1

 

Cagando grapho o rigoroso ranço,
Ensebo o rabo da palavra cachorra;
Gláucico, merdoso melo e tranço
Um modo-merda, peço: não corra.

 

Repare: não é na tripa seca o avanço
Que propala a pura-palavra-porra,
Nem porca postura de poeta panço,
Pois a forma é fixa e o tema é borra.

 

Tampouco é tara, mas peço engulho,
(Por favor, purista permaneça atônito)
Bosta só presta se motiva vômito.

 

Sei. Nada revelo e não ganho tusta,
E ainda guloso gabo buça e bagulho,
Pois cagando grapho e muito me gusta.

 

 

 

 

 

 

5

 

Odeio datas, odeio deuses, odeio
O que não tem doce e gordura;
Rechaço o que não tem recheio,
Transbordo adega dessa secura;

 

Porra e merda semeador semeio,
Simulo surra na noite escura,
Poeta-penso não creio, e creio
Na negação da própria criatura.

 

Cada corte é um lábio que leio
Pr'esta minha abissal carnadura,
Minério seca sedento no veio,

 

Pra ver o verme roer-se em usura;
Bronhando a minha tora torneio,
Empesteio a praça, queimo a cura.

 

 

 

 

 

 

69

 

Já denominada mal-do-mundo,
É porta de partida ou entrada?
Perseguida no primeiro segundo,
E por Sade já foi costurada.

 

É fundamento fértil e profundo,
E quantas vezes vista e vetada,
É dela qu'este poeta é oriundo,
A Segunda Gênese a ela é dada.

 

Máxima por ser mole e moca,
Funcionando no pau como forca;
Suculenta feito pêra em pose.

 

Analise: buça não é racha, é oca,
Porém parece uma vertical boca
Com camadas carnudas em close.

 

 

 

 

 

 

2

 

A caramarga sobre o livraberto,
Faiscazia pela tripa tendenciosa,
Poetaperto com o flato flerto,
Mas mínima memo, mó-duvidosa.

 

Se for farsa, é fula, senão deserto,
Vá as picas com sua porra-porosa,
Poetapaga, princesa, se chegar perto,
Farinha é pouca e perpendiculosa.

 

Se der gozo, princesa, corpo pena,
Tempo troça do que nada temos,
Ser seco e súbito aqui na arena.

 

Somos a súmula do que tememos,
O que teremos o tempo gangrena,
Século findo, chega? Nem chegaremos.

 

 

 

 

 

 

55

 

Inexistinício, velhonovo se fode,
Ts... ts... Realmente, a poesia brasileira,
Ou extrasublira ou duca-decodi...
Ou pó-pisca-pisca ou pó-pedreira.

 

Tem berro grosso que dindinheira,
Se farejar cifras o rabo sacode,
Rabo-rombudo em caray cadeira
Senta e vegeta sua ínclita ode.

 

A mesa é farta, vai lá, meta a fuça,
Com olho, unha, dente esmiúça,
Se lhe aprouver no reto retém.
 
Bostiões babujam certo vintém,
Pr'este só vale o que purga e pulsa;
Quem come prego sabe o cu que tem.

 

 

 

 

(Do livro c(s)em sambas-de-treita, inédito)

 

 

João Filho (Bom Jesus da Lapa, sertão, 1975). Poeta, escritor, vive em Salvador da Bahia. Publicou Encarniçado ou anotações dum comedor de cânhamo (São Paulo: Baleia, 2004).
 
Mais João Filho em Germina:

 

 
©tom wesselman