fonte | marcel duchamp | 1917 | réplica 1963
 
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

O aposto 
e o hermetismo 
tal urina, urinol 
um coração expande amorfo 
a decompor dejetos metafísicos. 
Cavo, calva, a cova. 

 

 

Razão

 

 

Esse poema foi escrito no último ano da faculdade, tempo de muitas indefinições, de cumprir todos os protocolos do final de curso, contratempos e improvisos. Lembro-me que terminei um namoro e, horas depois, sentei-me à mesa de uma livraria na região da Savassi (BH), para pensar. Pedi um café expresso e adicionaram conhaque. Encostei os lábios na xícara e percebi a alteração na bebida, o amargor do conhaque, no exato momento em que vi um livro dedicado ao trabalho de Marcel Duchamp com o urinol na capa.

Resignada com todo o sofrimento daqueles tempos, pedi uma caneta emprestada à garçonete — sem reclamar do café —, e escrevi ali mesmo o poema. Fiz pouquíssimas adaptações, porque pensava há dias na expressão "coração amorfo".

No dia seguinte, enviei o poema por e-mail ao Suplemento Literário de Minas Gerais e, em menos de dez minutos, recebi uma resposta positiva sobre a sua publicação na próxima edição. O poema foi publicado no Suplemento, em março de 2006, na edição em homenagem ao poeta Augusto de Campos. 

 

setembro, 2013
 
 
 

Simone de Andrade Neves (Belo Horizonte/MG).  Poeta, autora de O coração como engrenagem, 1994. Tem publicações em diversos periódicos, entre eles, Suplemento Literário de Minas Gerais, Revista Mininas (MG/SP), Revista Polichinello (PA), Revista Poesia Sempre - Fundação Biblioteca Nacional (2011). Participou, como convidada, do projeto "Arte no Ônibus", em 2006, e da Pelada poética (Belo Horizonte: Scriptum, 2010 e 2013).

 

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