©roberto vilela | museu da imagem e do som | são paulo | 1988
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Com a elegância de um mestre zen, Massao Ohno sempre iluminou a vida de nossos poemas, dando a eles edições plenas de beleza, geradas pelo olhar terno e incandescente de seu oceano estético. Entre as delicadas linhas do monocromatismo dos sumiês japoneses e as obras de artistas como Wesley Duke Lee e Arcângelo Ianelli, concebia e elegia os projetos de capa. Respeitando grafema por grafema, ditongo por ditongo, palavra por palavra. Desta forma tratou os poemas de quatro de meus livros: Encadeamentos (1988), Primeira Lua (1990 – que escrevi em parceria com Elza Ramos Amaral), Poema sine praevia lege (1993) e Planagem (1998, reunião da obra, por ele sugerida). Desse modo, num oceano de aquarelas, erigindo ideias e audácias gráficas, sempre tratou os textos de tantos e tantos autores, como Hilda Hilst, Roberto Piva, Olga Savary. A partir dos anos 60, e durante cinco décadas, esse ourives livre criou e recriou a perfeição no espaço sempre aberto de seu ateliê, que, nos anos 1989, situava-se à Rua da Consolação, nº 3676. Dando a nossas obras o melhor de sua alma e de seu tempo: a competência de um artista gráfico de rara sensibilidade. Sua trajetória de editor é única, plúrima e plurissignificante na história da poesia brasileira. Pulsa luzes nas palavras. Encanta e reencanta, sempre, o melhor de nossas frases.

 

 

 

 

para Massao Ohno

 

Entre papiros

e projetos de linho

 

sumiês dispostos

sobre a mesa

                      

o gesto-mandarim

traça as cores

giz e aquarela

 

o caos no vento:      

na  véspera, estrelas

   

como se o azul

nele mesmo fosse

a própria cor (safira)

                      

entre selos, a grafia

de peixes (ou pássaros)

                      

o tear de Massao Ohno

abre as bordas do tempo

                      

é quase noite:

alva página de sol

e luzes pentatônicas

 

 
Beatriz Amaral. Mestre em Literatura e Crítica Literária, musicista e escritora, publicou nove livros, entre os quais Planagem (1998), Alquimia dos Círculos (2003), Luas de Júpiter (2007).
 
Mais Beatriz Amaral em Germina
>
Poemas
> Entrevista

 

 

 

 

 

        "Massao Ohno Editora, com o propósito de revelar e estimular novos talentos, lançou a Coleção dos Novíssimos, com autores, na sua maioria, ainda mal entrados na casa dos vinte anos". É o que anuncia o artigo "Lugar ao sol para os novos", na revista Visão, de 11 de novembro de 1960. No mesmo artigo há a informação de que o editor estabelece como critério para a escolha das obras, as que "denunciam engajamento no panorama brasileiro". Assim, no seu escritório, na Rua Vergueiro, nº 688, São Paulo, Capital, Massao Ohno inicia a sua trajetória de editor e, há mais de quatro décadas, vem publicando nomes importantes da literatura.

Na fase inicial da Coleção dos Novíssimos são editados Carlos Felipe Moisés, Clóvis Beznos, Eduardo Alves da Costa, Eunice Arruda, João Ricardo Penteado, Roberto Piva. Em 1961, Massao Ohno lança a Antologia dos Novíssimos incorporando aos já  editados, nomes como: Álvaro Alves de Faria, Celso Luis Paulini, Décio Bar, Haydée Sorensen, Luis Regis Galvão e muitos outros que hoje indagamos: onde estão?

Mas Massao Ohno — eternamente — permanece. Em sua mesa de trabalho. Textos, livros espalhados. Em algum lugar. Eternamente permanece. Esperando que os poetas retornem. Ao que foi início. Paixão.

 

 

 

 

                         

                                            para Massao Ohno

 

 

Em repouso

pássaro recolhido

sob as asas

 

Aguarda a vertigem do sonho

voo

entre duas tardes exaustas

de um domingo

Enrolado num silêncio úmido

 

Depois

algumas pancadas

de chuva

Súbito sol brilha

poças de

água

e ele se ergue

 

Para olhar uma cor do arco-íris

 

 
Eunice Arruda. Poeta, autora de doze livros publicados, entre eles: É tempo de noite (1960), O chão batido (1963), Invenções do desespero (1973), As pessoas, as palavras (1976), Mudança de lua (1986), Gabriel: (1990), Risco (1998). Há estações (2003) — selo Programa Nacional do Livro Didático.
 
Mais Eunice Arruda em Germina
> Poemas

 

 

 

 

Massao Ohno e Hilda Hilst | Massao Ohno Editor | Divulgação

 

 

 

 

 

 

Massao Ohno saiu de cena. Mas se existir papel, caneta, cartolina, cola e uma velha Remington, lá do outro lado das coisas, a essa altura ele já abriu a Editora.

 

Afeto. Saudades. E que rastro você nos deixa, Massao.

 

 

 

Yara Camillo (São Paulo-SP, 1957). Formada em Comunicações pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, com especialização em Cinema. Publicou Volições (São Paulo: Massao Ohno Editor, 2007) e Hiatos (São Paulo: RG Editores, 2004). Tradutora, contista premiada, participa de várias antologias e sites de literatura.

 

Mais Yara Camillo em Germina
> Contos

> Na Berlinda (Conto)