Carlos Vogt, junto com Roberto Piva, Claudio Willer, Lindolf Bell, Jorge Mautner, Álvaro Alves de Farias, Rubens Rodrigues Torres Filho, Orides Fontela, Sérgio Lima, Antonio de Franceschi, Rodrigo de Haro, Carlos Felipe Moisés, Bruno Tolentino, entre outros, compõem em diversas dicções da poesia brasileira em solo paulistano, o que passou a ser denominada "Geração 60". Linguista, Vogt é o responsável pela introdução e disseminação da semântica argumentativa no país. Vogt, Carlos de sete faces, foi gauche, reitor, Raimundo, professor, crítico, doutor e um tantinho de Drummond. Fez de tudo e mais um pouco. Desse pouco, um oceano em que a Literatura, feito bússola, tornou-se companheira, tendo recebido o Prêmio Jabuti de 2016 pelo livro A Utilidade do Conhecimento. Todavia, dentre as várias referências na sua vida literária, há uma estrela que o guia, desde que saiu de Sales Oliveira, interior de São Paulo, para singrar novos mares. A poesia é o pilar central em sua nau para navegar terras conhecidas e almas a serem desvendadas. A poesia é o seu astrolábio e potente telescópio para ver a imensidão do que somos ou um microscópico para nos dar a verdadeira dimensão. E a poesia, enquanto livro, teve forma na coletânea Cantografia (Massao Ohno & Hucitec, 1982), da qual afloram versos como: "A palavra/estala/estica/estoura/os rios se repetem". Esta sua estreia foi agraciada com uma distinção pela Associação Paulista de Críticos de Arte. E o navegante/poeta percorreu tantas outras geografias para nos entregar, com prefácio do crítico Alcir Pécora, Poesia reunida (Landy Editora, 2008). Pécora percebeu, na poética de Vogt, as vertentes epigramática e evocativa, identificando, para a primeira, elementos de concisão e de certa ironia, enquanto para a segunda, ingredientes meditativos e melancólicos. Oito anos depois, Vogt retorna com Novos Poemas (Ateliê Editorial, 2016), livro que reúne as coletâneas Bandeirolas, Bolinhos de chuva e Dedo de moça. Poemas leves, feito bandeirolas (Tudo é tão grande/que nada pequeno/cabe nessa imensidão); de extrema doçura, quais bolinhos de chuva (Quem parte leva saudade/quem fica saudade tem/quem parte não vai embora/quem fica parte também) e com direito a certas maldadezinhas picantes, como dedos-de-moça (Vamos nos ver/no mesmo bar de sempre/sentar àquela mesa/de preferência escondida/falar mal da vida alheia/bem da própria vida/e ambos da própria vida). Estamos diante de textos para ser deliciados com parcimônia e, desse modo, provocar-nos a reflexão a respeito de singularidades que abarcam o sentido da vida e assim tê-la na fragrância das palavras sem qualquer medida. Alquimista da linguagem, Vogt traz-nos Novos Poemas como velhos amigos a convidar-nos para degustarmos um pinot noir ou versos elaborados à precisão sem, contudo, perder a magia da sensibilidade. Vê-se o poeta maduro, que escreve: "digitar o rascunho do passado/como passageiro/catar palavras como quem recolhe/vestígios do presente", da mesma maneira que se vislumbra alma adolescente, quase libertina, quando se lê: "o amor/é pecado/se não for /cometido". Tem-se o poeta sem idade e de todas elas, com a sabedoria para nos lembrar de que "as coisas simples/são assim simples/porque simplesmente/passam/por isso são simples/ao passar/e bastam". Não é à toa que ao se deparar com Novos Poemas está-se diante de um Mestre. Afinal, bem que se tenta, quero ver ser poeta depois dos setenta. Vogt, polivalente, é atemporal.

 

 

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O livro: Carlos Vogt. Novos Poemas.

Cotia/SP: AteliêEditorial, 2016, 136 págs.

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dezembro, 2016

 

 

Marco Aurélio Cremasco nasceu em Guaraci (PR) e reside em Campinas (SP). Foi um dos fundadores e coeditores da Babel, Revista de Poesia, Tradução e Crítica. É autor de três livros técnicos; do romance Santo Reis da Luz Divina (Record, 2004; finalista do Prêmio Jabuti de 2005), do livro de contos Histórias prováveis (Record, 2007), das coletâneas de poemas Vampisales (Editora da UEM, 1984), Viola caipira (Edição do autor, 1995), A criação (Cone Sul, 1997), fromIndiana (Edição do autor, 2000) e As coisas de João Flores (Patuá, 2014).

 

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