Última gota



Eu não consigo dormir

e tua boca a devorar-me os seios.

Teu pênis me invade a bunda e me goza dentro e profundo.

Eu não consigo dormir e tu não deixas meu corpo quieto e seco.

Tu me queres molhada a escorrer como cachoeira

Eu te quero dentro, duro e engolível.

Tu não me deixas dormir enquanto eu não te tomo todo até a última gota, no gargalo.

Nem meus gritos de, ai por favor, faz com que tu se apiedes.

Me come de forma devorável e animalesca noite adentro

e todos os fogos do mundo explodem.







Culto a Baco



Eu sinto saudade de você aqui dentro.

Da sua boca devorando a minha. Sua mão me batendo forte e eu te pedindo mais.

Sinto falta de quando você mete e quase me goza e tira e bota e me vira e me quer de quatro.

E de quatro eu sinto saudade que tu me vejas toda tua, entregue e sem saída como fêmea que o macho copula.

Eu sou tua onça-pintada e teu é o tiro certeiro.

Tu me matas, mas é de prazer.

Eu sei que também sou teu querer dionisíaco.

E nosso sexo é o melhor culto a Baco!

Agradamos os deuses gregos e romanos.

Eles gozam sobre nós quando a gente se tem.

Eles nos mandam fogo, a embriaguez que nos toma o juízo.

São eles todos ali incorporados em nós.

Nem somos humanos.

Somos deuses quando nos fundimos.

Quem em sã consciência tem poder para isso?

Somos possuídos no tempo e no espaço por quem não é daqui.

Teu corpo Dionísio/Baco sobre tua Vênus/Afrodite!

Acredite!







Submundo do desejo



Do que o sol que mora em você, é capaz?

E que chegues com tua força

Que me banhes com tua luz

Que minha pele nunca mais a mesma depois do teu calor

Meus ossos, meus poros, cabelos, líquidos, nunca mais os mesmos.

Quando tu chegas, sem que eu espere, impetuoso, devastador e todo rei

Quando nada mais importa e tudo ao redor desaparece.

Somos só nós e toda fúria do mais ardente desejo

Só nós e todos os rios do mundo a nos derramar por entre as pernas

Meu corpo caindo miúdo e ligeiro nos abismos das mais intempestivas paixões

Eu gostando, eu gozando, eu caindo, eu saindo de mim como um ser embriagado e entregue

os domínios, os territórios, as brechas, as fendas, as veredas de cada pedaço teu e meu

ali por onde as águas que passam e nos devasta e nos arranca de nós mesmos.

Ali onde você é inteiramente meu, eu inteiramente sua e, nada mais importa.

Nem o antes e nem o depois dizem nada de nós dois. 

Submundos do desejo!

Todos os cabarés e putas me habitam.

Abro a porta do quarto e, por prazer, gozo e devoção eu obedeço sem medo, meu Senhor e meu Deus.

E que lá seja feita tua morada ontem, hoje e sempre, amém!

Homem meu, eu te louvo e te bendigo e te venero...

Quero ser tua terra prometida, solo fértil onde teu sangue habita e onde me regas dia e noite, noite e dia sem me dar descanso.

Eu quero a exaustão do peso da tua mão a maltratar-me o corpo sem dó e nem piedade.

Teu ciúmes, meu ciúmes

a dizer de nós e que ninguém mais se aproxime da soleira do teu corpo e do meu.

Nada e nem ninguém tenha o poder de fogo maior que o nosso a apagar nossa chama conjunta.

Que ela seja inabalável, perene e profunda!

Assim seja! Axé!

Que ninguém se aproxime desse templo que é meu e é onde me ajoelho e rezo e imploro e confio que vou receber.

E tu, como bom Deus que é, não me decepciona!

Está repreendida, em nome da deusa, a presença de toda e qualquer tinderlet a te seduzir pro pecado da carne.

A carne meu senhor, a carne que te pertence, é somente essa que tu rasgas e invade quando e como bem quer.

Amém?

Amém!







Feito adolescente



Quisera, dentro dos teus olhos, morar.

Brincar, nos fins de tarde, de escorregar a boca úmida na descida do teu pescoço.

Quisera tu fosses barco e eu,  rio, a ti navegar.

Quisera que, dentro do meu ventre, tu acampasses teu membro/corpo, vida afora, amor adentro.

Eu acenderia fogueira, te beijaria os olhos, dançaria nua ao redor de ti como uma boa bruxa, moleca e feiticeira. 

Quisera aquecer teu coração para ele bater no compasso e, nunca mais, voltar a descompassar.

Quisera manter tua pressão arterial tinindo igual PA de menino,

12x 8 seria sempre o teu placar.

Quisera ser feliz contigo até nos domingos, com ou sem beira de mar ou noites de luar.

Quisera eu fosse um dos teus terrenos e tu quisesse somente, em mim, plantar e regar e, longe dos agronegócios, somente me preservar e cuidar.

Quisera ser esse aparelho ortodôntico que habita, dia e noite, noite e dia, tua boca e todo alimento do mundo, contigo, pudesse devorar.

Quem sabe até, ser teu celular, para o meu número, você sempre ligar.







Visita



Eu queria ter entrado descalça nesse chão que lhe criou. Sentir o pulsar daquilo que lhe conhece tão bem. Tão íntimo ficar no seu quarto. Tão perturbador não poder abraçar e beijar e fazer tudo o que o corpo pede e, quase implora.

Você ali deitado, a gente falando de outras gentes, algumas tão sem importância nesse mundo que pede urgentes mudanças. As nossas esquerdas que nem existem mais. Seu corpo todo ali, distante poucos centímetros do meu. A voz do pai, o sorriso da mãe, a timidez do irmão. A família. A casa. O quarto. A cama. Você e eu e esse humano desejo que o tempo não perdeu. Teu cheiro, os olhos. Ah esses olhos, bem que poderiam ser só meus.

Enquanto falávamos nesse lugar de morada, eu abençoava tuas memórias, tua trajetória, pedia tua saúde, a proteção de tua família. Eu quis fazer parte. Ser a nora, a cunhada, a tua, tua, tua mulher safada, a zangada, mas principalmente aquela que faria qualquer coisa pra ver você feliz, sempre. Por um momento, por um triz, umas horas de uma noite que não foi uma noite qualquer, eu fui. Ter imaginação fértil é uma coisa muito louca. Fui dormir sorrindo, acordei com um castelo no meu coração e, só agora, ponho o pé no chão...

Você nem me comeu, mas me deixou cheia de tesão.







(E)feito tatuagem 



Quanto mais o carro se aproximava da sua casa, mais suada ficavam minhas mãos.

Foram quase dez meses esperando teu corpo dentro do meu.

O calor, o gosto da boca, teus olhos olhando os meus. 

As mãos firmes e fortes sobre e entre meus cabelos, me puxando e me dizendo: você é minha!

Eu me rendendo, cedendo ao que tu bem querias, no teu tempo, do teu jeito. 

Eu gosto de satisfazer teus desejos, eles também são meus.

A forma bruta com que me toma nos braços e me beija e me bate na bunda e me marca como se fosse tua. 

E sou! E sou e é assim que eu quero. 

Assim como é meu esse teu pênis quando me beija ardentemente por dentro e me molha e quase goza. 

Nem a nada e nem a ninguém você pertence. 

Ali você também é meu, só meu e, meu ciúmes não gosta nem de imaginar o contrário.

Essa entrega, ser um do outro, sem pena e nem dó!

Eu gozo!

Eu gozo quando me diz

— abre as pernas —

quando me diz — só mais um pouquinho — 

quando me deixa louca de raiva e tesão.

Eu sinto que nada nem ninguém, tem o poder de me tocar tão profundo.

Eu gosto de ser tua, de me despir pra você, de abrir minha boca pra te receber.

Gosto de mapear tua cicatriz e dizer que tá mais lindo que antes.

Gosto quando me faz rir e me faz zangar.

Eu gosto de você nego, eu gosto.

Eu gozo, eu oro nesse teu corpo que me devasta, que bota fogo no meio das minhas águas.

Eu saio de mim com você fazendo festa no meu dentro.

Eu viro sereia

Puta

Ninfa

tudo o que queres, eu sou!

Pra onde me mandar, eu vou!

Queria ficar no teu corpo como tatuagem como tu ficas no meu.

Teu corpo não podia nunca, se desviar do meu.

O meu? O meu há tempos que é só teu. Só teu.

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Argentina Castro escreve poemas, contos e crônicas e faz arte colagem. É idealizadora da Biblioteca Comunitária Papoco de Ideias, na periferia de Fortaleza/CE, onde garante o direito cultural de crianças e adolescentes. Participa de algumas antologias/revistas/e-books como escritora, organizadora, curadora: O Olho de Lilith, A Banalidade do mal, Paginário, Manifesto Balbúrdia Poética 80 Tiros, Ser uma boa ancestral: mulheres que escrevem, Relicário, O amor nos tempos de lonjura, Sibilas, Laudelinas, Maracajá, Farpas, Berro, Carinhanha: entre rios de histórias. Foi selecionada pelo Itaú Cultural no Festival Arte como Respiro (2020). É filha de uma mulher indígena e de um homem vaqueiro. E, com eles, ouviu as primeiras e melhores histórias de sua vida. Ler, foi depois. Arrisca-se a dizer que gosta de cães mais do que de gente. Aliás, acha-os mais gente do que muitos humanos. É canceriana com vênus em Câncer mas, seu ascendente é em Áries, graças a Deusa! Para Argentina, escrever é como abrir janelas.


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