Marcelo Gomes Dolabela: Nasci em Lajinha, na Zona da Mata mineira, em 17/9/1957. Sou filho de Maria das Dores Gomes Dolabela "Dona Dorinha" e de René Dolabela. Tenho sete irmãos: Rubens, Marcos, Regina, Maria Hilda (já falecida), Marconi, Maria Fâni e Marlon. Em minha formação, foram fundamentais o auxílio luxuoso de: minha avó — Dona Hilda Motta, minha madrinha — Edméa Rabello, meu avô — Aristides Dolabela, meu irmão — Marcos. Meu contato com poesia e música se perde na minha história. Minhas primeiras reminiscências dessas duas parceiras são: aos seis anos, sentado no gabinete odontológico de meu pai, tentando redesenhar um bico-de-pena de Arthur Rimbaud, no livro Um temporada no inferno / Iluminações, de 1957, em tradução de Lêdo Ivo; e meu pai falando e declamando seus poetas favoritos: Alphonsus de Guimaraens, Antônio Nobre, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Luís Vaz de Camões, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Raul de Leoni. Comentando sobre música: Época de Ouro – Ary Barroso, Custódio Mesquita, Dorival Caymmi, Ismael Silva, Lupiscínio Rodrigues, Noel Rosa, Wilson Batista. Samba-Canção – Dick Farney, Dolores Duran, Dóris Monteiro, Lúcio Alves, Maysa. Bossa Nova – Antônio Carlos Jobim, Astrud Gilberto, Baden Powell, Carlos Lyra, Elis Regina, João Gilberto, Sylvinha Telles, Tamba Trio, Zimbo Trio. O Rock and Roll entrou pelas margens – Alice Cooper, Beatles, Bob Dylan, Carpenters, Creedance Clearwater Revival, Crosby, Stills, Nash & Young, Deep Purple, Emerson, Lake & Palmer, Frank Zappa, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Pink Floyd, Rolling Stones, The Who, T. Rex; Clube da Esquina, Mutantes, Novos Baianos, Sá, Rodrix & Guarabyra, Secos & Molhados, Tropicália. De fundo, o Cine Glória, de meu tio Major Rabello. A leitura dos cadernos de cultura dos jornais cariocas Correio da Manhã e Jornal do Brasil. Residi em Lajinha até 1972, já escrevia versos e compunha com meu parceiro Sérgio Guimarães, nos grupos Birds Road's Sorrow e Zero. No ano seguinte, fui estudar no Colégio Evangélico, em Presidente Soares (hoje, Alto Jequitibá), aos pés do Pico da Bandeira, na Serra do Caparaó. Em 1974, vim para Belo Horizonte, cursar os dois últimos anos do Científico e fazer o técnico de Análises Clínicas, no Colégio Champagnat. Conheci os sebos, as livrarias e o Arquivo Público. Em 1976, ingressei no curso de Medicina Veterinária, na UFMG. No básico, no ICB (Instituto de Ciências Biológicas), fiz contato, via Ná Guerra e Luís Antônio Zanon, com o Movimento Estudantil e o cineclubismo. Na ocasião, publiquei meus primeiros poemas, fiz meus livretos mimeografados e algumas peças gráficas. Na virada de 1977 para 1978, surge o coletivo Cemflores e a vida realmente acontece: Dadá, Futurismo, Cubo-Futurismo, Construtivismo, Bauhaus, Modernismo, Poesia Concreta, Neoconcretismo, Poema Processo, Tropicália, Poesia Marginal, Arte Postal, Nouvelle Vague, Cinema Novo, Cinema Marginal, Rock, Punk Rock, Pós-Punk, John Cage, Zen, Haicai, Pré-Rafaelitas, Simbolismo, Barroco, Psicanálise, Pós-Estruturalismo, Análise do Discurso, Nova Retórica. E vieram: os grupos Sexo Explícito, Divergência Socialista, Mad Marx e Caveira, My Friend. As publicações: Aqui Ó, Alegria Blues Banda, Boletim Literário do D.A. ICB, Cemflores, Punhal, RedDia, Cemflores-Pirata, Gass, Let It Rock, Fahrenheit 451, Inferno, Dezfaces. As coleções: Dez X Dez, Temporada de Poesia, Poesia Orbital. Os festivais: Bienal Internacional de Poesia, Festival Internacional de Poesia, BHRIF – BH Rock IndependentFest. Os roteiros cinematográficos para Patrícia Moran e Rafael Conde. O teatro com Ana Gusmão. Mais de 60 livros e livretos — solos ou em parcerias. Com destaque para o ABZ do Rock Brasileiro, de 1987. Possuí a BoogieWoogie Livros, em parceira com Fatinha Lamounier e Fernando Pires; e o barzinho Press, no Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, com Paulinho Brito. E mais: Arte Postal, performances, exposições, mostras, design gráfico, militância político-cultural, a paixão pelo futebol (Clube Regatas Flamengo, Cruzeiro Esporte Clube, Associação Atlética Ponte Preta, União Futebol Clube — de Lajinha). Tive e tenho ótimos parceiros. Na poesia: Adriana Bizzotto, Adriana Versiani, Alisson, Álvaro Andrade Garcia, Ana Caetano, Avanilton de Aguillar, Camilo Lara, Carlos Augusto Novais, Carlos Barroso, Cássio Martinho, David Ranciaro, Denise Mendes, Dilma Quadros, Emília Mendes, Gato Jair, Ilka Boaventura, Juca, Júlio Emílio Tentaterra, Luciana Tonelli, Luciano Cortez, Levi Carneiro, Marco Antônio do Espírito Santo — Pipi, Marconi Dolabela, Maria José Bretas, Mário Aléxis, Marlon Dolabela, Maysa Gomes, Roberto Soares, Rubinho Troll, Vanita de Aguillar, Vera Casa Nova, Virgílio de Mattos. Na música: Alessandra Drummond — Aleca, Alexandre Gallo, Ana Gusmão, Bob Faria, Bruno Verner, Carlos Henrique — Tonael Grael, Clôde, Délio Esteves, Dota, Duzão Mortimer, Fabiana Figueiredo — Fabiane Andropov, Fernando Azevedo — Nando, Fernando Righi, Francesco Napoli, Gato Jair, George Sathler, Iberé Carneiro, John Ulhoa, Marcos Pimenta, Mário Santiago — Marompas, Misael Penna, Paulinho Brito, Roberto "Nosso" Fonseca, Roger Bacoom, Roger Mendonça, Rubinho Troll, Sérgio Guimarães, Silma Dornas — SilmaBijouxO'Hara, Silvana Monteiro — Madonna Cover, Walter Augusto Jr. — Waltão. No amor: Kátia Emerick, Maria Lúcia Marchena de Moraes — Lucinha, Sigrid Tomich dos Santos, Denise Ferreira Mendes, Maria de Fátima Lamounier — Fatinha, Ana Paula Alves Condé, Maria da Glória Cardoso de Campos, Maria Aparecida de Carvalho — Tida, Maria Regina Lage Guerra — Ná. Amigos são e foram muitos e exclusivos, inclusive os tantos já citados. Como meu companheiro Eduardo "Duda" Albuquerque, que quer e está se preparando para viver 120 anos, sei que, se cair na área, é pênalti. Sem grandes esperanças, espero seguir, pelos próximos 60 anos, jogando bola, fazendo música e poesia. Até 2077. Pois, na vida — vide Vieira — não dá para ser breve.

 

 

Em 2017

 

 

Nota da editora: Marcelo Dolabela — poeta, roteirista, músico e artista audiovisual — morreu em 18 de janeiro de 2020, aos 62 anos, em razão de um AVC sofrido em 2019. Foi velado até a meia-noite do mesmo dia, na Casa do Jornalista, em Belo Horizonte. A pedido dele, o velório foi regado a música, cerveja e poesia: um sarau em sua homenagem, feito pelos amigos. No dia seguinte, foi enterrado em Lajinha/MG.