©martin vlach
 
 
 
 
 
 
 

SOU POETA

 

 

                       pensando em Egon Schiele

 

 

S(ei

que amo a morte

e a vida)ou poeta.

 

 

[São Paulo, 15 de setembro de 2016.]

 

 

 

 

 

FRUTA MADURA

 

 

minha intumescência em tua boca:

deságuo

 

 

[Santos, 30.8.2017]

 

 

 

 

 

Sangrando

 

 

San

grando, mas não

vou me suicidar:

é de percur

sos machu

cados que ca

minha o mundo,

é des

sses c.a.c.o.s

incomple

tos, dos frene

sis fracas

sados,

sonhos rep

arti

dos,

epif

anias

despreza

das;

her

dei a sin

a dos poetas,

rees

crevo o ver

so porqu

e não pos

so reescre

ver o mundo,

troquei a com

panhia dos vi

vos pela

dos mortos

que deixaram livros e palavras;

minha soli

dão é a mes

ma de Ovídio exilhado

ou de Pessoa;

sangrar,

reexistir na solidão,

sangrar de novo,

escondido do mun

do e atô

nito, enco

berto na Poes

ia inútil, redi

vivo então

depois da morte,

não aqui,

mas no espa

ço vago e espes

so da morte,

liber

to enf

im da lingua

gem,

em que uma

palavra basta

no silê

ncio e no nada,

em Júpi

ter então, na Grande Luz,

redivivo,

mas não aqui,

esmigalha

do, não aqui,

a boca cheia de inventos

destruí

dos, escorra

çado pela pres

sa, pel

a

técnica,

pela

lógica,

ignorado pelos hom

ens e seus nú

meros e algo

ritmos, aqui sim,

auto

destru

tivo,

limi

tado na maté

ria,

il

hado,

ter

ra mais

flutu

ação,

for

ça

fora do

merc

ado,

soli

tário en

tre quatro pa

redes,

onde ao me

nos tenho

a mimesmo

para cui

dar e tomar

conta,

on

de apro

veito ca

da detal

he da vi

da breve,

aqui onde sou lou

co, onde sofro

pela fal

ta de amor, onde sou Fer

nando, onde dei

xo palavras

na minha língua esquecida: aqui.

 

 

[Santos, 28 de setembro de 2016. Reescrito dia 17 de setembro de 2017, quase 1 ano depois.]

 

 

 

 

 

 

OBRA EM OBRAS: O BRASIL, OBRABERTASIL

 

 

                          a partir de Décio Pignatari

 

 

OBRA(BERTA)SIL

O(BRA)BERTA(SIL)

oBRAbertaSIL!

 

o.b.r.a.s.i.l:

o.b.r.a.b.e.r.t.a…

 

Obra em obras,

O Brasil,

Obra

Aberta.

 

Sil! Sil! Sil!

 

 

[São Paulo, 04.06.17]

 

 

 

 

 

 

O Amor e o Estado, o Amor

 

 

                   depois de assistir Elogio ao Amor, de Jean-Luc Godard

 

 

O Estado não ama.

Amar é a subversão total,

Amar é dístico

Se expandindo périplo

Em torno do (sem) fim.

Amor é múltiplo, diverso, vasto

Em sentido idiomático

E tamanho concreto:

O amor cristão,

O amor pagão

De Ovídio,

Amor platônico

Ou aceitação absoluta em si.

Amar é risco.

Amar, como Drummond,

Pedras e aves, pessoas e tudo,

Até a falta mesma de amor...

Palavra prostituída

Em paixão; sincero gostar...

Amar o que e/ou quem.

Mas o Estado não ama:

Não vê o mundo como um todo

Como o apaixonado vê sua paixão,

Muito menos como amados e amantes se veem...

O Estado confronta, segrega, separa.

Sua razão soberana nega todo amor.

O Estado é a antítese total de um amado.

Amar causa guerra e morte em Verona,

Conflito entre famílias,

Resolve e mistura e suicida dialéticas

Étnicas,

Sociais,

Sexuais,

Econômicas,

Políticas,

Utópicas,

Filosóficas,

Abstratas,

Cósmicas,

Físicas,

Num só dia, num só momento, num só segundo,

Num só lugar, o que se separou em séculos,

Agrega, abarca, compreende, ama, ama, ama,

Extrapola norma, moral, lógica e sentido:

 

"Não se conhece nada senão aquilo que se ama [...]"

- Carta de J. W. von Goethe para Friedrich Heinrich Jacobi, em 10 de junho de 1812.

 

"[...] quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe por que ama, nem o que é amar... [...]"

- Poema de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) em "O Guardador de Rebanhos", 08 de março de 1914.

 

 

[Santos, 22.02.2018]

 

 

 

 

 

 

 

DES-DOBRAMENTO

 

 

                       a partir de Leibniz, Borges, Deleuze

 

 

Um aleph guardaria em si a mônada fixa,

Resistindo ainda,

Sobre a vertigem do infinito.

 

 

[Santos, 23.2.2018]

 

O Zero ou O Infinito

 

A  b    r  i p   o   r   t   a   s q u e j a  m a i s s  e  r  ã  o f   e   c h a  d  a  s.

Deixei escancarado o labirinto.

M     a     s  n    o c  h   ã   o a   p    a  g  u     e  i t   o   d   a    s a  s  p e  g a  d  a s.

Não sei se sou o zero ou o infinito...

 

 

[São Paulo, 19.12.2016]

 

 

 

 

 

AS FORMAS DO HORROR

 

 

Um mundo terrível se abriu

diante dos olhos dos três:

Poe, Baudelaire, o Urizen de Blake,

noutras palavras, disseram: fodeu de vez!…

 

 

[Na estrada de São Paulo ao Rio, 10.7.2017]

 

 

 

 

 

 

SHANTI!

 

 

                                 palavra-mantra que me ecoa desde "The Waste Land" de T.S. Eliot

“Shanti!” São Paulo, 28.8.2016

 

 

 

 

 

Mar ritmos, Marítimos

 

 

I

 

janela escusa

e libertina:

só mais um pouco, amor:

praia vazia

 

 

 

II

 

 

Com tanto mar na alma como pude apostar na angústia?

 

Quem olha o mar

o olha sempre

pela primeira vez,

inconsútil e abissal,

amante meu,

o oceano-mar…

 

Choro já derramado,

anticitadino,

profundo e vivo,

sem por inteiro

se revelar...

 

Repartido em mil feridas,

Ondarrediabarcandomens,

Ondasábiasólidasóbriasuicidas,

Tapetespirititualíquidoblíquo

Preenchendo

Vazios:

Senhor da escuta.

 

 

 

III

 

 

onde te espero

o mar toca a areia

 

onde te espero

o mar lambe a areia

 

onde te espero

o mar beija a areia

 

e recua

 

 

[Santos, 19.02.2018/06.06.2016/22.8.2017]

 

 

 

 

 

Deleuziano

 

 

ficar na poesia

é como sair da poesia?

 

sair da poesia

não significa fazer

outra coisa qualquer:

sair permanecendo...

 

sair da poesia

para a poesia.

 

 

[Santos, 25.2.2018]

 

 

 

 

 

 

O Meu Primeiro Soneto

 

 

Agora que eu já saí do lugar

E me vesti com roupa tão antiga,

Não sei até onde vai essa briga,

Não sei até onde pode me levar.

 

Mas, por amar dinossauros e bebês,

Mares abertos, becos sem saídas,

Amo também avanços, recaídas:

Escrevo o que há para escrever.

 

Cedo, então, é que vem a tardura,

Como se liberdade e atadura

Atingissem este mesmo poeta,

 

Como se benção e o sacrifício,

Vocação e os ossos do ofício,

Formassem em mim a única meta.

 

 

[Santos, 16.7.2017]

 

 

março, 2018

 

 

Fernando Graça nasceu em 31 de julho de 1993, em Santos. Vive entre o litoral e São Paulo. Escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo, diretor teatral, filósofo, cineasta. Licenciado em Letras. Mestrando. Professor de Filosofia, Linguagem e Literatura. Colaborador do E-Dicionário de Termos Literários desde 2011. Entusiasta da Renda Básica Universal. Dá oficinas criativas de Escrita com Corpo sem Órgãos. Desenvolve o seu conceito filosófico de zona demoníaca. Estuda as possibilidades de uma arte quântica e de uma poesia quântica. Publica prosa e poesia em antologias desde criança e, além de projetos nas outras artes, prepara em âmbito literário romance, livro de des-contos e livro de prosas e poemas multiformes, como os que publica na Germina e em outros espaços virtuais, jornais e revistas. Site: www.fernandograca.xyz.

 

 

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