Kama Sutra

 

por causa
do teu
alaúde
(escaravelho
ígneo)
quase
fui
decapitado

 

 

 

 

 

 

décor e salteado

 

hera
como
irrompíamos
pelas
nossas
cavernas

 

 

 

 

 

 

siririca

pica
de pano
se não
me engano

 

 

 

 

 

 

reprise

 

noutro
rosto
deparo
com
o mesmo
halo
(
technicolor)
de quando
metíamos
um
noutro

 

 

 

 

 

 

nascituro

 

na tua boca
oxigenei-me
na tua boceta
lique
fiz-me

 

 

 

(De O caderno erótico de Sylvio Back. Ouro Preto-MG: Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1986)

 

 

 

 

 

la chair est faible

 

não faça
coeur douce
mon chou

rogou o galante

não cabe
tamanho talude
mon bijou

suplicou a galante
abre ton décor
assim de viés
mon trésor

insistiu o galante
je meurs de peur
catita a glande
petite ma fleur
replicou a galante
a cuspe de beijos
te rego por tudo
alegro ton trou
sussurrou o galante
então me cobre
soca mon désir
verte o que vir
gritou a galante

 

 

 

 

 

 

cisma

 

vinhei
como se fora
o sanguinho
do nosso ninho

 

 

 

 

 

 

canto de fodas

 

descortinei
tua mala
malévola

negro-nigérrima

arregacei
teu fiofó
sem dó

negra-nigérrimo

espetei
teus peitinhos
untadinhos

negro-nigérrima

explorei
teus alvéolos
pélvicos

negra-nigérrimo

na gangorra
de todas
(
amoras)
o ventre abres
à porra soluçante
do sabre ansiante

negro-nigérrima

tuas coxas
(luxo calipígio)
minhas mãos
(
fiat lux)
ó fumo pidão

negra-nigérrimo

dedos à glande
(à racha)
nádegas aos bagos
(
amaros)
de todas

as loucas
(curras)
hordas nuas
(e
crudas)
convertem-se
ao êxtase
do teu gêiser
(
licoroso)
extremoso

negra-nigérrimo

 

 

 

 

 

 

glad gladis

 

entre nua e o Steinhäger
sagram-se abismos e consolos
mortalhas in
Tränem
o espasmo e o orgasmo
apenas lóbulos grisés
na ante-sala formidável
viuvez: expedição ao cu
porco porque morto
(
miroir du film-noir)
o caralho extinto e o
ansiar besunto deixaram
pentelhos no ralo da pia
(confetes fétidos)
out
de mi de ti de si absinto

 

metempsicose tesão

 

 

 

(De A vinha do desejo. São Paulo: Geração Editorial, 1994)

 

 
 

 

hosana ao grelo

 

tudo no grelo é
favo e inflável

tudo no grelo é
molusco e clava

tudo no grelo é
hígido e vibrátil

tudo no grelo é
hóstia e tugúrio

 

 

 

 

 

 

tolo Sísifo

a mulher e seus fogos de afago
o homem e seu pássaro falaz

a mulher e seus gargalos letais
o homem e seus solitários ais

a mulher e seus mil orgasmos
o homem e seu unívoco ocaso

a mulher e seus líquidos infinitos
o homem e seu fatídico fastio

 

a mulher toda em si
o homem tolo Sísifo

 

 

 

 

 

 

O gesto e a gesta

 

o buço ruço

de Sharon Stone

 

ninguém cruzará

(never more)

as pernas angorá

(memo mor)

 

a buça ruça

de Sharon Stone

 

clitóris de celulóide

 

 

 

 

 

 

délicatesse

 

sorver todos os teus interstícios
— o que couber!

sorver todos os teus interstícios
— ah!ah!ahhh... abismos!
sorver todos os teus interstícios
— ah! mor saciez!

sorver todos os teus interstícios
— oh! dor ubíqua!
sorver todos os teus interstícios

quel beau couvert!

 

 

 

(De boudoir. Rio de Janeiro: 7Letras, 1999)

 

 

 

cine privé

 

oh yeah! yeah!

I'm coming!

I'm coming!

 ó yeah! yeah!

 

chupa minha buceta

chupa meu cu

esporreia na minha teta

 

oh yeah! yeah!

I'm coming!

I'm coming!

oh yeah! yeah!

 

fodo tua bucetinha

fodo teu cuzinho

esporreio na tua boquinha

 

oh yeah! yeah!

I'm coming!

I'm coming!

oh yeah! yeah!

 

Mike, ilumina a língua

Steve, zoom na porra!

Back, corta pro gozo!

 

 

 

 

 

 

menino levado

 

afundo no vau

dos teus peitos

 

pau duro

arremeto

 

ejaculo

direto

 

priapo

preito

 

 

 

 

 

 

nas asas do marzapo

 

cheiro de cona flauta de Hamelin

ventas ardentas vapores písceos

lábios se benzem em coxas afins

 

voai bucetário de todas as bardas

para a minha boca afoguem-se

na gárgula da garganta náufraga

 

voai bucetário de todas as bardas

para o meu marzapo apinhem-se

à dadivosa glande da porra farta   

 

cheiro de cona flauta de Hamelin

de quatro a língua obra de prima

salamaleque de pentelho carmim

 

 

 

(De As mulheres gozam pelo ouvido. São Paulo: Editora Demônio Negro, 2007)

 

(imagens ©allen jones)

 

 

Sylvio Backé cineasta, poeta e escritor. Autor de trinta e seis filmes (dez longas-metragens, o mais recente, Lost Zweig), teve publicado em 1986 o seu primeiro livro de poemas, O caderno erótico de Sylvio Back (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, Minas Gerais). Depois vieram Moedas de luz (São Paulo: Max Limonad, 1988); A vinha do desejo (São Paulo: Geração Editorial, 1994); Yndio do Brasil — poemas de filme (Ouro Preto-MG: Editora Nonada, 1995); boudoir (Rio de Janiero: 7Letras, 1999); Eurus (Rio de Janeiro, 7Letras, 2004); Traduzir é poetar às avessas — Langston Hughes traduzido (São Paulo: Memorial da América Latina, 2005) e Eurus — bilíngüe — português-inglês (Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2006); kinopoems (e-book, Cronópios Pocket Books, SP, 2006); e As mulheres gozam pelo ouvido (São Paulo: Editora Demônio Negro, 2007). Back tem igualmente editados livros de contos, ensaios e dez roteiros de seus filmes.

Mais Sylvio Back em Germina:
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