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O ROUXINOL E O ELEFANTE
Ao amor. Em todos os seus gêneros e formas.
Um dia chegará o inverno num lugar qualquer, lá no alto do mundo.
O Rouxinol, arrepiado e congelado, baterá as asas à procura do calor do tempo e dos outros.
Com asas pequenas, conseguirá atravessar meio mundo. Tamanho não será documento.
Escapar do frio será mais forte.
O mundo será visto lá do alto dos seus olhos, e nesse mesmo mundo tão vasto, um elefante viverá.
No voo longo e demorado, o Rouxinol verá passar lá embaixo um mar, um deserto com areia tão fininha, mata, rio, savana.
E lá embaixo, bem embaixo do mundo quentinho, o Rouxinol encontrará o Elefante.
E quando esse encontro acontecer, o Rouxinol sentirá seus olhos marejar de alegria, verá estrelas ao invés de pedras e nuvens no lugar de árvores. Rouxinol sentirá borboletas batendo asas bem dentro da sua barriga. Rouxinol nem sabia que dentro dele moravam borboletas!
O Rouxinol estará apaixonado! Não saberia o que era estar apaixonado, mas nunca teria visto tantas estrelas, nuvens e sentido tantas borboletas na barriga antes. Se aquilo não for paixão, nada mais será.
Todos saberão que o Rouxinol ama o Elefante, menos é claro, o Elefante.
Assim, o Rouxinol dará o seu voo mais alto. Pegará a lua de presente, mas no meio da noite, o Elefante estará dormindo.
Pousará num barco e convidará o Elefante pra passear. Mas o Elefante terá medo do barco (ou do mar?) já que ele não saberá nadar.
O Rouxinol voará até os olhos do Elefante. Dará nele um beijo tonto e tímido. Mas o beijo só fará o Elefante espirrar.
Um dia, a pedido do Rouxinol, a chuva cairá bem em cima do Elefante. O Rouxinol espiará de uma árvore o chover, o molhado e a alegria do Elefante brincando na água, só pra sentir as borboletas na barriga, ainda, mais uma vez.
Aí um dia, algo absolutamente extraordinário acontecerá:
Quando a lua cansada de iluminar o epaço aberto do mundo, ela trocará de posto com o sol. O Rouxinol então, soltará um canto. O canto mais bonito que o Elefante ouvirá.
O Elefante notará o Rouxinal justo quando ele não tiver nada planejado: nem lua, nem barco (ou mar), nem beijo, nem chuva.
O Elefante então, chegará bem perto do Rouxinal e enfim, notará um pacote embrulhado em fitas douradas e prateadas. Vermelhas e alaranjadas.
Lá dentro estará um presente. Um presente do tamanho certo que será um tanto de amor.
E o amor será tão grande que será como um futuro. Feito o amor entre o Rouxinol e o Elefante, um presente precipitado. Uma surpresa fora de hora.
A história de amor entre o Rouxinol e o Elefante se repetirá sempre, entre rouxinóis e elefantes do mundo vasto. Quando uma história acabar, a outra já estará voando, que nem o Rouxinol, correndo do frio, à procura do calor.
E em algum lugar dentro de toda a imensidão, haverá sempre um elefante que ganhará um amor embrulhado pra presente.
MALVINO
Malvino era um burro.
A bicharada zombava dele por causa disso.
Malvino se machucava, se chateava, mas continuava trabalhando.
Um dia, os cavalos zombaram tanto de Malvino que ele se pôs a caminho de outros pastos.
Na andança, Malvino se distraiu da própria tristeza quando começou a encontrar outros bichos que também andavam cabisbaixos e rabisbaixos.
Encontrou o cachorro sarnento do rabo cortado, triste da sua vida.
— Não fique triste. Não posso lhe ajudar, mas vou levar você no meu coração.
O cachorro sarnento sorriu como não sorria há muito tempo.
Malvino continuou seu caminho e encontrou o bode que mancava e não tinha mais utilidade para seu dono.
— Não fique triste. Não posso lhe ajudar, mas vou levar você no meu coração.
O bode abandonado alegrou-se como há muito não se alegrava.
Na sua caminhada, Malvino encontrou o gato que já era velho e não enxergava muito bem.
— Não fique triste. Não posso lhe ajudar, mas vou levar você no meu coração.
O gatinho pulou de contentamento como há muito tempo não pulava.
Malvino foi andando sem rumo e logo viu um pato, rouco que só.
— Não fique triste porque está rouco. Não posso lhe ajudar, mas vou levar você no meu coração.
O pato dançou como há muito não dançava.
Os dias se passaram e Malvino na sua caminhada.
De repente, avistou um dos cavalos da sua fazenda, mancando e muito triste.
— Malvino, não precisa falar comigo. Sei que zombei de você e sei que vai rir de mim porque estou perdido. Esqueci o caminho de volta para a fazenda.
Malvino parou e olhou para o cavalo.
— Eu não vou zombar de você. Talvez eu possa lhe ajudar e vou levar você com todo o meu coração.
Malvino então, decidiu fazer o caminho de volta e levar o cavalo perdido para a fazenda.
— Malvino, se eu não sei o caminho de volta, como você burro vai saber?
— Eu sei o caminho do meu coração. (respondeu Malvino)
No caminho de volta, Malvino encontrou o pato rouco que estava alegre brincando na lagoa e apontou o caminho para o gato.
Malvino encontrou o gato de pouca visão brincando com a sua sombra que apontou o caminho para o bode.
Malvino reencontrou o bode que mancava e agora, cantava, apontando-lhe o caminho para o cachorro.
E por fim, encontrou o cachorro sarnento que levou Malvino e o cavalo de volta para a fazenda.
O cachorro sarnento era também um cão farejador!
— Como todos esses bichos te ajudaram, Malvino?
Perguntou o cavalo surpreso.
— Todos eles estão no meu coração e assim, eles estão sempre comigo.
Isso se chama amizade.
E esse foi o dia em que o cavalo aprendeu com o burro. |