sem título | mauro piva | óleo sobre tela | 100X80 cm | coleção particular | belo horizonte | 2006
 
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

a insônia bateu 
redundantemente nos olhos
as palavras cruzam com roupas de bailarina
os corredores
e a sala.
a insônia com a chave do sono
abre as portas dos olhos no começo
da noite
e me segue até às 5 da manhã.
nenhum bocejo
parece mostrar o anúncio
de entregar das pálpebras
e pensamento.
a insônia é só
não se alimenta de fumo
cartas resistem nos poemas
poemas não chegam 
a artilharia de cartas
as cartas poderiam assassinar a solidão
a solidão de livros
e de homens
a inócua solidão humana 
parece perversa e sem cura
a solidão ultrapassa 
a ideia de estar entre gente
a mesma solidão de Cristo
ao ver Barrabás
a solidão e a insônia
desamparo do sono
que às 5 da manhã

é igual ao do início da noite.
agora
o poema 
é solidão 
de palavras
a insônia cata nos olhos
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Razão

 

 

A poesia como burilação de uma linguagem incógnita: o construto da poesia, no meu caso, é a tratativa de vários ensaios para entrar na fenda polissêmica da palavra. A palavra, na poesia, tem a submissão de transmutar no verso uma outra bem diferente da visualizada ou ouvida, é isto que procuro na criação do texto poético, desconstruir a identidade fisionômica do verbete, reinventá-lo no contexto semântico.

 

O poema aparece para mim como uma voz interior não decodificada, busco palavras para representar o seu sentido, insano embate em torno de algo que mais se avizinha à sua linguagem. A relação com a escrita é pautada, em alguns momentos de sequidão, em que tento e não consigo rabiscar nada que agrade a minha natureza poética, e outros de abundante produção, contudo apenas consigo semi-finalizar os poemas, raramente, concluo-os numa primeira tacada.

 

Na labuta com a escrita, sofro no período que a antecede, sinto estranhas reações fisiológicas e psicológicas, uma espécie de mal-estar que temporariamente acomete-me minutos antes de pôr parte do poema no papel ou digitá-lo no computador. Creio que esta sensação é análoga à catarse, diferenciando-se no quesito de muitas vezes, ela ser apenas um pseudo-conteúdo dramático, que não tem aparente relação causal com os eventos do cotidiano.

dezembro, 2013
 
 
 

Jean Narciso Bispo Moura (Itaquaquecetuba/SP). Poeta, professor de filosofia, formado pela Universidade Metropolitana de Santos, pedagogo, psicopedagogo e especialista em Docência do Ensino Superior, escreve desde os 14 anos de idade. Publicou seu primeiro livro de poemas em 2002 e tem poemas publicados em diversas revistas eletrônicas, sites e blogues do Brasil, Estados Unidos, Chile, Romênia e Portugal. Participou de saraus em universidades e escolas públicas estaduais. Publicou A lupa e a sensibilidade (Casa do Novo Autor Editora, 2002), 75 ossos para um esqueleto poético (Casa do Novo Autor Editora, 2005), Excursão incógnita (All Print Editora, 2008), Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (Becos do Beco Dos Poetas, 2011) e Psicologia do efêmero (All Print Editora, 2013).

 

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