Horácio Costa

 

Sobre Canários e Presidentes

 

Não sei porque ser contra a inspiração

O canário inspira

Assim como o capo em Brasília

E péssimo poeta ex-presidente

Inspira também

Neste universo de extremos

Entre o canto do canário

E José Sarney

Cose-se o poema

Não há porque não usar o verbo correto

Entre tais opostos

O verbo correto é poesia no indicativo e no subjuntivo

 

Hoje eu acordei com desejo de escrever

Sobre o José Sarney

Algo que não imitasse o que arrebenta

Nos jornais e perfura as consciências

E o canário deste poema

Não o vi ou há muito não o vejo

Talvez esteja prestando um tributo

À sua própria finitude

Engaiolado na varanda do zelador

Do Memorial José Sarney

Em São Luís do Maranhão

 

Acabou a inspiração

A imagem supra é bem ruim

E pior a realidade que em seu pior

Ela metaforiza

Assim não dá

Um poema sobre um canário

E José Sarney não é possível

Quod erat demonstrandum

É este poema sem inspiração

Que nasceu porque eu não queria

Repetir as manchetes de hoje em dia

Mas há ainda um destino a dar

A este pobre indivíduo canaril —

The Death of the King's Canary é um nonsense

De Dylan Thomas

Que eu li no México

Em 1987 justo quando

José Sarney em visita oficial

Fez saber a quem de direito

Que gostaria de ter publicados

Os seus Marimbondos de Fogo

Em alguma editora de lá

 

O telefone tocou era

Da Embaixada do Brasil

E me perguntaram

Quer traduzir José Sarney

Ao espanhol? pagamos bem

E a resposta negativa que lhes dei

Hoje me parece totalmente

Insuficiente

 

Eu deveria ter dito

Não posso porque estou

Com os meus canários

Sim me deleitando com

Os meus canários

Que aqui gorjeiam

Exatamente como lá

E faço isto porque

É uma excelente forma de esperar

Me ocupando de algo bom para o espírito

A ruína do Sr. Presidente

E péssimo poeta

Que algum dia

Certamente

Virá

 

(SP 24 VI 09)

 

 

Horácio Costa
Na
Germina
>
Poemas
> Entrevista

 

 

 

 

 

 

Iosif Landau

 

Exilado

 

minha terra tem palmeiras, onde canta o tiroteio,

na primeira porrada, bati com os costados no chão,

que nem um cão vadio fugido do lixão,

meti-me em encrencas com a mulher do vizinho de porta,

flagrou-me em cima da macia dona do seu coração,

sem perder a majestade ela falou — é meu filho perdido,

o cara riu amarelo, pegou no berro e eu no berreiro,

— tá bem, amizade, enganos acontecem, falsete do destino,

afasta o cano que já me mando pra Indochina.

 

minha terra tem palmeiras, onde canta o tiroteio,

— preciso de emprego — falei pro capataz

com cara e jeito de capitão de navio negreiro,

— retornei do Vietnã deixei por lá meu irmão,

— Vietnã o caralho, seu safado,

num tamos em conflito naquelas paragens,

— tá certo, doutor, vim do Morro da Babilônia,

que tá mais quente que a guerra do Afeganistão,

necessito de batente pra comer meu pão,

levei porrada, bati com os costados no chão,

que nem cão vadio fugido do lixão.

 

minha terra tem palmeiras, onde canta o tiroteio,

furei a pança do desalmado capitão,

pastei dez anos no cárcere de luxo em Água Santa,

saí de lá liso, sem destino, sem nada no intestino,

peguei estrada que nem roqueiro desempregado,

vou bater com os costados em Saigon,

construir cabana no delta do Mecong,

aqui, mermão, a barra pesa, não tem perdão,

e como dizia meu tio Olavo,

me mando em torrentes de cólera e loucura

pelas horas vividas sem prazer,

pela tristeza do que eu tenho sido,

pelo esplendor do que eu deixei de ser.

 

 

 

Iosif Landau
Na
Germina
>
Poemas
> Na Berlinda (Conto)

 

 

 

 

 

 

Irene de Xangô

 

Canto da Minha Terra

 

Minha Terra tem cantos e encantos

Tem dança, música, ritos e rituais

Onde aqui eu não encontro tudo que tem lá.

Meu céu tem estrelas lua e luar.

Minha mata tem verde, tudo que deixei por lá.

Minha Terra tem Orixás, onde eu canto e

Toco por eles lá.

Minha Terra, tem magia, amor, coreografia

Onde todos passam e se encantam de tudo

Que existe por lá.

Minha Terra tem lembrança, amizade, amor e tambor

Onde eu batuco, sempre que posso, toco

Pra eles nessa banda de cá.

Minha Terra não tem Palmares, como os daqui

Lá tem liberdade nos Palmares.

Terra berço de um povo negro, forte e bravo sempre será

Povo negro, bravo, forte, lutador, rezador e

Caçador, esperando apenas que o povo de cá

Reconheça todo esse valor cultural que deixou

Tudo pra trás. Seja forte e valente a

Sua vitória está por chegar.

 

 

 

 

 

 

Jô Soares

 

Canção do Exílio às Avessas

 

Minha Dinda tem cascatas

Onde canta o curió

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem coqueiros

Da ilha de Marajó

As aves, aqui, gorjeiam

Não fazem cocoricó.

O meu céu tem mais estrelas

Minha várzea tem mais cores.

Este bosque reduzido

Deve ter custado horrores.

E depois de tanta planta,

Orquídeas, fruta e cipó,

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

 

Minha Dinda tem piscina.

Heliporto e tem jardim

Feito pela Brasil's Garden:

Não foram pagos por mim.

Em cismar sozinho à noite

Sem gravata e paletó

Olho aquelas cachoeiras

Onde canta o curió.

No meio daquelas plantas

Eu jamais me sinto só.

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Pois no meu jardim tem lagos

Onde canta o curió

E as aves que lá gorjeiam

São tão pobres que dão dó.

 

Minha Dinda tem primores

De floresta tropical.

Tudo ali foi transplantado,

Nem parece natural.

Olho a jabuticabeira

Dos tempos da minha avó.

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

 

Até os lagos das carpas

São de água mineral.

Da janela do meu quarto

Redescubro o Pantanal.

Também adoro as palmeiras

Onde canta o curió.

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

 

Finalmente, aqui na Dinda,

Sou tratado a pão-de-ló.

Só faltava envolver tudo

Numa nuvem de ouro em pó.

E depois de ser cuidado

Pelo PC, com xodó,

Não permita Deus que eu tenha

De acabar no xilindró.

 

 

 

 

 

 

João de Abreu Borges

 

Minha Terra Sem Palmeiras
 
Em minha terra
a sabiá deixou de cantar
a sabiá deixou de ser sábia,
amarelando-se nesse ditongo vulgar
(já sabia nada mais ter para cantar).
 
Palmeiras?
Caem como um homem abatido a tiros!
 
Quem gorjeia
são os dejetos em direção a além-mar
(mais nada gorjeia como antes aqui...
muito menos lá).

 

 

 

 

Penas do Exílio

 

Um canto de pássaro preso na gaiola

não é belo, nem se agiganta,

nem é pequeno:

 

pálido espectro de notas musicais,

é como um fantasma pelos corredores do prédio

 

vira pranto na güela, a ira de um canto;

será sempre o espanto da ferrugem

na vertigem da gaiola

 

lira descordoada no silêncio oco de agora,

eco de asas sem memória,

cacos...

 

Em sua voz, o túmulo da liberdade nada entoa

e seu bico é banguela

 

é trágica lembrança sonora, humilhante bengala

entre as grades da saudade de si mesmo:

ornisaudade que dispara e chora...

 

Igual a um poeta oprimido

entre as paredes de um apartamento sem espera,

que escreve por estar cansado e em dois repartido:

 

enquanto um é triste,

o outro a tudo ignora.

 

 

João de Abreu Borges
Na
Germina
>
Poemas

 

 

 

 

 

 

João de Barro & Alberto Ribeiro

 

Minha Terra Tem Palmeiras

 

(Estribilho)

Oh, que terra boa pra se farrear!

Oh, que terra boa pra se farrear!

 

Minha terra tem lourinhas, moreninhas "chocolat"

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá

 

(Estribilho)

 

Minha terra tem Bahia, tem Ioiô e tem Iaiá

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá

 

(Estribilho)

 

Minha terra tem pitanga, cajá-manga e cambucá

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá

 

(Estribilho)

 

Minha terra tem "um homem", ninguém sabe...

"quem será?"

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá

 

(Estribilho)

 

[Clique aqui e ouça a música, gravada por Carmen Miranda, em 1936]

 

 

 

 

 

 

João do Vale e Julinho


Todos cantam sua terra

[Interpretação: Alcione]


Todo mundo canta sua terra

Eu também vou cantar a minha

Modéstia à parte seu moço

Minha terra é uma belezinha


A praia de olho d'água

Lençóis e Aracagi

Praias bonitas assim

Eu juro que nunca vi


Minha terra tem beleza

Que em versos não sei dizer

Mesmo porque não tem graça

Só se vendo pode crer


Acho bonito até

O jornaleiro a gritar

Imparcial Diário

Olha o Globo


Jornal do Povo descobriu outro roubo

E os meninos que vendem derrê sol a cantar

Derrê sol, derrê sol

Derrê sol, derrê sol


E fruta lá tem juçara

Abricó e buriti

Tem tanja, mangaba e manga

E a gostosa sapoti

E o caboclo da maioba

Vendendo bacuri


Tinha tanta coisa pra falar

Quando estava fazendo esse baião

Que quase me esqueço de dizer

Que essa terra é tão linda é o Maranhão

Ô Maranhão, ô Maranhão


Minha terra tem beleza

Que em versos não sei dizer

Mesmo porque não tem graça

Só se vendo pode crer


Acho bonito até

O jornaleiro a gritar

Imparcial Diário

Olha o Globo


Jornal do Povo descobriu outro roubo

E os meninos que vendem derrê sol a cantar

Derrê sol, derrê sol

Derrê sol, derrê sol


E fruta lá tem juçara

Abricó e buriti

Tem tanja, mangaba e manga

E a gostosa sapoti

E o caboclo da maioba

Vendendo bacuri


Tinha tanta coisa pra falar

Quando estava fazendo esse baião

Que quase me esqueço de dizer

Que essa terra é tão linda é o Maranhão

Ô Maranhão, ô Maranhão






João Guilherme

 

Canção do Exílio na Cidade de Automóveis

 

Minha cidade tem avenidas,

Onde ando de Bicicleta;

E aves que gorjeiam,

e flores e borboletas.

 

No céu tem mais estrelas,

porque não tem poluição,

As ruas têm mais vida,

Nossa vida mais paixão.

 

Em pedalar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro ali;

Meu bairro tem ipês amarelos,

Onde canta o Bem-te-vi.

 

Minha cidade não tem engarrafamentos,

buzinas, freadas, carros sobre calçadas.

Meu Deus!

Em minha cidade as crianças

andam sozinhas para a escola

e não morrem atropeladas.

 

Não permitam Homens que eu morra,

Sem que eu viva nessa cidade

é aqui!

Onde canta o Sabiá.

Onde canta o Bem-te-vi.

 

 

 

 

 

 

João Rodrigues

 

Meu Sabiá

 

Ouviu-se um canto distante
Que vinha lá do quintal:
não é xexéu
nem macuco
não é melro
e nem pardal.
É um canto diferente
Que envolve e alegra a gente
E até nos faz voar
Para sítios nunca vistos
Que nos traduzem esperança
E a alegria do bem-viver,
É um canto em cantilena
Encantado,
Cantante, encadeado

 

E que bem sei: vem do alto
Lá das folhas da palmeira,
Aquele canoro canto:
É meu sabiá-laranjeira.

 

 

 

 

 

 

Joaquim Osório Duque Estrada & Francisco Manuel da Silva

 

Hino Nacional do Brasil

 

I

 

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

De um povo heróico o brado retumbante,

E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,

Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

 

Se o penhor dessa igualdade

Conseguimos conquistar com braço forte,

Em teu seio, ó Liberdade,

Desafia o nosso peito a própria morte!

 

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

 

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,

De amor e de esperança à terra desce,

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,

A imagem do Cruzeiro resplandece.

 

Gigante pela própria natureza,

És belo, és forte, impávido colosso,

E o teu futuro espelha essa grandeza.

 

Terra adorada

Entre outras mil

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

 

Dos filhos deste solo

És mãe gentil,

Pátria amada,

Brasil!

 

 

II

 

Deitado eternamente em berço esplêndido,

Ao som do mar e à luz do céu profundo,

Fulguras, ó Brasil, florão da América,

Iluminado ao sol do Novo Mundo!

 

Do que a terra mais garrida

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,

"Nossos bosques têm mais vida",

"Nossa vida" no teu seio "mais amores".

 

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

 

Brasil, de amor eterno seja símbolo

O lábaro que ostentas estrelado,

E diga o verde-louro dessa flâmula

— Paz no futuro e glória no passado.

 

Mas se ergues da justiça a clava forte,

Verás que um filho teu não foge à luta,

Nem teme, quem te adora, a própria morte.

 

Terra adorada

Entre outras mil

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

 

Dos filhos deste solo

És mãe gentil,

Pátria amada,

Brasil!

 

 

 

 

 

 

José Albano Cordeiro Junior


Canção da Morte, 1884


Minha terra tem saudades

Do mavioso cantor:

As suas notas sentidas

Ainda respiram primor.


A vida de luto envolta

Já não tem o mesmo encanto;

Nossos peitos confrangidos

Se afogam no duro pranto.


Na amargura a mais pungente,

É longo o transe de dor;

Minha terra tem saudades

Do mavioso cantor.


Minha terra contristada

Já não transpira fulgor;

Na amargura a mais pungente

É longo o transe de dor;

Minha terra tem saudades

Do mavioso cantor.


Não permita Deus piedoso

Sofrer-se tanto rigor;

Se o pensamento não morre

Perdure sempre o primor,

Sempre existindo as saudades

Do mavioso cantor.






José Aloise Bahia

 

josé murilo gonçalves aloise mendes dias bahia

 

bambuí, juiz de fora, caxias

junho, maio, agosto

1961, 1901, 1832

 

1. minha terra tem canelas de zanzibar,

2. minha terra tem macieiras da califórnia,

3. minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá,

 

1. onde cantam rouxinóis da china.

2. onde cantam gaturanos de veneza.

3. as aves que aqui gorgeiam, não gorgeiam como lá.

 

1. os poetas do meu lar,

2. os poetas da minha terra,

3. nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores,

 

1. são rajados que vivem em minas de ouros.

2. são pretos que vivem em torres de ametistas.

3. nossos bosques têm mais vidas, nossas vidas mais amores.

 

1. os sargentos da marinha são marcos, barrocos;

2. os sargentos do exército são monistas, cubistas;

3. em cismar, sozinho, à noite, mais prazer eu encontro lá; 

 

1. minha terra tem canelas de zanzibar.

2. minha terra tem macieiras da califórnia.

3. minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá.

 

1. os filósofos são cubanos fumando narguilés;

2. os filósofos são polacos vendendo a prestações;

3. minha terra tem primores, que tais não encontro eu cá;

 

1. a gente dorme cedo;

2. a gente não pode dormir;

3. em cismar, sozinho, à noite, mais prazer eu encontro lá;

 

1. minha terra tem canelas de zanzibar.

2. minha terra tem macieiras da califórnia.

3. minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá.

 

1. com os quelônios e os serafins;

2. com os oradores e os pernilongos;

3. não permita deus que morra, sem que eu volte para lá;

 

1. os sussurros em família têm por testemunha a pietá;

2. os sururus em família têm por testemunha a gioconda;

3. sem que desfrute os primores / que não encontro por cá;

 

1. eu vivo inquieto nas ondas da net. 

2. eu morro sufocado em terra estrangeira.

3. sem que ainda aviste as palmeiras, onde canta o sabiá.

 

123 carambolas na infância, flaneur, futebol, gols, banheiras, xadrez e

hoje saber quando e o local sem limites, labirintos, onde o poema termina!

 

 

 

José Aloise Bahia
Na Germina
>
Poemas
> Poesia Visual
> Ars Nova
> A Genética da Coisa

 

 

 

 

 

 

José Couto


Canção da Extinção


Minha terra tinha

Arara Azul Tietê de Coroa 

Pica Pau do Parnaíba Soldadinho do Araripe

Gavião de Pescoço Branco Mutum-de-Alagoas


Aves que aqui gorjearam

não gorjeiam mais

Não permita Deus a extinção

Do Sabiá-peito-roxo Sabiá-de-barriga-vermelha


Sabiá-poca sabiá-laranjeira sabiá-pardo

que gerações futuras

avistem na palmeira o sabiá

desfrutem o canto do sabiá






José Orestes de Albuquerque

 

Minha Terra

 

Na minha terra tem coisas

Com nomes bem diferentes

Estranha quem vem de fora

Costumes da minha gente

Vou ver debaixo das unhas

Se me lembro de algumas

Pra botar neste repente

 

II

 

Mutamba fruta de ferro

Ninguém lhe quebra no dente

Pau-do-rio é azedinho

Aparece na enchente

Pitomba desce direto

Goití entala a gente

 

II

 

Gurgurí engrossa a língua

Guabiraba na floresta

Canapum da na vasante

Cajú verdoso não presta

Croatá retalha a boca

Explode fazendo festa

 

IV

 

Cacimba poço de água

Cumbuca grande cabaça

Imbira tira da palha

Tucunzeiro não se abraça

Rabichola no cavalo

Lamparina que fumaça

 

V

 

Catolé da espingarda

Gibão roupa de vaqueiro

Caco pra fazer grolado

Gigolé prende o cabelo

Cambiçote quebra ovo

Tijubina pé ligeiro

 

VI

 

Finurita rapadura

Enfiada no frexal

Brêdo entra na frieira

Tertulha na matinal

Intã que vem na mareta

Peixe seco no varal

 

VII

 

Tunico dança mazuca

Guarda a masca no chapéu

Generino tem açude

Todinho cheio de mel

Abel Tiadosa Araujo

Foi o nosso menestrel

 

VIII

 

Massaranduba, canema

Riacho, Lagoa Salgada

Fim da légua, Poço Doce

Cancela, Beira Rapada

Timbaúba, Croa Grande

Mexera Doce, Ramada

 

IX

 

Macajuba, Itarema

Jericoacoara, Capim

Pizunha, Poço da Onça

Caiçara, Camocim

Angico, Genipapeiro

Gijoca, Tabulerim

 

X

 

Unha de Gato, Melosa

Mata-parte, Catingueira

Berduégua, carnaúba

Mucurana, Aroeira

Grão de galo, carrapicho

Oiticica, Marizeira

 

XI

 

Pilombeta, garajuba

Cari bodó, Aniquim

Mane besta, cangatí

Curimatã, camurim

Tamatarana, parum

Biquara, camurupim

 

XII

 

Juriti, papa-lagarta

Currupião, Maçarico

Cibite, Canário sujo

Piririguá, tico-tico

 

XIII

 

Falei das plantas e peixes

Das frutas dos animais

Lugarejos, passarinhos

Costumes e tudo mais

População de artista

Cada um mais humorista

Faz rir de cair pra trás!!!

 

 

 

 

 

 
José Paulo Paes

 

Canção do Exílio

 

Um dia segui viagem

sem olhar sobre o meu ombro.

 

Não vi terras de passagem

Não vi glórias nem escombros.

 

Guardei no fundo da mala

um raminho de alecrim.

 

Apaguei a luz da sala

que ainda brilhava por mim.

 

Fechei a porta da rua

a chave joguei no mar.

 

Andei tanto nesta rua

que já não sei mais voltar.

 

 

 

 

Canção do Exílio Facilitada

 

lá?

ah!

sabiá...

papá...

maná...

sofá...

sinhá...

 

cá?

bah!

 

 

 

 

Lisboa: Aventuras

 

tomei um expresso

                 cheguei de foguete

subi num bonde

                 desci de um elétrico

pedi cafezinho

                 serviram-me uma bica

quis comprar meias

                 só vendiam peúgas

fui dar a descarga

                 disparei um autoclisma

gritei: "ó cara!"

                 responderam-se "ó pá!"

                 positivamente

as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá







Juca Chaves


Take me back to Piauí


Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí


Adeus Paris tropical, adeus Brigite Bardot

O champanhe me fez mal, caviar já me enjoou

Simonal que estava certo, na razão do Patropi

Eu também que sou esperto vou viver no Piauí!


Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí


Minha terra tem Chacrinha que é louco como ninguém

Tem Juca, tem Teixeirinha, tem dona Hebe também

Tem maçã, laranja e figo

Banana quem não comeu

Manga não, manga é um perigo

Quem provou quase morreu!


Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí


Mudo meu ponto de vista, mudando de profissão

Pois a moda agora é artista

Ser júri em televisão

Tomar banho só de cuia

Comer jaca todo mês

Aleluia, aleluia, vou morrer na BR-3!


Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí

Hey hey, dee dee, take me back to Piauí


Meu Deus, meu Deus, take me back to Piauí






Judith de Souza

 

Exílio de Ti

 

meus olhos
se fecham cansados
de olhar a última curva
que se perdeu na distância
 
meus lábios
retem catatônico sorriso
no rosto lacrimejado
no pranto corrido
 
minha mão
pende em meu colo
cansada de acenar ao vento
no último momento
 
exílio de ti
dos teus beijos
dos teus ritos
dos teus braços
aflitos
 
meus ouvidos
já não ouvem o sabiá
fazendo fundo aos versos
que te fiz chorando

 

 

 

 

 

 
Júlio de Castro

 

Minha Terra

 

Minha terra é a mais linda

Que todas de Portugal!

Tão linda que até o Sol

Lhe bate como em Cristal!

 

A minha terra tem árabe

Na sua origem principal...

Humilde velhinha era

Quando nasceu Portugal!

 

Do poente a minha terra

Tem São João... a rezar;

A ver se algum dia pode

Vir de lá p'ra cá morar!

 

A minha terra tem santos

Da corte celestial;

Pedro, António, Luís — tantos...

Que até um Rei há no Fial!...

 

No Ameal, a Santa Marta

E São Braz em Beduído;

Pedro em Paus... e em Calvães falta

Estêvão... por ter fugido!...

 

Minha terra, de lugares

Um dos quais é principal:

Não é Fial, Calvães nem Fontes,

Beduído ou Paus — mas Ameal.

 

 

(1933)

 

 

 

 

 

 

 

Juó Bananere

 

Migna Terra

 

Migna terra tê parmeras,

Che ganta inzima o sabiá,

As aves che stó aqui,

Tambê tuttos sabi gorgeá.

 

A abobora celestia tambê,

Chi tê lá na mia terra,

Tê moltos millió di strella

Chi non tê na Ingraterra

 

Os rios lá sô maise grandi

Dus rio di tuttas naçó;

I os matto si perdi di vista,

Nu meio da imensidó.

 

Na migna terra tê parmeras

Dove ganta a galligna dangolla;

Na migna terra tê o Vapr'elli,

Chi só anda di gartolla.

 

 

 

 

 

 

Jussara Godinho

 

Amor a Caxias do Sul

 

Minha terra tem parreiras

E o bom vinho vem de lá

As uvas que lá semeiam

Nem se comparam com as de cá!

 

Minha terra tem frio,

chuva, neve e muito vento

e gente que enfrenta desafio

com bravura e sentimento!

 

Terra forte, do quente chimarrão,

do pala, da bota, do quentão

e de muito amor no coração!

 

A esse chão d'onde brota a emoção

manifesto toda minha paixão:

te amo com loucura, meu rincão!