GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE
©olimpia zagnoli
 
 
 
 
 
 
 
 
 

*

 

● nada começa sem um ●

● acordo entre a beleza e a ●

● loucura ●

 

● essa fuligem essas horas ●

● isso perverso entre nos ●

● essa espessura ●

 

● nevoa por dentro de ●

● casa e esses passaros q ●

● não conseguem descansar ●

 

● noite onde a minuscula ●

● arvore morre ●

● bem longe da floresta ●

 

● como não ha chave nem ●

● sentido algum desenhei ●

● essa aranha em sua teia ●

 

● essa chuva de sangue q a ●

● terra bebe com gosto é a ●

● mesma dos sonhos ●

 

● destecida a hora o olhar ●

● nada trama o modelo se ●

● parte o riso se consome ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● esse mar devora ●

● nunca devolve ●

 

● quando é assim ●

● sem olho sem lingua ●

 

● apara garras ●

● arranca dentes ●

 

● esse mar amarra ●

● correntes de cracas ●

 

● na loucura da gente ●

● esse mar esse mar ●

 

● isso é de sempre ●

● quebra todos os ossos ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● digo no ouvido dele ●

● sentindo cheiro de sangue ●

● "!escuta bem" e ●

 

● longe o mar e ●

● bem depois ●

● inda mais distante ●

 

● aquilo q falo vendo escorrer ●

● vermelho sobre a pedra o q ●

● jorra da cabeça "!terra minha" ●

 

● sei q não ri sei q escuta ●

● depois enterro na areia ●

● molhada o corpo q ●

 

● agora treme e se ergue ●

● elevando os braços em pe ●

● como se buscassem a cabeça e ●

 

● gira os olhos ●

● encontrando meu olhos ●

● digo "!agora é tarde" e vejo os ●

 

● dele se abrirem mais e a ●

● boca travada os dentes se ●

● mordendo de odio a lingua ●

 

● sem nada poder dizer e ●

● ele vai fechando as palpebras ●

● porisso digo rapido "!adeus" ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● sabres ensanguentados calções ●

● coletes e mãos salpicados de ●

● sangue ●

 

● sem lua ●

● weimar incendiada ●

● iluminada por fogueiras ●

 

● na casa do poeta soldados ●

● rasgaram manuscritos ●

● guardados ●

 

● no meio dos escombros um ●

● bule de prata usado pra ●

● fazer cha ●

 

● numa sala queimada o musico ●

● olha o orgão despedaçado ●

● agora tudo é tão ridiculo ●

 

● "!os franceses minha filha ●

● ?o q vc queria ●

● !a vida é sempre assim" ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● klopstock tava na ●

● festa ao ar livre nas terras dos ●

● bovington ●

● quando entre sorvetes de ●

● framboesa começou a recitar ●

● seus poemas sobre a ●

● grande revolução e todos ●

● começaram a dançar e ●

● jogar e beber e comer e ●

● conversar com tanto furor q ●

● klopstock de tanto gritar ●

● perdeu a voz e se ●

● retirou como um ●

● gato molhado ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● sobre a rocha ●

● branca no oasis de al guseir ●

● nasir canta ●

● poemas de rimbaud ●

● q adora de cor e ri ●

● fechando os olhos de gozo ●

● porisso não ve ●

● quando o coronel ●

● allenby chega e ●

● fica ouvindo e vendo ●

● aquilo diante dele e ●

● calmamente ●

● tira a arma e explode a ●

● cabeça criança de nasir q ●

● rola da rocha ●

● branca no oasis de al guseir ●

● ate a agua e ●

● minusculos peixes ●

● correm pra devorar ●

● pedaços dos miolos e o ●

● sangue q se espalha na ●

● agua imovel ●

● branca no oasis de al guseir ●

● enquanto o coronel ●

● allenby da meia volta e ●

● pensa em descansar um ●

● pouco porq a tarde ta ●

● escaldante e ha em demasia ●

● mapas e documentos q ●

● merecem o devido respeito e a ●

● meticulosa atenção ●

● branca no oasis de al guseir ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● olhos verdes no ●

● mar de lesbos ●

● longe o barco e o ●

● vestido azul de seda ●

 

● logo a noite chega os ●

● ventos de outono ●

● dançam por dentro do ●

● quarto e vão embora ●

● pela janela aberta ●

● degustando o sol ●

 

● não se ve mais ●

● nem as velas e ●

● apenas a linha ●

● do horizonte cintila ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● entre o deserto e o ●

● rio na linha de ●

● papiros os faunos ●

● lambem o leopardo ●

● morto e pelo suor ●

● pelo orvalho de sangue ●

● evocam as ultimas ●

● horas entre chacais e ●

● hienas onde o ●

● caminho não se ●

● fez e agora podem ●

● voltar pra floresta e ●

● contar com flautas as ●

● razões da noite ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● sem esses porcos ●

● comendo nosso esterco ●

● suor esperma e placenta ●

 

● sem esses porcos ●

● q nos aquecem no frio ●

● q nos esfriam no calor ●

 

● sem esses porcos ●

● não haveria sangue ●

● não haveria musculos ●

 

● sem esses porcos ●

● não teriamos filhos ●

● não teriamos razão ●

 

● sem esses porcos ●

● não haveria casas ●

● moeda pão ou leite ●

 

● sem esses porcos ●

● nem sonhariamos o dia ●

● dos arenques defumados ●

 

● sem esses porcos ●

● não se tremeria ●

● nem a noite nem o dia ●

 

● sem esses porcos ●

● q devoramos ardentes ●

● não sei o q seriamos ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● mare alta ●

● maldorror ●

● mastiga essa vida ●

 

● feroz essa tristeza ●

● isso q nos devora ●

● maldorror ●

 

● floresta de olhos ●

● isso não é nada ●

● maldorror ●

 

● verde vermelho ●

● regurgita essas areias ●

● maldorror ●

 

● desertos demais ●

● isso sempre demais ●

● maldorror ●

 

● depois o sangue ●

● loucura q violenta ●

● maldorror ●

 

● palavras e palavras ●

● sem lugar pra dormir ●

● maldorror ●

 

● ?pra q dormir ●

● jamais pra sonhar ●

● maldorror ●

 

● esquece esquece ●

● nada é pra lembrar ●

● maldorror ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● ?aguardente ●

● com abacate ●

● ou com gengibre ●

● bem picado ●

 

● pergunta o barman ●

● piscando os olhos ●

● com incerto ●

● furor impreciso ●

 

● ?ou aguardente ●

● com grenadine ●

● açucar ou pessegos ●

● entre guardanapos ●

 

● diz o barman ●

● querendo cair ●

● num entredentes ●

● sem sentido ●

 

● ?ou quem sabe ●

● latiu o barman ●

● com pedaços ●

● de gelo e limão ●

 

● depois a rua ●

● e se fuder ●

● bem longe daqui ●

● rosnou o barman ●

 

 

 

 

 

 

*

 

● ha todo esse caminho ate o mar ●

● esses muros q se fecham ate o mar ●

● esse cheiro de cafe queimado até o mar ●

 

● isso são passaros boiando na maresia quente ●

● esses gritos esses latidos nessa hora quente ●

● não é nada mais q a fome nesse dia quente ●

 

● agora é apressar o passo o q passa até o mar ●

● q tudo chega e tudo parte antes de beber o mar ●

● depois nos resta viver tudo isso ate o mar ●

 

 

 

setembro, 2012
 
 
 
Alberto Lins Caldas. Escritor, publicou os livros de contos Babel (Rio de Janeiro: Revan,  2001) e Gorgonas (Recife: Cepe, 2008); o romance Senhor Krauze (Rio de Janeiro: Revan, 2009) e o livro de poemas Minos (Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2011). Mais em http://www.poemasalbertolinscaldas.blogspot.com.br e http://www.albertolinscaldas.unir.br.
 
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