomou posse da bomba (herança de más gestões anteriores) e mostrou fibra, raça, lutando contra máfias, quadrilhas e reacionários babaquaras. E vem dando um show.

Embelezou Sampa. Reformou avenidas abandonadas, estruturou escolas, inaugurou unidades de educação e lazer em tempo integral, tirou camelôs do centro velho, reformou essa cidade cheia de totens, arranha-céus, mas com pouco conteúdo sociocultural. A cidade ganhou forma. Também, é claro, criou taxas para obrigar um lado do povo sem cultura a sentir o peso da falta de educação no bolso, foi criticada, vaiada, mas colocou o pé na lama, sentiu os contrastes sociais, as resultantes de seculares dívidas impagas, e, determinada, coerente, limpa e límpida, dá de dez a zero no insosso governo do estado que, tachado de Picolé de Chuchu pelo Zé Simão da Folha de S.Paulo, que em nove anos de desgoverno não fez nada, faliu a educação pública, quebrou a segurança pública, parecendo que, quem ainda está no poder é o Mário Covas, tal a situação do estado como um todo. Mas, com Marta Suplicy, a Augusta Sampa ainda resiste, com apoio, claro, do light Lula do PT Federal. Nota Dez pra Marta!

A festança prometeu e foi um show. E a Rita Lee foi o clímax do ágape público. A grande metrópole, uma das maiores e mais populosas do mundo, ainda se enfeita, com apoio financeiro de verba pública, de entidades internacionais de renome, de empresários que aqui ganharam dinheiro e assim bancam eventos e criatividades por atacado. O povão adorou vai adorar a sequência de forfés.

Nunca, em tão pouco tempo, São Paulo sentiu firmeza em acreditar em mudanças que ocorrem desde que a atual gestão tomou posse. Claro que, a gritaria de antros de corrupções e babaquaras adversários de ocasião contam, fazem alarido de hienas neoliberais incompetentes e corruptas, mas a cidade resiste e agradece ares novos e tempos novos. Estilo rouba mas diz que faz? Vade retro! Nunca mais.

Os tempos são outros. A esperança venceu o medo em todos os sentidos. A cidade respira luz, belezuras. Nem privatizações-roubos, nem estatizações de curriolas, mas humanismo de resultados. Sorri, a periferia que foi beneficiada. Ainda bem.

O Ibirapuera tem agora um marco de multimídia de primeiro mundo.

Forfés que multiplicam criatividades e opões viçam pelaí. Esse aniversário foi um show e vai ainda dar muito o que falar, pra gaiato nenhum pôr defeito. Há festins para todos os gostos. Essa Sampa que é um Brasil dentro do Brasil: onde corre mais grana do que em todos os demais países da América do Sul (e mesmo de alguns países da Europa), vai fazer valer sua fama, seu charme, inclusive dentro do que preconizou a máxima de Caetano sobre essa cidade-força que ergue e destrói coisas belas. Assim seja.

Turistas ainda aportam aqui, oriundos do Brasil todo. Da América pobre toda. Do exterior também. Museus e universidades lotadas de mostras, projetos, usinas de arte-criação. O Mestre Picasso e existem outros. clubes em festa. Shows populares nos quatro cantos dessa paulicéia desvairada. Eu, por mim, já andei inscrevendo livros, participando de concursos, sondando participações, pois, mesmo que andorinha sem breque, da Estância Boêmia de Itararé, sendo um migrante vencedor em Sampa, cá deixei minha marca, meu rastro, minha impressão existencial-sentidora.

Ganhei prêmio na USP, na Biblioteca Mário de Andrade (Poema Para Uma Grávida Tomando Cerveja num Bar do Bixiga) e estou no contexto, tendo participado de cursos, eventos, dando entrevista na TV Band, no Metrópole (TV Cultura), e ainda lutando para realizar minha lenda pessoal nessa cidade grande que nos dá cursos, currículo, prêmios, bens, mas também nos cobra a determinação, a mágica do novo, a arte-ofício de estar sempre alerta, quer pelo sensível, quer pela construção do inédito, quer pela sobrevivência por causa de heranças nefastas de impunidades generalizadas desde os hediondos tempos da canalha de 64, até um Plano Real que faliu a classe média, e que atira os rejeitos sociais da periferia S/A nas escolas públicas, e em becos, cortiços e guetos de todos os naipes. Essa é Sampa. Difusa e contraditória. Paradoxal e antagônica. Alegre e perigosa. Com Rita Lee, claro. Rica e com zilhões de descamisados, a capital das favelas, tudo isso numa soma, num liquidificador de ideias com lucros e perdas, predações, danos.

Pensemos a data. Olhemos os excluídos sociais. Oremos e vigiemos. E façamos parte desse Carnaval Temporão, dessa Micareta de Sampa que é seu niver cheio de graça. E que venham também conquistas sociais, reformas estruturais, sem obras faraônicas, supérfluas e superfaturadas: a apuração dos desvios de verbas públicas desde a Avenida Águas Espraiadas até a lama do Rodoanel e as privatizações-roubos. Sem trocadilho, a Marta Light do PT tem peito pra isso, com a Polícia Federal de retaguarda, com o governo federal de base, para que a festa seja mesmo nossa, de todos nosotros que aqui fincamos pés e queremos uma São Paulo justa e sem o miserê de herança de suspeitos planos econômicos que engordaram cofres bancários e engodaram eleitos incautos.

Dá-lhe Sampa. Ave Sampa! O Haiti é aqui? Nem sempre. Mas a Rita Lee é aqui! Sampa, sai de baixo!



Silas Correa Leite

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Taiguara

 

Terra das Palmeiras

 

Sonhada terra das palmeiras

Onde andará teu sabiá?

Terá ferido alguma asa?

Terá parado de cantar?

 

Sonhada terra das palmeiras

Como me dói meu coração

Como me mata o teu silêncio

Como estás só na escuridão.

 

Ah! minha amada amortalhada

Das mãos do mal vou te tirar

Pra dançar danças de outras terras

E em outras línguas te acordar.

 

 

 

 

 

 

Thássius Veloso

 

Canção do Martírio

 

Minha terra tem aeronaves,

Que não podem decolar;

As poucas que decolam,

Não conseguem chegar lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nosso exército tem mais dores;

Nossos aeroportos têm mais filas,

Nossas filas mais temores.

 

Em tentar, sozinho, a sorte,

Nem jatinho vou encontrar;

Minha terra tem aeronaves,

Que não podem decolar.

 

 

Thássius Veloso
Na
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Memórias Fracas

 

 

 

 

 

 

Torquato Neto & Gilberto Gil

 

Marginália II

 

Eu, brasileiro, confesso

Minha culpa, meu pecado

Meu sonho desesperado

Meu bem guardado segredo

Minha aflição

 

Eu, brasileiro, confesso

Minha culpa, meu degredo

Pão seco de cada dia

Tropical melancolia

Negra solidão

 

Aqui é o fim do mundo

Aqui é o fim do mundo

Aqui é o fim do mundo

 

Aqui, o Terceiro Mundo

Pede a bênção e vai dormir

Entre cascatas, palmeiras

Araçás e bananeiras

Ao canto da juriti

 

Aqui, meu pânico e glória

Aqui, meu laço e cadeia

Conheço bem minha história

Começa na lua cheia

E termina antes do fim

 

Aqui é o fim do mundo

Aqui é o fim do mundo

Aqui é o fim do mundo

 

Minha terra tem palmeiras

Onde sopra o vento forte

Da fome, do medo e muito

Principalmente da morte

Olelê, lalá

 

A bomba explode lá fora

E agora, o que vou temer?

Oh, yes, nós temos banana

Até pra dar e vender

Olelê, lalá

 

Aqui é o fim do mundo

Aqui é o fim do mundo

Aqui é o fim do mundo

 

 

 

 

 

 

Trixie Hachi-Roku

 

*

 

Minha terra tem corruptos roubando adoidado

A cada eleição votamos em algum *****

Não permita Deus que isso se estenda

Antes que eu entenda

Os mecanismos que nos tornam tão loucos ou tolos

 

Tá chegando eleição e todo mundo quer sua fatia do bolo

Sergio Malandro, Gretchen, Lacraia que até cheira a mofo

A Marta relaxa e gosa

O Alquimim sorri e ri

O Maluf estupra mas não mata

A Soninha dá soninho

O Kassab é tão esperto que nunca vai ser cassado

E eu que se não trabalhar

O patrão me manda embora

Chego ao final desses versos

Rezando ao Deus e ao Diabo

Pra comer essa noite pelo menos um quiabo

Amém.

 

 

 

 

 

 
Um Maranhense


Versos na Inauguração da Estátua de Gonçalves Dias, 1873


O seu vulto ali vejo! Transparece-lhe

Na fronte augusta a nobre inspiração!

Tem-lhe, há muito, rendido vassalhagem;

Mas de novo prestar — vero homenagem

A seu grande Cantor o Maranhão.


Que hino harmonioso o mar envia!

Que cantos festivaes a brisa entôa!

Não sabeis!? É que hoje aos pés do génio,

Neste plaino risonho por proscénio,

Vem-lhe o povo trazer — a sua coroa.


Bem do peito, espontâneo é o tributo.

De versátil lisonja não nasceu:

Não é mais esse vulto um ser humano:

Lá ficou entre as dobras do oceano.

Entre as brancas espumas se escondeu...


Mas quem era?... Entre nós com lira d'ouro

Nas magoas ensinou-nos a sofrer,

De seus lábios perenes dimanavam

Melodias que o peito inebriavam

E o alento faziam reviver.


As belezas da Pátria com seus versos

Da Europa ás nações ele mostrou;

Nossas ínvias florestas penetrando,

Foi seu estro qual sol illuminando 

E os índicos mistérios revelou.


Lá do bosque no fundo, entre os palmares,

O índio fero atravessou veloz...

Nós, de susto transidos escutamos

Entre os gritos de dor dos gaturamos,

Do boré e da inubia a rouca voz.


E os grandes esquadrões de peito a peito

— Homéricas visões! — pudemos ver.

Dos golpes ao embate, a penedia,

As florestas, o céu estremecia.

Ia o sol entre nuvens se esconder.


Depois, com que magia os outros quadros

Em que tudo é encanto e só primor!!

Onde acaso soou mais eloquente

Dá magua e da paixão o verbo ardente?

Quem melhor traduziu o que era amor?!...


Sim exulta, poeta, e aceita ufano

Os louros de esta esplêndida ovação.

Já há muito rendeu-te vassalhagem

Mas vem hoje prestar nova homenagem

A seu grande cantor o Maranhão.






Valéria Fagundes

 

Minha Terra

 

Minha terra por ventura

merece tal descrição

lá a vida é menos dura

qualquer um lhe estende a mão.

 

O céu é menos cinzento

lá não tem poluição

só existe um argumento

que me parte o coração.

 

Ver o povo madrugar

e seguir para o roçado

mas se a chuva não chegar

perde-se o que foi plantado.

 

Eu agora exilada

só me resta descrever

aqui não encontro nada

que me motive a viver.

 

Mas falar da minha terra

ah, isso me dá prazer

E mesmo aqui tão distante

tenho algo a pedir.

 

Quero agora, neste instante

voltar para Manari

pois eu não quero morrer

sem de lá me despedir.

 

 

(N. E.: Valéria Fagundes recitou esse poema no final do filme Pro Dia Nascer Feliz, documentário, direção de João Jardim, 2006.)

 

 

 

 

 

 

Vanderson Teófilo F. da Silva


Sem Título







 

Vestibular

(dica pra memorizar a equação trigonométrica)

 

*

 

Minha terra tem palmeiras,

onde canta o sabiá;

seno a, cosseno b,

seno b, cosseno a.

 

 

 

 

 

 

Vinicius de Moraes

 

Pátria Minha

 

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

 

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

 

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

 

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

 

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

 

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova

                                                                   [Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

 

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

 

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

 

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

 

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

 

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

 

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

 

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes".

 

 

Vinicius de Moraes

Na Web

> Site Oficial

 

 

 

 

 

 
Wilson Bueno


Canção sem Fronteiras


minha terra tem palmeiras

onde canta o sabiá

que sei eu desta saudade

se estou sempre por chegar


caso flores encontre eu cá

pétala estrangeira, pomar

com novos nomes de flores

o mesmo nome de flor aqui lá


viajo livros, histórias, metáforas

mares, planos, plantares, diásporas

neste arquipélago que nunca vi

junto uma a uma todas as ilhas em si


minha terra tem países, fronteiras,

fugas, homens, sons, conversas

é nela que moro e em seu universo



Wilson Bueno

Na Germina

> Minicontos







Wilson Roberto de Carvalho Almeida

 

Canção do Martírio

 

Minha terra tem malária,

onde estão a desmatar;

os índios que aqui garimpam

matam branco pra roubar.

 

Nossa mata tem fogueiras,

o pantanal, maus odores,

nossos bichos têm doenças,

nosso povo tem mais dores.

 

Em lembrar, sozinho, à noite,

mais tristeza sinto eu cá,

o menino inda tem dengue

e não tem onde curar.

 

Minha terra tem horrores

quais tais em qualquer lugar,

mas lembrar, sozinho, à noite,

faz tristeza eu sentir cá.

Minha terra inda tem valas

pra mosquito procriar.

 

Não permita Deus que eu morra

sem tudo se consertar;

sem que deixe pra meus filhos

lugar melhor pra se morar;

sem qu'eu volte a ver palmeiras

onde pouse um sabiá.







Xerém


No Ceará Tem, 1949


É coco de lá de lá

É coco do Ceará


Na minha terra tem coqueiros

gorjeando o sabiá


Na minha terra tem Iracema

de José de Alencar


Na minha terra tem caboclos

violeiros a cantar


Na minha terra tem rendeiras

sentadinhas a rendar


Na minha terra tem carnaúbas

que dá cera como não há


Na minha terra tem no mar

Jangadeiros a pescar


Na minha terra tem boiadeiros

de gibão a campear


Na minha terra tem belas noites

encantando o seu luar


Na minha terra tem tapioca

tem beiju tem mungunzá


Na minha terra tem bravios

verdes mares de encantar


Na minha terra tem morenas

que dá gosto de se olhar


Na minha terra tem gostoso

caruru e vatapá


Na minha terra tem garapa

de aluá pra se tomar


Na minha terra tem saudades

Dos distantes filhos de lá.






Zedio Alvarez

 

Minha Terra

 

Uma homenagem à Petrolina-PE, terra em que nasci

 

Na minha Terra também tem palmeira,

Onde os sabiás cantam todos os dias.

As passaradas voam no ciclo da felicidade

Transformando tudo, em doces melodias

 

Das filhas de Francisco, és a mais bela.

Toda a tua escultura é exuberante

Tuas lendas vivem fazendo sinfonias

Fazendo da tua aura, uma infinita aquarela.

 

O velho Chico tem ciúmes de ti

Mas guarda tudo em segredo...

As águas dele, passam ligeiras...

Loucas para falarem asneiras...