©devanath
 

 

 

 
 

 

 

 

4 delhis

 

 

meu planoexistencial de experiência e as extensas várzeas do

[rio Yamuna

criam um ângulo

inversamente proporcional ao aluguel de minha casa.

4 delhis.

 

se há um carro na rua

o carro na rua é carros.

pode ser editado como um videoclipe.

4 delhis.

 

há um casamento no segundo andar

e aqui estou eu, um estranho feliz como um voyeur sem uma

[razão convincente

viver pode ser como ser fumante passivo.

4 delhis.

 

eu posso escalar esta cidade como uma lagartixa contra

[a gravidade

posso enrolar esta cidade como velhos filmes fotográficos

posso ler e desconstruir esta cidade.

4 delhis.

 

eu nasci numa casa sem número. eu conhecia aquela casa

assim como o som das pulseiras de minha mãe. eu sabia.

agora vivo numa multicidade multiplicando-se verticalmente

[numa complexa matriz de números.

4 delhis.

 

 

[Publicado originalmente na antologia bilíngue, inglês/persa,

Where are you from, Nova Iorque.]

 

 

 

4 delhis

 

 

my existential plane of experience and the extended floodplains of  

Yamuna

create an angle

inversely proportional to my house rent.

4 delhis.

 

if there is a car on the street

the car on the street is cars

can be edited like a video clip.

4 delhis.

 

there is a wedding on the second floor

and here i am, a stranger happy like a voyeur without a convincing reason

living can be like passive smoking.

4 delhis.

 

i can climb this city like a lizard against gravity

i can roll this city like old photographic films

i can read and deconstruct this city.

4 delhis.

 

I was born in a house without a house number. I just knew that house

just like the sounds of my mother's bangles. Just knew it.

Now I live in a multiple city multiplying vertically into a complex matrix of numbers.

4 delhis.

 

 

[Originally appeared in the bilingual Anglo-Persian anthology

Where are You From?, New York]

 

 

 

 

 

 

Esta Noite Não É Para Poemas de Amor

 

 

Esta noite não é para poemas de amor

Podemos só nos sentar, quietos e indiferentes

Sabe o que quero dizer?

Tudo bem se você não sabe

Ainda me lembro daquele doce dezembro

Você estava ao meu lado

A vida era tão bela

Ainda me lembro de você empunhando um guarda-chuva verde

[contra um céu sofista

cinzento de histórias

E seus olhos chuvosos de palavras

Choveu naquela noite

Choveu muito

Esta noite não é para poemas de amor

Esta noite não é para poemas de amor

Esta noite é política

O rio vermelho do sangue que nos separa e une Você e Eu

[é um triunfo politico

Esta indiferença é estratégica

Um pan-óptico de esperança

Ainda me aprisiona como a estátua de bronze de Harappa

[enterrada por eras

Só para estar vivo

Nesta noite, em vez,

Vamos apenas sonhar

Como fazem quando amam

Sejamos rebeldes por uma causa

Como fazem quando amam

Vamos duvidar, discordar e denegar

Como fazem quando amam

Conflito é um camaleão faminto dançando furioso num

[carnaval puritano

E um carnaval é verdadeiro

Esta noite não é para doces poemas de amor

Esta noite são muitas e muito intensas

 

 

[Originalmente publicado na "Praxis Magazine"]

 

 

 

This Evening Is Not For Love Poems

 

 

This evening is not for love poems

We can just sit quiet and indifferent

You know what I mean?

You know I know

It is fine even if you don't

I still remember that sweet December

You sitting by my side

Life was so beautiful

I still remember you holding a green umbrella against a sophist sky

grey with tales

And your eyes rainy with words

It did rain that evening

It really rained

This evening is not for love poems

This evening is not for love poems

This evening is political

This red river of blood that separates us and unites

[You and Me is a political triumph

This indifference is strategic

A Panopticon of hope

Still imprisons me like the bronze statue from Harappa buried for ages

Just to be alive

This evening

Let us rather dream

Like they do in love

Let us be rebels for a cause

Like they do in love

Let us doubt, disagree and deny

Like they do in love

Conflict is a hungry chameleon dancing wild in a puritan carnival

And a carnival is true

This evening is not for sweet love poems

This evening is too many and too much

 

 

[Originally appeared in "Praxis Magazine"]

 

 

 

 

 

 

Raízes do Nirvana

 

 

Há uma cidade dentro do seu corpo

Há uma cidade dentro do seu corpo

barulhenta, nublada e antiga

Só isso

 

Tenho habitado seus guetos para preencher

Seus silêncios

Tenho vivido em suas margens como um perigoso complemento

resistindo e combatendo

as horas melancólicas

espalhadas em torno de seus olhos

 

Há uma cidade dentro do seu corpo.

Tenho habitado as esquinas dessa cidade

desajeitado

e encharcado de chuva

recolhendo raízes do nirvana

 

Que adorável

o modo

como você estende seu céu urbano e eu

[abraço a sua lua

amortecida pelos buracos luminosos de sua cidade iluminada!

 

Com muita frequência, eu roubo

estrelas do seu céu.

 

E as enterro em

maidams de memória com lendas de reis mortos

e heróis locais para que transcendam espaços de

[memória e vida.

 

Estrelas roubadas do seu céu terapêutico podem pintar tons

 

de tempos do trivanga.

 

 

 

[Notas do tradutor: "moidam" é um túmulo exclusivo da realeza e da aristocracia, na região de Assam, Índia."Trivanga bhasma"é uma formulação medicamentosa tradicional na cultura indiana.]

 

 

 

Roots of Nirvana

 

 

There is a city inside your body

There is a city inside your body

noisy, cloudy and ancient

Just that

 

I have inhabited its ghettos to fill up

its silences

I have lived its margins like a dangerous supplement

resisting and fighting

the blue hours

scattered around your eyes

 

There is a city inside your body.

I have inhabited the corners of that city

clumsy

and rain-clad

gathering roots of nirvana.

 

How lovely

the way

you spread your city skies and I embrace its moon

dimmed by the light-holes of your city lights!

 

Very often than not I steal

stars from your skies.

 

I bury them in

moidams of memory with legends of dead kings

and local heroes for them to transcend spaces of memory and life.

Stars stolen from your therapeutic skies can paint hues of

 

trivanga times.

 

 

 

 

 

Foda-se, Pundit Bukowski!

 

 

                            Para Charles Bukowski

 

 

Você escreveu tanto, tão cedo

Fecundo como sempre em dias de não-poesia.

Seu editor provavelmente disse

Foda-se. Foda-se. Foda-se.

Pundit Bukowski.

Você nos ensinou a arte de tocar o foda-se.

Um quarto de hotel bufando e exalando papoulas e suor.

[Um sonhador estava bêbado e

duplamente descartado do mercado.

Foda-se. Foda-se. Foda-se.

Pundit Bukowski.

Você as chamava de putas, não de trabalhadoras do sexo.

Coxas sedosas. Desejos algemados. Batalhas bêbadas.

[Lençóis vernaculares. 

Olhos de botão de rosa. Cegueira vendada. Impulsos fetais.

 

 

Foda-se. Foda-se. Foda-se.

Pundit Bukowski.

Um ente sem censura é o pesadelo dos Editores.

Você os desnudou com sua inteligência sem censura. Zombava

[deles. Fazia cócegas neles.

Faça o que você faz. Seu tutano é de verdade.

Foda-se, cara.

Foda-se. Foda-se. Foda-se.

Pundit Bukowski.

 

 

[Nota do tradutor: o termo "pundit" deriva do sânscrito "pandita", que designa o "homem culto, possuidor do conhecimento, aquele que sabe".]

 

 

 

Fuck You, Pundit Bukowski!

 

 

                            To Charles Bukowski

 

 

You wrote so much so soon

Fertile as always in days not of poetry.

Your publisher probably said

Fuck you. Fuck you. Fuck you.

Pundit Bukowski.

You taught us the art of not giving a fuck.

A hotel room huffed and puffed with cathowls and sweat.

[A dreamer was drunk

and doubly displaced from the market.

Fuck you. Fuck you. Fuck you.

Pundit Bukowski.

You called them whores, not sex workers.

Silken thighs. Handcuffed desires. Drunken battles.

[Vernacular bedsheets.

Rosebud eyes. Folded blindness. Foetal thrusts.

Fuck you. Fuck you. Fuck you.

Pundit Bukowski.

An uncensored self is Editors' nightmare.

You stripped them with your uncensored wit. Mocked them.

Tickled them.

You do what you do. Your bonemarrow is real.

Fuck you man.

Fuck you. Fuck you. Fuck you.

Pundit Bukowski.

 

 

[Originally appeared in the "Ramingo's Porch", Italy]

 

 

 

 

 

 

Selfies bêbados

 

 

Estou um pouco bêbado agora

como se estivesse bêbado e alvejado à queima-roupa

 

para uma proibição

 

Bêbado como se ferido por esta

noite, preguiçosamente

 

femme fatale com roupas desarrumadas em seu boudoir

 

Kamayani

 

Esta noite é uma louca melancolia com olhos saudosos

Um par de olhos com viraha podem ser tão atrativos

 

Todas as charadas são

 

Estou tão bêbado que posso ver

posso ouvir as nuvens matando pássaros com um sol embriagado

e posso cheirar o hálito do sol

Queria que os pássaros fossem uma república de sentimentos

poderia fazer voar uma bachata

 

sexy e sensual

 

poderia voar como uma crespa peça de jazz cortando em pedaços

[a orelha de Van Gogh

 

Estou bêbado agora

Bêbado mesmo

 

Às vezes, minhas noites são cheias de dualidades e paradoxos como

[selfies bêbados

 

Às vezes eróticos como vozes roucas e preguiçosas

 

 

Um oasis um platô um carnívoro uma serpente

um prarthana um idioma um círculo um beijo

um mrityu uma confissão

um moksha uma desculpa

uma shringara um trivanga

um karma um apasmara

um lihaaf um doha e o que não?

 

Minhas noites têm muitas faces

mas nenhuma proibição

 

Queria temer mais a morte do que temo formalidades

 

 

[Publicado originalmente no "Kwelli Journal", Nova York]

 

 

[Notas do tradutor:"Kamayani"é um poema épico da literatura hindu. "Viraha"é a consciência do amor através da separação. "Bachata"é um estilo sensual de dança. "Darshana"significa, em sânscrito, a visão de uma divindade ou pessoa sagrada. "Drishti" significa visão, foco, concentração (no yoga). "Prarthana"significa "oração", em sânscrito. "Mrityu"significa morte. "Shringara" significa amor, erotismo, atração, beleza, a essência de uma experiência sensorial. "Moksha"sgnifica a libertação do ciclo nascimento/morte. "Apasmara",na mitologia hindu, é um anão que representa a ignorância e o discurso ilógico. "Lihaaf"é uma colcha bordada. "Doha"é uma forma fixa comum na poesia hindi.]

 

 

 

Drunken Selfies

 

 

I am little drunk right now

as if I am naked and shot at point blank

 

for a ban

 

Drunk as if smitten by this

night lazily

 

femme fatale with disheveled cloths in her boudoir

 

Kamayani

 

This night is a crazy melancholy with eyes of longing

A pair of eyes with viraha can be so attractive

 

All puzzles are

 

I am so drunk that I can see

I can hear clouds killing birds with a tipsy sun and I

[can smell the sun breathe

I wish birds were a republic of sentiments

could fly a bachata

 

sensual and sexy

could fly like a frizzy piece of jazz cutting Van Gough's

ear into pieces

 

Darshana is drishti

 

I am drunk right now

Really drunk

 

Sometimes my nights are full of dualities and paradoxes

[like drunken selfies

Sometimes erotic like a lazy husky voice

 

An oasis a plateau a carnivore a serpent

a prarthana an idiom a circle a kiss

a mrityu a confession

a moksha an apology

a shringara a trivanga

a karma an apasmara

a lihaaf a doha and what not

 

My nights have many faces

but not a ban

 

I wish I could fear death more than I fear formalities

 

 

[Originally appeared in Kwelli Journal, New York]

 

 

 

 

 

 

Teia Perfumada

 

 

Adoro o modo como

Você olha para mim

 

Em estações ímpares do ano

Você merece matar

lindamente

 

Eu começo

como papoulas secas ao sol

 

seu cabelo

molhado

muitos anos de monções

 

sua pele

uma teia perfumada

drapejada de lágrimas fragrantes

tornando-se papoulas

 

Em estações ímpares do ano

Você está bonita

e

olha para mim

com esses

olhos negros, insolicitados

tornando a si mesma

mais inevitavelmente crível

 

que

eu morro no final desse seu olhar

 

como sempre

 

só para renascer

como sementes se tornando girassóis

num campo depois do plantio

insanamente amarelo

estúpidamente esperançoso.

 

A história do amor é uma história da inarticulação.

 

 

[Traduzido para o espanhol, foi publicado em "LiberoAmerica"]

 

 

 

Perfumed Gossamer

 

 

I love the way

You look at me

 

In odd seasons of the year

You deserve to kill

beautifully

 

I start

like poppies dried in sunshine

 

your hair

wet

yesteryears of monsoon

 

your skin

a perfumed gossamer

draped in scented tears

becoming poppies

 

In odd seasons of the year

you look beautiful

and

you look at me

with those

black unsolicited eyes

making yourself

more inevitably believable

 

that

I die at the end of that gaze of yours

 

like always

 

just to reborn

like seeds becoming sunflowers

in a field after tillage

insanely yellow

stupidly hopeful.

 

History of love is a history of inarticulation.

 

 

[Appeared in Spanish Translation in Liberoamerica]

 

 

 

 

 

 

O modo como ASSINO

 

 

Tudo num labirinto de mais-do-que-emoções

Cliquei em ASSINAR. Sim, tudo em letras maiúsculas. Sim,

eu as vi. Letras são seres engraçados.

Elas ainda se combinam para criar sentidos, se enturmam para 

[controlar minha mente

e lançar pontes em torno.

Pontes entre 'eus' são construídas com estímulos, e eu caminho

[através de mundos.

 

Uma invenção da semântica é um homicídio culposo, e eu caminho

[através de mundos.

Caminho por dentro contra a gravidade

ASSINO tudo num labirinto de mais-do-que-emoções

e discordo de você se disser

que emoções constroem pontes e a razão queima

a razão, na verdade, fortalece as pontes

a hiperrazão ASSINA

ou a hiperemoção?

 

ASSINAR é um duplo de mim mesmo

um substituto da nano-humanidade que se alinha com o mundo.

ASSINAR é aquele mais-que-real que sempre desejei habitar.

Desejos são um rio moldado por seu vale

e o vale é a negação de si mesmo.

O que é o desejo se eu alcançá-lo sempre?

 

E eu ASSINO.

 

 

[Publicado originalmente na "SETU Magazine"]

 

 

 

The way I SUBSCRIBE

 

 

All in a maze of more-than-emotions

I clicked SUBSCRIBE. Yes, all capital letters. Yes, I saw them.

Letters are funny beings.

They still combine to create meanings, gang-up to control my mind

and build bridges all around.

Bridges between selves are built with stimuli and I walk across worlds.

 

A figment of semantics is a culpable homicide and I walk across worlds.

I walk inside against gravity

I SUBSCRIBE all in a maze of more-than-emotions

I disagree with you if you say

emotions build bridges and reason burns

reason actually strengthens bridges

hyper-reason SUBSCRIBES

or hyper-emotion?

 

SUBSCRIBE is a second from my self

a proxy for the nano-humanity that stands with the world.

SUBSCRIBE is that more-than-real I always desired to inhabit.

Desires are a river shaped by its valley

and the valley is a negation of itself.

What is desire if I always get it?

 

And I SUBSCRIBE.

 

 

[Originally appeared in SETU Magazine]

 

 

 

 

 

 

Raízes São Pegajosas

 

 

Venho de um lugar onde a floração dos bambus e

mortes não-naturais são consideradas más

um lugar migratório cujas coordenadas de tempo estão

[presas em seu interior

um trapézio recheado com picles de broto de bambu e

[fatias de pizza Domino

reconciliados. É isso?

 

dopado num dialeto de dissociação

meu pequeno local de nascimento sente cócegas e espirra

até os espirros vêm empacotados hoje em dia

 

venho de um lugar que não tem bordéis nem vida noturna

seus dias são bestas famintas acariciando noites

em carros, multiplexes e parques. O humor está ativo, mas

[tímido

 

da honra aos mexericos

casamentos intercastas percorreram uma tediosa jornada

em minha pequena cidade para heterossexuais

 

a confissão é uma forma de protesto

e meu povo começou a falar, compartilhar, confessar

pela TV, Facebook, Instagram, Twitter, blogs etc. etc.

um lugar migratório

a migração é uma forma de liberdade um protesto em si

e o meu lugar está migrando com raízes pegajosas

 

 

[Publicado originalmente na "Scarlet Leaf Review", Canadá]

 

 

 

Roots Are Sticky

 

 

I come from a place where flowering of bamboos and

unnatural deaths are supposed to be bad

a migrating place whose time coordinates are trapped inside

a trapezium stuffed with bamboo shoot pickles and slices of

[Dominos Pizza

reconciliation. Is it?

 

doped into a dialect of disassociation

the small place of my birth feels ticklish and sneezes

even its sneezes come in packages these days

 

I come from a place that has no brothels no night life

its days are hungry beasts caressing nights

in cars, multiplexes and parks. Mood is on but shy

 

from honor to gossips

inter-caste marriages have covered a tedious journey

in my small town for heterosexuals

 

confession is a form of protest

and my people have started talking, sharing, confessing

on TV, Facebook, Insta, Twitter, blogs, etc. etc.

a migrating place

migration is a form of liberty a protest in itself

and my place is migrating with sticky roots.

 

 

[Originally appeared in Scarlet Leaf Review, Canada]

 

 

 

 

 

 

Um Monte de Caos

 

 

Caos 1:

 

quando o sol mortiço

cai sobre as sombras partidas

meu coração solta sua loucura da coleira

e eu me torno uma oração

estendida e plana como uma estrada aberta…

 

Caos 2:

eu sei o que esse enorme clamor significa para a multidão

porque estupra mil milhas de silêncio

porque plagia um rendezvous de dúvidas

porque se funde contigo e se funde comigo

neste mundo virtual de agonia quebrada

você se torna um elo em si mesmo

para ligar-se com milhares de links

 

Caos 3:

os anéis de fumaça que cheiram como sons

os quanta de meus pensamentos que estrondam como tormentas

com gotas de orvalho de silêncio que remendam V. no meu coração

a memória se torna reveladora com guinchos agudos

 

Caos 4:

riso que grita nossa dor

vamos dizer palavras que não se desdigam

estas horas perdidas

gotejam através de meus dedos como grãos de arenito

que caem e se juntam e zombam de mim como um juramento

assim como a madeira envernizada do meu sofá

eu pareço novo

no entanto, soluço e soluço em voz alta...

 

Apocalipse:

 

esperanças infindas de chuva sórdida

linhas infinitas de ressurreição

por que deverias pensar, ó coração selvagem

mistura de água seca em especiarias é um jogo?

 

 

[Publicado originalmente em "Visual Verse"]

 

 

 

A Bunch of Chaos

 

 

Chaos 1:

 

when the gloomy sunlight

falls upon the broken shadows

my heart unleashes its madness

and I become a prayer

lying flat like an open highway…

 

 

Chaos 2:

 

I've known what this huge outcry means to the crowd

'coz it rapes a thousand miles of silence

'coz it plagiarizes a rendezvous of doubts

'coz it merges with U and it merges with me

in this virtual world of broken agony

U become a link yourself

to link with a thousand links…

 

 

Chaos 3:

 

the smoke rings that smell like sounds

the quantums of my thoughts that break like thunderstorms

with dewdrops of silence that unbreak U of my heart

memory becomes a revealing with mighty shrieks

 

 

Chaos 4:

 

laughter that cries out pain

let's speak words that unspeak them not

these wasted hours

drop down through my fingers like sandstone

that drop and gather and mock me like an affidavit

quite like the varnished wood of my sofa

I look new

yet I sob aloud and I sob aloud…

 

 

Apocalypse:

 

endless hopes of sordid rain

infinite lines of resurrection

why should you think o wild heart

mixture of dry water in spices is a gamble??

 

 

[Originally appeared in Visual Verse]

 

 

 

 

 

 

Pensamentos Neo-Randômicos: Sobre a Mídia

 

 

1.

O eterno concurso

quem pode comer menos

para falar mais

 

 

2.

Você disse, nós acreditamos

Nós dissemos, eu acredito

E quanto ao julgamento?

 

 

3.

Você precisa mais

Nós precisamos amiúde

Vamos pegar e produzir

 

 

4.

Você diz que é livre

Eles dizem que você é livre

Você é livre?

 

 

5.

Em 19 de fevereiro de 232 a.C.

O rei Ashoka foi picado por um mosquito

Como você se lembra disso?

 

 

6.

É interessante

quando um pilar

se torna uma pedra angular

 

 

 

Neo-random Thoughts: On Media

 

 

1.

The eternal contest

who can eat less

to talk more

 

 

2.

You said, we believe

We said, I believe

What about the trial?

 

 

3.

You need more

We need often

Let us grab and produce

 

 

4.

You say you are free

They think you are free

Are you free?

 

 

5.

On 29th February in 232 B.C

King Ashoka was bitten by a mosquito

How do you remember it?

 

 

6.

It is interesting

when a pillar

becomes a keystone

 

 

 

 

 

 

 

Secular?

 

 

Ele usa

o fio sagrado

Canta ocasionalmente

Adora comer

Biryani

Hyderabadi Haleem

Envia calorosos votos

Pelo Janmashthami

Já visitou

Jama Masjid

caçando

arcos-íris da Velha Delhi

Não compra

roupas novas

para o Eid

fora de hábitos

(socialmente formados, pode ser!)

Agora está preocupado…

Ou confuso

Se é religioso

ou secular?

Um tolo

Sábio como um rio

o aconselhou

"Você é tão bobo!

Não pense tanto assim

espere pelo Circular

espetacular

secular"

 

 

[Notas do tradutor: O "fio sagrado" é dado a meninos das castas mais elevadas numa cerimônia de iniciação chamada "Upanayana". "Biryani" é um prato de arroz, muito popular na Índia. "Hyderabadi Haleem": "haleem" é um ensopado de carne, lentilhas e trigo, típico da cidade de Hyderabad. "Janmashthami" festeja o dia de nascimento do Senhor Krishna (11 de agosto). "Jama Masjid" refere-se à principal mesquita da Índia, "Masjid-I Jahan-Numa", em Delhi. O Festival "Eid", na Índia, é uma festa religiosa muçulmana, realizada no fim do Ramadã.]

 

 

 

Secular?

 

 

He wears

the sacred thread

Chants occasionally

Loves to eat

Biryani

Hyderabadi Haleem

Sends heartfelt wishes

on Janmashthami

Has visited

Jama Masjid

chasing

rainbows of Old Delhi

Does not buy

new clothes

on Eid

out of habits

(socially formed may be!)

Now he is worried…

or confused

if he is

religious

or secular?

A fool

wise like a river

advised

"You are so silly!

Don't think that much

wait for the Circular

spectacular

secular"

 

 

 

 

 

 

trempestades em jardim de ópio

 

 

a vida é delírio num jardim de transe

haxixe lixo e tristeza

agora sou um segundanista decifrando as luzes das ruas

vigas côncavas permeando através da cidade de crimes e caos

impénsado

a sociologia das luzes de rua é complexa

"Penso, logo existo"

"Penso, logo existo"

"Penso, logo existo"

que farsa

eu nem penso frequentemente através das luzes urbanas nem

[pelas ruas escuras

onde risadas frequentemente se fossilizam em gritos

desejos dobrados em horror

luxúria em sangue e homens em bestas

consentimento reduzido a impulsos

que farsa

Eu sou mesmo que não pense

eu seria mesmo que não pensasse

eu ainda serei mesmo que

mesmo?

Impensado

esta cidade de crimes e caos é uma cidade de trânsito

esta cidade é um vagão de papoulas com rodas quadradas

a trempestade em seu trânsito de vasta vida é um carnaval de pó

um carnaval de pó e desassossego

neste carnaval, quão facilmente esqueço as escuras ravinas da

[vergonha em inércia

haxixe, lixo e tristeza

haxixe, lixo e tristeza

lá está ele com um contrato social em suas mãos

testemunhando modernos Draupadis

sangrando vermelho num jardim de transe

no entanto, ela surge e ressurge para zombar de suas frações

[de surda consciência

espalhadas pelas ravinas sem luzes viárias

ó, Deus

esse trânsito cresceu demais

dentro de mim por mim adentro a partir de mim

estou chapado nesse trânsito

indiferença é o nome da sanidade?

que vergonha

que vergonha

eu sou, portanto, não penso

você é, portanto, não pensa

trempestades atingindo estas luzes de rua feito uma explosão

estrangulando um jardim de ópio

é isso que sou

haxixe, lixo e tristeza

três.dois.um.VERDE

 

 

 

trainstorms in opium garden

 

 

life is high in a garden of trance

hash, trash and blue

now I am sophomore deciphering streetlights

concave beams permeating through a city of crimes and chaos

unthinking

sociology of streetlights is complex

"I think therefore I am"

"I think therefore I am"

"I think therefore I am"

what a farce

I don't even think often through the streetlights nor

[the dark streets

where laughters often get fossilized to screams

desires bent into horror

lust into blood and men into beasts

consent reduced into thrusts

what a farce

I am even though I don't think

I were even though I didn't think

I shall be even though

even…?

unthinking

this city of crimes and chaos is a city of traffic

this city is a wagon of poppies with square wheels

trainstorms in its traffic of vast life is a carnival of dust

a carnival of dust and disquiet

in this carnival how easily I forget the dark gullies

[of shame in

inertia

hash, trash and blue

hash, trash and blue

there HE stands with a social contract in his hands

witnessing modern Draupadis

bleeding red into a garden of trance

yet she rises and rises to mock HIS fractions of deaf conscience

scattered across the gullies without streetlights

oh god

this traffic has grown too much

inside me into me from me

I am high on this traffic

is indifference the name of sanity?

what a shame

what a shame

I am therefore I don't think

you are therefore you don't think

trainstorms hitting these streetlights like an explosion

strangling a garden of opium

that's what I am

hash,trash and blue

three.two.one.GREEN

 

                      

 

 

 


Debasish Parashar. Poeta multilíngue, empreendedor criativo,cantor/músico e letrista radicado em Nova Delhi, Índia, em cuja Universidade é professor-assistente de Literatura Inglesa. É fundador e editor do jornal "Advaitam Speaks Literary". Com sua canção de estreia Pamaru Mana(2018), tornou-se um dos primeiros compositores hindus a experimentar a ideia de fundir os "Borgeets de Assam" (canções líricas escritas há seis séculos) com a música orquestral do Ocidente, desafiando convenções religiosas e ritualísticas dos "Satras". Seus trabalhos literários aparecem em diversas publicações como "Kweli"(New York),"Sentinel Literary Quarterly"(London), "Voices de la Luna"(USA), "Contemporary Literary Review India, Enclave/Entropy" (USA), "Buenos Aires Literary"(Argentina), "La Experiencia De La Libertad"(México)e"Expound"(Africa), entre outros. Participa de várias antologias poéticas, nos EUA e Europa, a exemplo do World Poetry Almanac 2017-18, Epiphanies and Late Realizations of Love (USA).Vem sendo traduzido para mais de 20 idiomas. Para saber mais, clique aqui, aqui e aqui.

 

 

 

 

Luiz Roberto Guedes. Paulistano, é escritor e tradutor. Organizou a antologia poética Paixão por São Paulo (2004). Publicou os poemários Calendário lunático (2000), Planeta Bicho (poemas para crianças, 2011), Almanárquico (2015) e Erosfera (2017). É autor de diversos títulos infantojuvenis, como Treze Noites de Terror, Meu Mestre de História Sobrenatural e A Horrível História de Horroroldo. Lançou, em 2018, Como ser ninguém na cidade grande (seleta de melhores contos, Penalux).

 

Mais Luiz Roberto Guedes na Germina

> Poesia

> Conto

> A Genética da Coisa