[imagem original ©governo do estado de são paulo]

 

 

 

 

 

 

A. Zarfeg

A Rua

 

 

[Leitura do poeta Leonardo de Magalhaens]

 

 

A. Zarfeg

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Ademir Assunção
Megamoderno

 

 

 

 

Ademir Assunção

Na Germina

> Risca Faca

 

 

 

 

 

 

Adolfo Cifuentes

Retrato Construtivista

 

 

 

 

Adolfo Cifuentes

Artista visual e fotógrafo, docente UFMG (EBA, Escola de Belas Artes).

 

 

 

 

 

 

Adri Aleixo

Rios da Babilônia

 

 

Para Maria Valéria Rezende

 

 

Que não me impeçam os antúrios

eu vou ali acender um humano

e volto

de lá, cantarei meu rio com a harpa

não chores, tu que ficas

o mundo é travessia

deixarei encharcadas suas raízes:

antera, carpelo e sépala

levarei a ideia da casa, o calor da cidade

os móveis dispostos em círculo

feito o rabo da gata ao lado do fogão

 

 

Adri Aleixo

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Adriana Versiani

Modernistas Modernos

 

 

Na era dos cancelamentos

os antropófagos

engolem tudo

C A L A D O S

 

 

Adriana Versiani

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Adriane Garcia

Antropoceno

 

 

 

 

Adriane Garcia

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Afonso Guerra-Baião

DE 22 A 22 – DO BREJIL AO PANTANAZI

 

 

O sapo bufão

bufa seu refrão:

— Oi! Sou sapo-boi!

E em coro os cururus:

— Boi ladrão!

— Eu sou sapo rei,

grita o tanateiro,

rei, tá oquei?

— Rei do seu gado,

rebatem na veia

as rãs-verdadeiras.

— Não minto, sou mito,

berra o sapocida,

bufão tanateiro.

— Mito que nada!

Sapo-boi de tiro

que mente e mata,

responde a saparia

amotinada.

— Sapo verdadeiro,

se gaba o bufador,

eu sou por inteiro.

E o sapal em vaia:

— Sapo-boi de cova,

rufião da morte,

rei da rachadinha.

— Rei de pau e pulso,

se proclama o bufo

com rei na barriga.

— Xô, pulsão de morte!

Fora, fu! Fuck you!

— explode a saparia

em pé de briga.

E o sapo pavê

de laranjas imorais

se desfaz em pó

malhado sem dó.

 

 

[A partir de "Os sapos", de Manuel Bandeira, e

"Ode ao burguês", de Mário de Andrade]

 

 

Afonso Guerra-Baião

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Alberto Lins Caldas

Delenda Carthago

 

 

 

 

Alberto Lins Caldas

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

AL-Chaer

novimento

 

 

envelhecendo

desde

mil movimentos e 63

 

moderno

a partir de

mil movimentos e 22

 

 

AL-Chaer

Na Germina

> Poesia Visual

 

 

 

 

 

 

Alê Motta

Fedor

 

 

Tem duas semanas que o corredor do nosso prédio fede. Achei que fosse lixo esquecido de algum vizinho, mas ontem de manhã o cheiro estava insuportável e de tarde já cheirava dentro da gente. Uma vizinha sentiu tonturas, desmaiou e outra vomitou ao sair para trabalhar.

 

Hoje estamos todos assombrados. Uns homens arrombaram a porta e retiraram o velho. Ele morava sozinho.

 

Era um viúvo zangado e brigão. Antipático. Mas ninguém merece morrer com as calças arriadas, cagando.

 

E ainda piora. No enterro só estavam os dois coveiros e eu. Não sei explicar porque fui. Acho que queria me livrar do cheiro que ainda está impregnado no nosso prédio. E nos cemitérios costuma bater um ventinho delicioso.

 

 

Alê Motta

Na Germina

> Contos

 

 

 

 

 

 

Alex Simões

números de guerra

 

 

137 pessoas morreram até ontem

em 3 dias de guerra na Ucrânia.

 

no Brasil, no ano passado, em média,

112 pessoas foram assassinadas por dia.

 

a população negra tem 2,7 mais chances

de ser assassinada do que a branca.

 

para os não negros brasileiros, a taxa de

homicídio é semelhante à da Rússia.

 

na guerra da Ucrânia, há 11 dias,

cerca de 360 pessoas foram mortas.

 

na paz da Bahia, no ano passado, a cada 11 dias,

cerca de 180 pessoas foram assassinadas.

 

no Iêmen, 24 milhões de pessoas

necessitam de suporte humanitário.

 

no Brasil, quase 20 milhões passam 24 horas

ou mais sem ter o que comer.

 

na guerra da Somália, em 2012, mais de 800 mulheres

foram estupradas entre setembro e novembro.

 

na paz do Brasil, em 2018, cerca de 16,2 mil mulheres

foram estupradas entre setembro e novembro.

 

na República Democrática do Congo, cerca de 1,3 mil civis

foram mortos em vários conflitos num período de 8 meses, em 2020.

 

no Brasil, entre 2017 e 2019, policiais mataram

ao menos 2.215 crianças e adolescentes no país.

 

a guerra na Síria deixou a marca de

56.900 desaparecidos em 7 anos.

 

no Brasil, mesmo na pandemia, foram registrados

62,8 mil desaparecimentos em 2020.

 

mais de 650 mil iraquianos foram mortos na guerra em 4 anos.

mais de 650 mil brasileiros foram mortos de covid-19 em 2 anos.

 

 

[27/02/2022]

 

 

Alex Simões

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Alícia Duarte Penna

Ode a Benedito

 

 

Teu corpo, Benedito, é o corpo mais bonito!

E que olhos, que olhos!

Meu deus, os olhos de Benedito!

Às vezes ficam verdes!

O nariz de Benedito!

A boca de Benedito!

O pescoço, o colo,

as toleimas, as tireoides,

as meias de Benedito

enternecem a quem quer que as veja!

Os pés de Benedito!

São feios, mas que falanges!

Que falácia esta ode que por ora a ti ofereço, meu Benedito,

quando tu és o corpo mais bonito!

 

 

[Este poema, publicado em Duo terno e gravata (edição independente, 1984) e Quarenta poemas e dez (Scriptum, 2012), foi musicado por Gil Amâncio e, depois, por Eduardo Guimarães Álvares]

 

 

Alícia Duarte Penna

Na web

> Alícia Duarte Penna

 

 

 

 

 

 

Amanda Vital

flor e náusea

 

 

há sempre uma pequena flor em todo canteiro

que brota sem ser semeada: geralmente na cor

amarela, tem as folhas encrespadas, escuras e

murchas, o caule curtíssimo, pétalas frágeis ao

toque. nasce nas quinas, entre terra e concreto,

atrás das plantas pré-planejadas nos escritórios,

sem os devidos requisitos, de penetra, entrona.

 

a vida miserável dessa flor: ver todas as outras

vistosas, bonitas de nascença, a tomarem-lhe o

sol, o prestígio. invisível nas quinas, removida

na centralização das fotografias, vez ou outra é

arrancada para morar atrás da orelha das moças,

no máximo ser a pequena flor-de-intervalo dos

buquês. tão feinha, meu deus, e tão imprestável.

 

hoje em dia põem tanta esperança na rebeldia

como se fosse a coisa mais potente que existe.

existir, até existe, a flor rebelde: uma vida toda

a murchar na fissura, a fazer manobras abaixo

do solo para tentar fincar raízes entre as raízes,

em cima e embaixo sempre a mais fraca, a mais

feia, a mais incapaz. tão teimosa, a flor amarela,

 

dorme e acorda a convencer-se de seu propósito

no mundo: resistir. porque é só isso que sobra, o

resto é conversa, o bom perfume está catalogado,

a beleza está catalogada, e o desejo é prescritivo.

o que resiste é a natureza dos seres feios: os cães

estrábicos, os limões deformados, bactérias raras,

mulheres como eu, infelizmente. e flores amarelas.

 

 

Amanda Vital

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Ana Caetano

Sem nome

 

 

 

 

Ana Caetano

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Ana Elisa Ribeiro

Duas estrofes adaptadas

 

 

I. Bruxas

 

 

mulheres de bons cabelos

lisos, pelas espáduas,

perfeitas em seus contornos;

de vergonhas e peitos nus,

mas capazes de argumentar.

 

 

 

 

II. Oração a São Longuinho

 

 

Valei-me, santo,

três pulinhos no abismo

para que mantenhas meu marido

bem longe e bem perdido.

 

 

Ana Elisa Ribeiro

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Ana Paula Dacota

Nas asas das mãos

 

 

 

 

Ana Paula Dacota

No Instagram

@anapauladacotabh

 

 

 

 

 

 

André Luiz Costa

ensaio sobre o fim das estátuas

 

 

em cima da mesa outra espécie

de natureza morta

aguarda a contagem dos dias

 

observamos o mármore e o metal

por onde escorrem substâncias líquidas

sem desperdício ou modificação

 

observamos o que não se perde

no entanto perdemos

a cada segundo

 

dos pés em bronze uma sorte

não caminham mais

nem as mãos nem a boca

a paisagem o dia — nada

 

nem o sol queimando a pele

 

é importante pensar que o fim

chegará sem treinamento

 

o corpo irá testemunhar sozinho

que nada é fixo no centro

da rotação

 

 

André Luiz Costa

No Instagram

@anluizcosta

 

 

 

 

 

 

Andréia Carvalho Gavita

No que você está pensando?

 

 

Segunda, 19h45

 

Cansada,

me finjo boba,

cubista, expressionista

quando o homem amarelo

no púlpito do jornal

internacional

discursa em retórica fálica

a fábula do abaporu

 

[Alguém está digitando um comentário]

 

Segunda, 20h56

 

Moderninha na rede social

ilustro a mágoa

mimetizando uma selfie do Leo

Legendo no status da monalisa:

— Basta de expor

a carne operária

em pietás imaculadas

ou pérola de brinco

intelectual

 

[Alguém está digitando um comentário]

 

Terça, 02h17

Vem um tarsilinha revisitado

me contrariar

dedilhando com anéis de prata

na fileira magra

do pão

— ÍCONE NÃO É PARA SUBURBANAS

 

[Alguém está digitando um comentário]

 

Terça, 06h22

 

Esqueço a postura diplomática

e devolvo o caps lock:

— DECLAMO UM FUNK

NA TUMBA

DE MÁRIO ANDRADE

e ele gosta.

 

[Nenhum comentário]

 

Passo o dia tranquila,

abstrata, concretista.

(O defensor do cânone dorme

durante meu expediente.)

 

[que tiro foi esse?]

 

 

Andréia Carvalho Gavita

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

 

 

Angelo Mazzuchelli

VivAcidade

 

 

 

 

Angelo Mazzuchelli

Na web

> Bruma

 

 

 

 

 

 

Annita Costa Malufe

Sem título

 

 

a lua não se apoia em nada

eu não me apoio em nada

cato com a boca o resto das letras

uma sinuosidade

e então cato mordo uma ou duas letras que caem

eu não me apoio em nada é como se cintilasse uma fenda

a cada minuto uma e outra e mais outra fenda

uma sinuosidade estradas que fazem cotovelos

descer para o mar esticar os braços com o corpo na areia

uma sinuosidade na dobra de cada esquina

dizer bom dia boa noite mas eu não me apoio em nada

a lua não se apoia em nada ele não se apoia em nada

enquanto fala enquanto gesticula

cada dobra da língua é uma viagem caminhos

desconhecidos é estar na beira de um precipício suave

não se sabe qual a próxima imagem

uma lua dependurada por barbantes invisíveis

ela não se apoia em nada é estar jogado em um súbito

vácuo como seria acompanhar

a sinuosidade da serra e suas imersões?

como seria é o que ele diz rediz mas redizer

é novamente dizer pela primeira vez

descer para o mar pela primeira vez

esticar os braços e a areia não é a mesma

jamais debaixo das costas não há um apoio

as dobras da língua as cordas vocais há uma articulação

articule veja deste precipício o que avistamos

uma fenda é como uma cintilação breve ao mesmo tempo

eterna sem duração definida um espaço que se abre uma

sinuosidade seguir a estrada até o mar

dobrando os cotovelos do caminho uma sinuosidade suave

que não se apoia em nada

a lua não se apoia em nada

 

 

"a lua não se apoia em nada

eu não me apoio em nada"

Roberto Piva

 

 

Annita Costa Malufe

Na Germina

> Poesia

 

 

 

 

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