Des.pertencimento


Meus escombros me definem
onde pensava padecer
Transcendo.

 

 

 

 

 

 

Orbe

 

 

Impropérios gravitam-me
Sonhos
Quimeras
e um bocado de estrelas.

 

 

 

 

 

 

Noite

 

 

De cada uma delas
desprende um clarão
para sublimar insanos.

 

 

 

 

 

 

Autoconhecimento

 

 

Fui me desconhecendo a partir do que falavam.
Ora pétala

Ora erva

 

Entre bem dita e maldita

Abortei todos.

 

 

 

 

 

 

Pressa

 

 

Vestida de chuva
e plena e de encantos
eu disse apenas:
me pegue e me leve
para um desses seus
poemas.

 

 

 

 

 

 

Fértil

 

 

A pétala sabe, levemente quando cai
que seu destino é ser porto
do solo que a espera.

 

 

 

 

 

 

Do Verbo

 

 

A palavra estilhaçou meu peito

e o que pulso

É poesia.

 

 

 

 

 

 

Fonemas

 

 

Ele inaugura linguagens
no percurso do meu corpo
língua
morfemas
cartografias
e eu sou toda epifanias.

 

 

 

 

Regolito

 

 

Quando saio,
nunca sei aonde vou
me perco entre as ideias do caminho.
Meus pés querem céu
meu corpo, um canto ribeirinho.
Se volto, é porque um astro
me prende ao chão.

O antúrio sempre me cumprimenta à porta.

 

 

 

 

 

 

Canção


Não sei como está o tempo lá fora
estou compondo uma canção para você
há dias não vejo o sol
apenas sua face impressa em rimas
e seu sorriso desenhado em fonemas.
Não ouvi o barulho da chuva
nem o trilar dos grilos
mas alcancei eclipses
em notas raras.

 

 

 

 

 

 

No leito, a palavra

 

 

Colhi a palavra no leito
resiliente, contornava obstáculos
saltava pedras
gravetos.
Ferida
esgarçada
mas ainda pulsando
coloquei-a no âmago da mão.
Tentei tirar dela restos de tinta
musgo
dejetos
desencaixotar-lhe o sentido.
Plangente
ela pedia, pedia
Respeito.

 

 

 

[imagens ©guy bordin]

 

 

 

 

 

Adri Aleixo — Adriana Aleixo Neto (Conselheiro Lafaiete/MG, 1975). Poeta e professora de Português. Em 2014, publicou Des. caminhos (São Paulo: Patuá, 2014). Mora em Belo Horizonte.