©m.p. biela
 
 
 
 
 
 
 

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Este texto é uma versão revisada da breve palestra que apresentei para o

curso Rio Branco, em 2007, a convite de Ana Rüsche

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Talvez a primeira coisa a se dizer sobre Eliot, neste encontro, é que ele foi sobretudo um poeta daquilo que Ezra Pound chamou logopéia, e que definia com um circunlóquio retórico: "a dança do intelecto entre as palavras".

Eliot era um poeta muito intelectual1, e isso vinha, além dos mistérios da inclinação pessoal, do modo como foi ensinado: estudou num colégio preparatório — aprendeu latim, francês e alemão —, teve bacharelado e mestrado em artes, completou seus estudos na Sorbonne, dedicando-se à filosofia — estudou com alguns dos maiores filósofos da época: George Santayana, Bertrand Russell, Henri Bergson e Irving Babbitt. Passeou por Paris e pela Europa como estudante, se tratou de moléstias nervosas, como era a moda, em Lausanne, na Suíça, em 1921. Curiosamente, uma moda decadente, finissecular, se pensamos na neurose, a doença dos nervos sensíveis, que vem do Poe de "The Fall of the House of Usher" e chega como um código ao Huysmans de À Rebours em menos de um século.

Não por acaso, a influência mais marcante de sua poesia inicial seria o poeta franco-uruguaio Jules Laforgue (1860–1887), morto prematuramente de tuberculose e autor de poemas de delicadíssima ironia, concentrada em desmontar os clichês do período romântico de dentro para fora, um pouco como Heinrich Heine (1797–1856) fizera antes dos dois em alemão. Eliot imitou Laforgue diretamente algumas vezes, como no poema de título francês, "Conversation Galante". Basta comparar uma estrofe de cada.

Laforgue, primeira estrofe de "Outro Lamento de Lord Pierrô", na tradução de Augusto de Campos:

 

Essa que vai me pôr ao corrente da Fêmea!

Eu lhe direi, então, com ares indiscretos:

"A soma dos ângulos de um triângulo, minh'alma,

"É igual a dois retos".2

 

E Eliot, primeira estrofe de "Conversation Galante", na tradução de Ivan Junqueira:

 

Observo: "Nossa sentimental amiga, a Lua!

Ou talvez (é fantástico, admito)

Seja o balão do Preste João que agora fito

Ou uma velha e baça lanterna suspensa no ar

Alumiando pobres viajantes rumo a seu pesar".

E ela: "Como divagais!"3

 

É notável como escreve "à moda de" Laforgue, empregando a estrutura de diálogo, as inconsistências do falso discurso amoroso, o vocabulário fantasioso ou científico.

Ezra Pound descobriu o jovem poeta estadunidense, que viria a ser um de seus mais constantes amigos, quando era editor estrangeiro da revista Poetry. Conseguiu a publicação de "The Love Song of J. Alfred Prufrock", um verdadeiro escândalo, quem diria, pela imagem que abre o poema, comparando o céu a um paciente anestesiado sobre uma mesa.

Devemos lembrar que o comum à época eram, ainda, poemas que jamais se arriscavam a uma comparação tão esdrúxula, e se escandiam por métrica regular (além de exibir o cauteloso descuido de rimar direito). Não porque imagens esdrúxulas jamais tivessem sido tentadas e conseguidas, mas porque Eliot seria o crítico que reabilitaria, anos mais tarde, alguns desses poetas do século XVII, os chamados metafísicos (John Donne, George Herbert, Andrew Marvell, etc). Naquele momento, as designações vitoriano e eduardiano eram as de uma poesia cada vez mais desimportante, frágil e convencional no pior sentido do termo. Uma poesia de almanaque.

O ano é 1915, e Eliot parece ser o primeiro indício de que a poesia de língua inglesa enfim chegava a algo igualmente moderno e distinto das demais vanguardas européias que vinham representando a revolução artística desde 1909, ao menos. O que quero dizer a vocês, e talvez fique mais claro ao abordarmos o poema, é que o mundo passava por uma mudança de sensibilidade, no fundo, ainda em curso nos nossos dias: a percepção de tempo, idéias de moralidade, de sociedade, organização política, ciência, etc. passavam por alterações.

O que é a poesia de Eliot? Nesse contexto, um dos exemplares mais notórios de como essa mudança de percepção se transformava em arte num dos artistas mais perceptivos de sua época. Em seus versos, comparativamente, está o registro desse processo. Temos meia hora, hoje, para desenvolvermos uma noção do que ele fez. Para isso, trouxe um dos excertos mais representativos de seu mais famoso poema, "The Waste Land".

Trata-se da parte I, chamada "The Burial of the Dead", ou "O Enterro dos Mortos". Devemos de início localizar o poema no tempo, porque é particularmente importante, neste caso. Estamos em 1922. A Primeira Guerra acabou em 1918, e a Europa ainda está recolhendo seus cacos (ou, propriamente, enterrando seus mortos) depois da devastação. Eliot também, só que inclui os de sua vida pessoal: um casamento infeliz e uma crise nervosa — para o que colaborava o desanimador emprego de bancário do Lloyds Bank — o levam a uma licença de três meses e a uma estadia em Lausanne, já mencionada, para a recuperação.

Sabemos que em 1915 ele havia chocado o mundo literário com a ousadia de Prufrock; "The Waste Land", segundo críticos como Richard Ellmann e Malcolm Bradbury, teria começado a ser escrito antes mesmo da guerra. A partir daí, Eliot tem uma boa quantidade de correspondência com Ezra Pound sobre o poema, e em 1971 foi publicado o manuscrito mostrando que Pound operou um enorme trabalho de edição no texto final de "The Waste Land", sugerindo cortes que o reduziram a mais ou menos um terço do original, dotando-o de maior energia e concisão4. 

A última redação do poema causa tamanha impressão em Pound que ele afirma, ainda àquela altura (1922) serem aquelas as dezessete páginas mais importantes da poesia de língua inglesa do século XX, e confessa ter inveja do feito do amigo mais jovem. Foi uma profecia bastante verdadeira: o poema é publicado e todos os escritores e poetas percebem que é um divisor de águas. Mesmo William Carlos Williams, que nunca sentiu uma doce simpatia por Eliot, admite que aquele poema havia jogado os seus "vinte anos pra trás".

Por quê? Ninguém ainda havia proposto semelhante desafio à leitura, ao mesmo tempo tão intrigante e vivo. Podemos supor que, devido ao estilo fragmentário e às freqüentes colagens e mudanças de foco, a experiência inicial com o poema à época deve ter sido semelhante a ficar girando o sintonizador de estações de um rádio: você pega pedaços de palavras e frases, mas acha o todo uma completa e incômoda incoerência.

Há um começo mais ou menos típico de poemas razoavelmente solenes, mas dizer que abril (a primavera no hemisfério norte) é o mais cruel dos meses soa estranho5; após algumas linhas, o leitor é lançado em diálogos nos quais é incapaz, ou quase, de  entender quem está falando; somado a isso, há o poliglotismo do poema, e citações em francês, alemão e até em sânscrito, além de profusas alusões a outros poetas distantes em tempo e cultura que constituíam, eu imagino, a barreira definitiva e o desejo do leitor médio de que o sr. Eliot fosse trancado o quanto antes numa sala acolchoada.

Muitos anos depois, e acostumados a zapear o controle de TV por infinitos canais e pedindo cada vez mais velocidade nas conexões de rede, creio que a dificuldade se vê muito reduzida. Há muitos hoje, inclusive, que torcem o nariz para a poesia de Eliot porque a consideram, pasmem, muito "clássica"6, seja lá o que isso signifique — e pode significar muitas coisas diferentes. Há uma impressão razoavelmente generalizada, hoje — e certamente injusta —, de que Eliot era um mesmo um conservador, porque monarquista, porque anglicano, porque classicista. Acho que as opiniões de um autor contam pouco diante de como registrou sua percepção, que é o que me interessa aqui. Vamos à primeira parte do texto.

O início situa o poema num contraste com o velho mote das comemorações em verso da primavera, que remetem a ritos agrários mais velhos ainda, e que já podem ser lidos através da lembrança de Chaucer nesses versos, no “Prólogo” dos seus Canterbury Tales (Contos da Cantuária, escritos entre 1384 e 1400), que começa naquela exaltação primaveril bastante comum desde os trovadores da Provença: "Whan that Aprille with his shoures sote":

 

Quando o chuvoso abril cortou feliz

A secura de março na raiz,

E banhou cada veia no licor

Que tem o dom de produzir a flor

                                               etc.7

 

No poema de Eliot é primavera, mas ela é cruel porque a voz do poema está em desacordo, ela nos fala de um tipo de sofrimento que não se coaduna com a alegria do tempo. É ainda uma primavera sem viço, e essa falta de viço é coisa que todos os poetas começaram de uma forma ou de outra a apontar na sociedade européia depois de 1914. Por isso, aliás, o título do poema pode ser traduzido como "A Terra Estéril", (ou Terra Gasta, Terra Desolada, Terra Baldia) e remete à terre gaste, tópica das lendas medievais arturianas de quando o rei pescador adoece, e a terra adoece com ele, porque há um contínuo de sentido entre o monarca e a terra que repropõe um nexo anterior dos rituais agrários entre o deus e a terra, assim como lemos no livro The Golden Bough, (O Ramo Dourado), escrito por James George Frazer em uma pilha de grossos volumes, e que Eliot cita nas notas ao seu poema.

É um livro que coleciona as antigas histórias mitológicas e busca nelas o sentido etnográfico de cada um de seus aspectos, seja o tabu, a adoração, as metamorfoses, a relação com o plantio e a colheita, a sexualidade, etc. Eu recomendo. Belo livro; bastante instrutivo, também.

E há, tecnicamente, o interesse dessas rimas muito triviais de gerúndio — ou present participle — que penteiam ao contrário o início solene. Junto com isso, entramos em diálogos que mudam o foco para uma voz feminina, Marie, que leva a solenidade embora numa encenação de conversa comum. Por pouco tempo, aliás, pois o próximo trecho alude às vozes proféticas da Bíblia, ecoando Ezequiel e o Eclesiastes. O tom muda da conversa casual de uma nobre da Bavária que deita com seu primo (na ambigüidade de and down we went) para uma voz que irrompe no poema comunicando a desagregação da paisagem em deserto.

O poema todo está baseado na secura, na dureza e esterilidade da pedra associada à esterilidade do Ocidente, que perdeu a transcendência, a dimensão simbólica e a idéia de sagrado.

Mas rapidamente, também, o foco muda de novo: surge um trecho do libreto de Tristão e Isolda, história que canta um amor indomável e fatal (contraposto à casualidade da delicada classe moribunda, a nobreza, ou da gravidade profética das pedras e do deserto) e somos logo transferidos para o curioso momento da garota dos jacintos, um deslumbramento de amor transformado em luz, ou no coração do silêncio, onde nem a palavra cabe. Mas também é breve, pois lá está o vazio novamente, e novamente numa citação de Tristão e Isolda, que diz isto aqui: "O mar, imenso e vazio", como diríamos, no caso, o amor.

O trecho seguinte, o de Madame Sosostris, nos devolve ao Eliot irônico de grande parte de seu primeiro livro, Prufrock and other observations (1917), que aqui resgata a idéia de sagrado, mas tomada de um esgotamento que a propõe como coisa mercantil, banal, como uma espécie de hocus-pocus no wicked pack of cards de Madame Sosostris, onde Eliot até enfia um verso de Shakespeare, na canção com que o doce e mágico Ariel engana Fedinando sobre a morte submarina de seu pai, em The Tempest. É um trecho onde os ritos sagrados ganham um subtexto farsesco dentro do poema..

E, no final desta primeira parte surge enfim a cidade formigante, cidade repleta de sonhos8 de "Les Sept Vieillards" (Os Sete Velhos), das Flores do Mal de Charles Baudelaire, poeta que Eliot admira — escreve sobre ele ensaisticamente, aliás — e um dos que, com Edgar Allan Poe, começaram a assinalar na literatura o surgimento da massa de pessoas transbordando nas metrópoles que hoje nos afligem.

Mas essa referência surge numa combinação particularmente curiosa: aparece, como vimos, na visão de multidões na ponte de Londres e é cruzada com uma paráfrase de versos de Dante Alighieri na Divina Commedia, mais especificamente do Canto III do Inferno, que dizem: (…) si lunga tratta/ di gente, ch'io non averei creduto/ che morte tanta n'avesse disfatta, ou "(…) enorme multidão surgia,/ tantos que eu não podia imaginar/ tivesse a morte aniquilado um dia"9.  Ou seja, Eliot já vê a turba como uma massa inumana, infernal, e estabelece esse circuito bastante fecundo de Dante a Baudelaire.

Então, a parte I está terminando numa visão infernal; para completar, temos uma alusão à Primeira Grande Guerra de que falávamos antes, agora na figura de Stetson, o que planta cadáveres. É, finalmente, o enterro dos mortos. Não apenas os muitos mortos de uma guerra, mas a sensação de sepultamento de uma civilização, a européia, com aqueles ecos da idéia arcaica de fertilidade sendo minada pela época atual. Eliot então se dirige, novamente como Baudelaire, a seus leitores, para lhes dizer mais ou menos como diria Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente./ E os que lêem o que escreve,/ Na dor lida sentem bem,/ Não as duas que ele teve,/ Mas só a que eles não têm".

Eis o hypocrite lecteur, é claro, preservado das dores da invenção, que deve se nutrir inicialmente da vida para desfigurá-la (ou reconfigurá-la, se se preferir) em forma depois. Como também Camões nos disse, através das idéias estóicas e neoplatônicas do poder da mente sobre a realidade: "Transforma-se o amador na cousa amada,/ Por virtude do muito imaginar", acrescentando ao final do soneto que a matéria simples busca a forma. A forma é um modo de fixar, e o registro escrito não é outra coisa.

No entanto, nós leitores partilhamos só a ilusão da arte, naquela reconfiguração que ordena o mundo ou o rejeita. Mas o trabalho da transformação da experiência, realizado pelo poeta, é doloroso por pressupor: a) reviver o que permanece alas! apenas em memória; b) exigir que se faça justiça à força com que se imprimiu na mesma memória. Esse trabalho é ausente no leitor, movido pela intensidade possível a essa sombra, a arte, que então encontra um eco, talvez esquecido, talvez ignorado, em sua própria experiência humana.

 

 

Traduções

 

Eliot foi traduzido para o português algumas vezes, e a mais completa e famosa tradução é a de Ivan Junqueira, que recebeu reedições da editora Nova Fronteira e, recentemente, uma edição em capa dura, muito agradável, da Arx.

As traduções que apresento hoje, feitas por mim para a primeira parte de "The Love Song of J. Alfred Prufrock" e para o "Enterro dos Mortos", de The Waste Land, buscam recuperar alguns elementos formais da escrita de Eliot, como as rimas calculadamente ordinárias (ou deliberadamente gozadas, p.e., "come and go/ Michelangelo), o ritmo precioso e interpretativo de certos trechos memoráveis (como "I see crowds of people/ walking round in a ring") etc., que não encontro na tradução de Junqueira.

Vamos a elas. A edição que utilizo é a dos Collected Poems (1909-1935), Harcourt, Brace and Company, Nova York, 1936:

De A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK

 

S'io credesse che mia risposta fosse

A pernona che mai tornasse al mondo,

Questa fiamma staria senza piu scosse.

Ma perciocche giammai di questo fondo

Non torno vivo alcun, s'i'odo il vero,

Senza tema d’infamia ti rispondo.

 

Vamos então, você e eu,

Quando a tarde sobre o céu já se estendeu

Como um paciente anestesiado sobre a mesa;

Vamos, por certas ruas meio desertas,

Refúgios ruidosos nas frestas

De noites mal-dormidas em hotéis baratos

E restaurantes poeirentos com ostras no prato:

Ruas que seguem como um tedioso argumento

De insidioso intento

Que leva a uma pergunta esmagadora...

"Qual?", não me pergunte aflita

Vamos lá fazer nossa visita.

 

Na sala as mulheres quebram o gelo

Falando de Michelangelo.

 

A névoa amarela que esfrega o dorso nas vidraças

A fumaça amarela que esfrega as fuças nas vidraças

Passou a  língua nas esquinas desta tarde,

Permaneceu no alagadiço sobre as poças,

Deixou cair às costas a fuligem que sai das chaminés,

Deslizou pelo terraço, mas num súbito salto,

Vendo que a noite era suave e de Outubro,

Curvou-se sobre a casa, e dormiu sobre o asfalto.

 

 

 

De A TERRA ESTÉRIL

 

I. O ENTERRO DOS MORTOS

 

Abril é o mais cruel dos meses, abrindo

O lilás em meio à terra morta, unindo

Memória e desejo, sacudindo

A raiz sem viço com chuva primaveril.

O Inverno nos aqueceu, vestindo

A terra em neve de esquecer, nutrindo

A pouca vida com tubérculos secos.

Veio o Verão de surpresa, surgindo no Starnbergersee

Com um banho de chuva; paramos junto às colunatas,

E seguimos sob o sol, lá para o Hofgarten,

E bebemos café, e conversamos por uma hora.

Bin gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.

E quando éramos crianças, na casa do arquiduque,

Meu primo, ele me pôs num trenó,

E eu tive medo. Ele disse, Marie,

Marie, segura firme. E fomos juntos.

Nas montanhas, é lá que nos sentimos livres.

Leio, quase a noite toda, e vou pro sul no Inverno.

 

Que raízes se agarram, que galhos crescem

Nessa imundície rochosa? Filho do homem,

Não podes dizer, nem suspeitas, pois conheces apenas

Um fiapo de imagens partidas, onde o sol bate,

E a árvore morta não serve de abrigo, os grilos não te aliviam,

E a pedra seca, sem som de água. Apenas

Há sombra sob essa rocha vermelha,

(Vem para a sombra dessa rocha vermelha),

E eu te mostro uma coisa diversa

Da tua sombra andando atrás de ti de manhã

Ou da tua sombra se erguendo de tarde ao teu encontro;

Eu te mostro o medo num punhado de pó.

 

Frisch weht der Wind

                        Der Heimat zu

                        Mein Irisch Kind

                        Wo weilest du?

 

"Você começou a me dar jacintos há um ano;

"A garota dos jacintos, ficavam me chamando".

—E quando voltamos, já tarde, do jardim dos jacintos,

Teus braços cheios, teus cabelos úmidos, eu não conseguia

Falar, meus olhos não viam, não estava

Nem vivo nem morto, e não sabia nada,

Olhando para o coração da luz, o silêncio.

Oed' und leer das Meer.

 

Madame Sosostris, famosa clarividente,

Pegou uma gripe forte, isso não obstante

É conhecida como a mais sagaz mulher da Europa,

Com um maço safado de cartas. Aqui, disse ela,

Está sua carta, o Marinheiro Fenício afogado,

(Aquelas pérolas que vês foram seus olhos uma vez. Veja!)

Aqui está Belladonna, a Senhora dos Rochedos,

A senhora das situações.

Aqui está o homem com três bastões, e aqui a Roda,

E aqui está o mercador caolho, e esta carta,

Que está em branco, é algo que ele leva às costas,

E que fui proibida de ver. Não acho

O Enforcado. Receie a morte por água.

Vejo hordas de gente, andando em redor numa roda.

Obrigada. Se vir minha querida Sra. Equitone,

Diga-lhe que o horóscopo eu mesma levarei:

Todo cuidado é pouco nestes dias.

 

            Cidade Irreal,

Sob a névoa marrom de uma manhã de Inverno,

Multidões inundam a Ponte de Londres, tantos,

Eu não imaginava que a morte tivesse aniquilado tantos,

Suspiros, breves e infrequentes, se exalavam,

E cada homem cravava os olhos adiante dos pés.

Subia a colina e descia a King William Street até

Onde Saint Mary Woolnoth marcava as horas

Com um baque surdo no último toque das nove.

Lá eu vi um conhecido e o parei, gritando: "Stetson!

"Você que estava comigo nas galeras em Mylae!

"O cadáver que você plantou ano passado no jardim,

"Já deu algum fruto? Vai vingar neste ano?

"Ou teria a súbita geada perturbado seu leito?

"Ah, mantenha o Cão afastado, esse amigo do homem,

Ou ele cava tudo de novo com as garras, também!

"Tu! hypocrite lecteur! — mon semblable, — mon frère!"

 

Essa foi a nossa brevíssima espiada na poesia de Eliot. Obrigado.

 

 

 

 

Notas

 

março, 2008