A doce e meiga Clara, com a beiçola
fazendo um bico grande de chupeta,
faz sons com a garganta até que eu meta
a piça nessa cave, que se assola.

 

Assim, pois, ela gosta que aconteça,
espera todo dia o de direito,
e, mesmo que eu a não levasse ao leito,
iria Clara já gozar à beça.

 

Deixava de comer pra pôr na boca
a carne malpassada e nada oca,
tão dura e resplendente como o aço.

 

Os lábios Clara enfeita com batom
e a língua refaz sempre ela em pompom,
pra deles eu tirar novo cabaço!

 

 

 

 

 

Pois Clara, bem mais alva que a neve,
co ventre e o sesso d'uma tal brancura,
tão glabra, escuro pelo, ali, loucura
achar no corpanzil que se descreve.

 

Pois Clara, além de alva, é bem madura,
em dares e gozares subscreve;
fiado é que o sabido, pois, prescreve,
e a Glória co'a Fortuna se tortura.

 

Um dia fui meter eu no seu cu
— o prêmio que do beijo grego herda
quem come o prato quente, mas não cru —

 

e, quando lhe apliquei a minha cerda,
subiu-lhe, do recôndito baú,
pois nada alva — nada alva merda.

 

 

 

 

 

Clara, disse eu há pouco, é mui, mui branca,
e um dia, o sabeis já, aconteceu:
ao que eu — em cheio —, às tantas, entre as ancas,
emporcalhou-se em merda o talo meu.

 

Mas bosta nunca, a mim, me botou banca;
meu pau, se guerrear num Coliseu,
leões com dois tabefes fácil espanca,
guerreiros, em dois tempos, torna ateus.

 

Na mesma hora então continuei,
co cabo besuntado de marrom,
qual quem come e lambuza-se — um bombom;

 

e ao fim com porra aquilo eu lavei,
erguendo do trabalho assim o tom:
da alvura, um pouco, ao menos, resgatei.

 

 

 

 

 

[imagem ©james houston]

 
 
 
 
 
 
 
Diego Fracari nasceu em 91 e foi criado em São João da Boa Vista/SP. Estuda língua e literatura russas na faculdade de Letras e escreve sonetos a Clara e a outras. Arrisca-se no blogue Fragmentos de nada disso. Vive em São Paulo.
 

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