POESIA POR TODOS OS SÉCULOS AMÉM



que seja o post a poesia mais direta

que o deslize das mãos alcance vida mais concreta

o que será a selfie senão o autorretrato do poeta?







CANÇÃO TECNO PARA G. DIAS



não chores meu filho

não chores que a vida

é uma imagem bonita


viver é clicar


a vida é um site

de cem mil gigabytes

que os pobres (os fracos)

não podem acessar







CECILIA'S SELFIE



não me reconheço mais nestes versos sem sentido

verbos e sujeitos já me soam alheios


nem me encontro mais nos passos frios

que meus calçados desenham

por estas bandas estreitas


sou incapaz de relembrar sozinha passagens de minha infância

não ouço mais a dissonância do meu canto passado

nem o vibrato da nota mais poética a que um dia tive ousadia


não sei rimar

não sei amar


mas minha alma ainda reluta

e o meu corpo jovem se pergunta

em que celular se perdeu a minha ternura?






MATCH



no doce balanço

a caminho do mar

as silhuetas denunciam

a eternidade do gozo

(quando os corpos se encontram

os nudes agradecem)







TEMPOS PÓS-MODERNOS



não é o tempo que voa, amor

a gente é que não tem asas







OS SUICIDAS NÃO LEEM SUAS TIMELINES NO DIA SEGUINTE



eu não quero ser alguém na vida

quero ser na vida alguém

que não sabe o que quer


quero ser homem

quero ser trans

quero ser mulher

ser o pronome que nunca se definiu

desfilar em poesia o meu ser vil

desdenhar do anel de ouro que não me serviu

riscar do mapa o caminho do tesouro

ir pro matadouro com a consciência tranquila

de que errado é o caminho dos que quase acertaram o alvo que nunca existiu


eu não quero vencer na vida

quero vencer em vida

esse meu ser de guesa errante

matar o desastre da sorte

de ser aplaudido alguém triunfante

depois da minha morte







JUST IN TIME



não sou alguém além

nem aquém do meu tempo

estou na medida exata pra gozar

a eternidade das coisas







AMOR SE ESCREVE EM ITÁLICO



dar-te-ia meu amor

com a certeza de te ter ao meu lado

até o raiar do novo dia


dar-te-ia todos os instantes de minhas horas

se tudo isso fosse bem mais

que uma simples ilusão tardia


dar-te-ia olhos nos olhos

sonhos de delírios diários

sentimento inebriante sem covardia


dar-te-ia línguas entrelaçadas

poemas de amores rasgados

ao encontro dos corpos desnudos

a mais fina poesia


amar-te-ia tão intensamente

e por toda a minha vida

e ainda uma vez inocente

sem sinal da mínima apatia


amar-te-ia desesperadamente

oh! alma envelhecida

não fosse amor

essa mesóclise

perdida pra sempre







NATIVOS DIGITAIS



não sei como a poesia me acessa

não sei quando eu acesso a poesia

só sei que nela me perco

igual criança assustada

diante da tela apagada

do dia a dia







DA TIMELINE DO PAÍS DE ALICE



conhecereis a verdade

por meio de fake news







VELOZES E FURIOSOS



queria ter feito um poema quilométrico

memorável

ininterrupto

mas meu tempo é curto

e a estrada

é essa highway violenta de mão dupla

sem espaço pra epopeias

meu amor







FAKE NEWS



foi a indústria que inventou

e o homem alimenta

essa farsa de que a vida

começa aos quarenta

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Samuel Marinho é maranhense de São Luís/MA. Publicou os livros Pequenos Poemas Sobre Grandes Amores (Edição do Autor, 2002), Poemas In Outdoors (Penalux, 2018) e Poemas de Última Geração (Penalux, 2019). Foi finalista em 2020 do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria poesia.


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