SOU POETA
pensando em Egon Schiele
S(ei
que amo a morte
e a vida)ou poeta.
[São Paulo, 15 de setembro de 2016.]
FRUTA MADURA
minha intumescência em tua boca:
deságuo
[Santos, 30.8.2017]
Sangrando
San
grando, mas não
vou me suicidar:
é de percur
sos machu
cados que ca
minha o mundo,
é des
sses c.a.c.o.s
incomple
tos, dos frene
sis fracas
sados,
sonhos rep
arti
dos,
epif
anias
despreza
das;
her
dei a sin
a dos poetas,
rees
crevo o ver
so porqu
e não pos
so reescre
ver o mundo,
troquei a com
panhia dos vi
vos pela
dos mortos
que deixaram livros e palavras;
minha soli
dão é a mes
ma de Ovídio exilhado
ou de Pessoa;
sangrar,
reexistir na solidão,
sangrar de novo,
escondido do mun
do e atô
nito, enco
berto na Poes
ia inútil, redi
vivo então
depois da morte,
não aqui,
mas no espa
ço vago e espes
so da morte,
liber
to enf
im da lingua
gem,
em que uma
palavra basta
no silê
ncio e no nada,
em Júpi
ter então, na Grande Luz,
redivivo,
mas não aqui,
esmigalha
do, não aqui,
a boca cheia de inventos
destruí
dos, escorra
çado pela pres
sa, pel
a
técnica,
pela
lógica,
ignorado pelos hom
ens e seus nú
meros e algo
ritmos, aqui sim,
auto
destru
tivo,
limi
tado na maté
ria,
il
hado,
ter
ra mais
flutu
ação,
for
ça
fora do
merc
ado,
soli
tário en
tre quatro pa
redes,
onde ao me
nos tenho
a mimesmo
para cui
dar e tomar
conta,
on
de apro
veito ca
da detal
he da vi
da breve,
aqui onde sou lou
co, onde sofro
pela fal
ta de amor, onde sou Fer
nando, onde dei
xo palavras
na minha língua esquecida: aqui.
[Santos, 28 de setembro de 2016. Reescrito dia 17 de setembro de 2017, quase 1 ano depois.]
OBRA EM OBRAS: O BRASIL, OBRABERTASIL
a partir de Décio Pignatari
OBRA(BERTA)SIL
O(BRA)BERTA(SIL)
oBRAbertaSIL!
o.b.r.a.s.i.l:
o.b.r.a.b.e.r.t.a…
Obra em obras,
O Brasil,
Obra
Aberta.
Sil! Sil! Sil!
[São Paulo, 04.06.17]
O Amor e o Estado, o Amor
depois de assistir Elogio ao Amor, de Jean-Luc Godard
O Estado não ama.
Amar é a subversão total,
Amar é dístico
Se expandindo périplo
Em torno do (sem) fim.
Amor é múltiplo, diverso, vasto
Em sentido idiomático
E tamanho concreto:
O amor cristão,
O amor pagão
De Ovídio,
Amor platônico
Ou aceitação absoluta em si.
Amar é risco.
Amar, como Drummond,
Pedras e aves, pessoas e tudo,
Até a falta mesma de amor...
Palavra prostituída
Em paixão; sincero gostar...
Amar o que e/ou quem.
Mas o Estado não ama:
Não vê o mundo como um todo
Como o apaixonado vê sua paixão,
Muito menos como amados e amantes se veem...
O Estado confronta, segrega, separa.
Sua razão soberana nega todo amor.
O Estado é a antítese total de um amado.
Amar causa guerra e morte em Verona,
Conflito entre famílias,
Resolve e mistura e suicida dialéticas
Étnicas,
Sociais,
Sexuais,
Econômicas,
Políticas,
Utópicas,
Filosóficas,
Abstratas,
Cósmicas,
Físicas,
Num só dia, num só momento, num só segundo,
Num só lugar, o que se separou em séculos,
Agrega, abarca, compreende, ama, ama, ama,
Extrapola norma, moral, lógica e sentido:
"Não se conhece nada senão aquilo que se ama [...]"
- Carta de J. W. von Goethe para Friedrich Heinrich Jacobi, em 10 de junho de 1812.
"[...] quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... [...]"
- Poema de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) em "O Guardador de Rebanhos", 08 de março de 1914.
[Santos, 22.02.2018]
DES-DOBRAMENTO
a partir de Leibniz, Borges, Deleuze
Um aleph guardaria em si a mônada fixa,
Resistindo ainda,
Sobre a vertigem do infinito.
[Santos, 23.2.2018]
O Zero ou O Infinito
A b r i p o r t a s q u e j a m a i s s e r ã o f e c h a d a s.
Deixei escancarado o labirinto.
M a s n o c h ã o a p a g u e i t o d a s a s p e g a d a s.
Não sei se sou o zero ou o infinito...
[São Paulo, 19.12.2016]
AS FORMAS DO HORROR
Um mundo terrível se abriu
diante dos olhos dos três:
Poe, Baudelaire, o Urizen de Blake,
noutras palavras, disseram: fodeu de vez!…
[Na estrada de São Paulo ao Rio, 10.7.2017]
SHANTI!
palavra-mantra que me ecoa desde "The Waste Land" de T.S. Eliot
“Shanti!” São Paulo, 28.8.2016
Mar ritmos, Marítimos
I
janela escusa
e libertina:
só mais um pouco, amor:
praia vazia
II
Com tanto mar na alma como pude apostar na angústia?
Quem olha o mar
o olha sempre
pela primeira vez,
inconsútil e abissal,
amante meu,
o oceano-mar…
Choro já derramado,
anticitadino,
profundo e vivo,
sem por inteiro
se revelar...
Repartido em mil feridas,
Ondarrediabarcandomens,
Ondasábiasólidasóbriasuicidas,
Tapetespirititualíquidoblíquo
Preenchendo
Vazios:
Senhor da escuta.
III
onde te espero
o mar toca a areia
onde te espero
o mar lambe a areia
onde te espero
o mar beija a areia
e recua
[Santos, 19.02.2018/06.06.2016/22.8.2017]
Deleuziano
ficar na poesia
é como sair da poesia?
sair da poesia
não significa fazer
outra coisa qualquer:
sair permanecendo...
sair da poesia
para a poesia.
[Santos, 25.2.2018]
O Meu Primeiro Soneto
Agora que eu já saí do lugar
E me vesti com roupa tão antiga,
Não sei até onde vai essa briga,
Não sei até onde pode me levar.
Mas, por amar dinossauros e bebês,
Mares abertos, becos sem saídas,
Amo também avanços, recaídas:
Escrevo o que há para escrever.
Cedo, então, é que vem a tardura,
Como se liberdade e atadura
Atingissem este mesmo poeta,
Como se benção e o sacrifício,
Vocação e os ossos do ofício,
Formassem em mim a única meta.
[Santos, 16.7.2017]
março, 2018
Fernando Graça nasceu em 31 de julho de 1993, em Santos. Vive entre o litoral e São Paulo. Escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo, diretor teatral, filósofo, cineasta. Licenciado em Letras. Mestrando. Professor de Filosofia, Linguagem e Literatura. Colaborador do E-Dicionário de Termos Literários desde 2011. Entusiasta da Renda Básica Universal. Dá oficinas criativas de Escrita com Corpo sem Órgãos. Desenvolve o seu conceito filosófico de zona demoníaca. Estuda as possibilidades de uma arte quântica e de uma poesia quântica. Publica prosa e poesia em antologias desde criança e, além de projetos nas outras artes, prepara em âmbito literário romance, livro de des-contos e livro de prosas e poemas multiformes, como os que publica na Germina e em outros espaços virtuais, jornais e revistas. Site: www.fernandograca.xyz.
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