drama barroco
para Marcelo Dolabela
a vil serpente oferece
em verso seu semblante
e o mistério enfadonho
do eterno significante
mas meu coração sabe e entristece
a palavra é um bem medonho
um novo tempo se avizinha
e meu olho não se sacia
de ver sob o sol de agora
a mesma melancholia
mas meu coração sente e adivinha
no devir do tempo o deserto afora
do paraíso brilha e fenece
a chama da passada gloria
e o destino em pensamento
atira pedras na memória
mas meu coração pensa e esquece
o paraíso é o esquecimento.
1997, livro Quatorze, coleção Poesia Orbital
rimas
vermelho
chorar de frente
para o espelho
espanto
contar a vida toda
e não era tanto
impulso
fechar o mar aberto
e cortar o pulso
2013
aviso
o medo
é um demônio triste
aceita barganhas
e todas as
artimanhas da
razão
o medo
é a voz que permite
abrigar nas entranhas
a estranha
semente da
solidão
2021
exit #10
let me find a way
in this stormy night
crystal drops
resembling stars
let me tell a story
before it is too dark
crispy memories
mimicking scars
let me try to say
I am far away
lonely
and the next day
will be another one
and the same
only
1998
dedicatória
para Artur Bispo do Rosário e John Cage
antes do caos
como era o vazio?
existe arte
fora da razão?
além do acaso
quem sopra o pavio?
existe música
fora do diapasão?
a consciência
por um fio
fabrica
a existência
em cada explosão?
2005
*
o futuro é
um fruto
maduro
olho aberto
no escuro
promessa
pura invenção
1999
errata
nem tudo que foi dito
é crédito
digno de estória
nem tudo que foi mito
é inédito
repouso da memória
nem tudo que eu repito
é mérito
ou grito de vitória
fevereiro 2007, Jornal Dez Faces #5
inventário
gravetas e poemas
gravatas e poupanças
grandes e pequenas
lembranças
2016, livro Inventário, Coleção Leve um livro
meu só amor
agora é tarde
e o final não se reparte
o que hoje é revolta
amanhã será
pó e arte
maio 1988, livros Babel (1994) e Inventário (2016)

1994

1994
QUEM
ME
D
ERA
SER
QUEM
QUIS
ERA
QUA
SER
EI
A
SUA
ES
P
ERA
2016

2019
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