Agnóstica

 

Sabe, acho que Eros anda por aqui ao contrário do que cremos.

Não é simples a construção do desejo.

Sinto-me incapaz quando percebo o ruflar das asas dele.

É, talvez o cheiro da pena que roça o pêlo.

Possível o domínio da armadura eletrônica que transmuta o micro chip.

Nanoquinquilharias conectando duas almas penadas.

Distraído vagueia por entre passos apressados ou

guarda-chuvas protegendo metade dos corpos no centro,

enquanto encharcam-se os sapatos.

Entre nós, ligam-se mãos geladas.

 

Anda fazendo frio por aí, não?

 

 

 

 

 

 

Passeando com Eros na segunda às 12:00 horas

 

Num canto do parque a gata e sua ninhada.

Enquanto ela encostada na árvore, com a mão ele levanta a saia.

Meio-dia, sol a pino ninguém passa.

A ponta dos dedos, aos poucos, atinge a superfície orvalhada.

Os corpos, o cheiro, as formigas e o tronco da árvore.

Num canto, a gata mia para atrair sua ninhada.

 

 

 

 

 

 

*

Reconheço o relevo sob a luz que os vaga-lumes me permitem. Caminho, cabra-cega, escalando pedregulhos. Tropeço, cabra-bêbada, no degrau daquela porta. Reconheço, sob a luz que os vaga-lumes me permitem, o relevo do seu corpo. Corpo continente esparramado no tapete. Mordo a carne da sua boca. A carne da sua boca, o cálcio dos meus dentes. Seu sexo pêndulo. Mergulho. Seu mofo meu vapor. Cabra-trôpega,  desconheço a luz que os vaga-lumes me permitem e me afogo no continente esparramado no tapete. 

 

 

 

 

*

Eu hoje acordei com saudade de você

Beijei aquela foto que você nunca enviou

Sentei naquele banco da pracinha "só" porque

Ainda não se materializou o nosso amor.

 

Tensão entre Júpiter e Urano, hoje não, por favor.

 

 

 

 

 

 

Taj Mahal

 

As árvores perderam as folhas no outono.

Coração de pedra, vento frio, amor eterno.

Toma-me tudo que se espalha pelo chão.

Deito-me de lado, pendo a cabeça,

 

aguardo

 

o toque dos seus lábios no branco lírio desse mármore

 

 

 

 

 

 

*

Pela janela

 

Essa noite

 

Você

 

calor  do vento

entrou pela janela e

soprou seu hálito

quente

em mim.

 

Umedeci.

 

 

 

 

 

 

*

Ele faz com os olhos.

Aqui, de longe,

Tremo inteira quando pisca.
 

 

(imagem ©ricardo frantz)

 

Adriana Versiani (Ouro Preto-MG, 1963). Co-editora das publicações Dazibao. Foi co-editora da coleção Poesia Orbital e do Jornal Inferno. Pertence ao conselho editorial da revista Ato. Publicou O barquinho pelo mar, A física dos Beatles e Dentro passa.
 
Mais Adriana Versiani em Germina