©adri aleixo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Líquida

 

 

As pedras

que deixei pelo caminho

desenharam a curva do rio.

 

 

 

 

 

 

Ismália

 

 

Porque há ressonância

e o azul

é a cor que oxigena.

 

 

 

 

 

 

Hera

 

 

o pior

da dor

são os tentáculos

 

 

 

 

 

 

Móbile

 

 

despir minúcias

ouvir lonjuras

pender o chão

 

 

 

 

 

 

Fotograma

 

 

É um rito

um silêncio

um grito

e não há mais vento.

Há um alicerce de palavras me perdendo.

 

 

 

 

 

 

Calefação

 

 

Os pés cansados:

cadafalso, candelabro.

Pisar minúcias

nas costas, o mundo

os filhos nos braços.

 

E você diz que a mulher deve ter pés delicados.

 

 

 

 

 

 

Chove

 

 

eu não saberia da chuva

não fossem os sapatos novos

encharcados

 

sob a marquise tentamos cerzir distâncias

corpos excluídos que nada sentem

nada temem

 

assistimos enlatados à expulsão dos ratos

ao correr dos moços e suas carrocinhas

então voa um corpo, e volta

voa outro, e volta

e outro

e outro

 

nenhuma estrela, a civilização: este desenho

estes olhos.

esse espaço decantado

esse abrigo de pés

essa enxurrada

essa consternação

 

 

 

 

 

 

Para não morrer de amor

 

 

Decantar o verso.

 

Sorver da folha seca

: a seiva.

 

Haurir o orvalho

da pedra

 

chegar

antes

 

e dissecar

sapos idealizados.

 

 

 

 

 

 

Corpo

 

 

É sempre inverno em mim

e tudo são sinos, tambores

sina

querência de toque.

 

Coisas que

arfam chispam

olhos que leem

regaço

remanso.

 

 

 

 

 

 

Dança

 

 

                   Para Murilo Mendes

 

 

Acalanto

Acalento

o som das conchinhas

trazem-me o mar de dentro.

 

[Despertam-me rosas de espumas

à altura dos quadris]

 

Então sou a borboleta marinha que dança

a infusão dos elementos.

 

 

 

 

 

 

Breve estudo para gota e mar

 

 

                   Para Norma de Souza Lopes

 

 

E porque houve o dia

em que alguém enxergou

minha miserável grandeza

 

e porque houve o dia

em que vi a sereia

de carne e concreto

pulsando na praça

 

E o que quer a gota

senão essa armadilha de mar

esse susto fremente de correnteza?

 

 

 

 

 

 

Voo

 

 

vê, são flores

mas parecem palavras

voando

à procura de pouso.

 

 

 

 

 

 

Miosótis

 

 

São duas luas

e um rio

para atravessar

no azul desta noite outono.

 

 

 

 

 

 

Macondo

 

 

Haverá um tempo

Em que não será preciso

Dormir

 

Não haverá ninguém

A tocar os címbalos

E a memória não será um tempo

E sim

O lugar

 

 

 

 

 

 

...

 

 

O que espero?

alguma palavra egressa

marulhenta

feito grunhido de mar ou vento

abrupta palavra

entre língua palato dentes

palavra de morrer

feito espuma

em canto de boca.

 

 

 

 

[Poemas do livro Pés]

 

 

 

junho, 2016

 

 

 

Adri Aleixo,  mineira de Conselheiro Lafaiete, vive em Belo Horizonte onde atua como Professora e Consultora em Linguagens. Edita o blogue www.petalas-poeticas.blogspot.com e possui textos publicados em sites e revistas literárias. Escreve também contos e literatura infantil. Publicou, em 2014, Des.caminhos, pela editora Patuá e, em maio de 2015, o livro ecológico Pés, ambos de poesia.

 

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