Era chegada a hora. Mesmo
com todo desleixo, com recomendação médica não se brinca.
Ai avexei-me, mesmo
precocemente, para viver, na pele, a minha segunda experiência do
gênero. Segura na mão de Deus e vai, encorajei-me.
A primeira vez, muito
antes dos 40, havia sido tão rápida e indolor que resolvi, agora, senhor
dos meus 42 verões, tirar a contraprova. Chegou a hora de, na margem do
rio Piedra, como diz Paulo Coelho, sentar e chorar.
De lambuja, pensei, ainda
sirvo de agente encorajador, num país de altos índices de câncer de tal
natureza, aos machos que tremem diante de um rápido toque nos seus
indevassáveis fiofós ou fogareiros, como no glossário da minha
terra.
Lá vamos nós, destemido
cavaleiro e seu orgulhoso "Eu profundo", ao respeitável e imparcial
proctologista. Para não me acusarem de escolha fraudulenta — poderia
eleger o doutor pelas medidas dos indicadores, fura-bolos e cata-piolhos
— promovi um sorteio do médico, entre vários do meu convênio, durante
nobre sessão no botequim.
Pereira, amigo tão macho
que usa dois sabonetes durante o banho — um para a frente e outro para a
assepsia na retaguarda —, benzeu-se. "Não faço um troço desse nem morto,
nem a pau", salivou testosterona no ambiente. Separado da mulher da sua
vida por causa de uma tímida e educada tentativa de fio-terra, Pereira
acha que não pode haver a mais remota comunicação, nem mesmo via
sabonete, entre as suas partes pudendas. "Começa assim a pouca-vergonha,
na própria higiene pessoal", apelou, enquanto estalava mais um torresmo
no dente de ouro que substitui o canino.
Que se dane a retaguarda
do atraso de Pereira. Chegou a nossa hora lá no consultório. Miro as
mãos do amigo de branco... E confesso, leitores: não poderia ter
sorteado médico mais bem dotado nas suas falanges, falanginhas e
falangetas. Vixe! Ele pôs civilizadamente a luvinha. Esperei, resignado.
Só lembrei, ali, de novo,
na bucha, da velha e surrada piada, na qual um proctologista indaga ao
cliente: "Sente alguma coisa?". Ao que a criatura alvejada solta um
delicado sussurro: "Sinto que te amo!".
Ora direis, nada de ver
estrelas bilaquianas, como queixou-se outro dia um deputado baiano.
Sensaçãozinha de nada. Pena que tantos machos empedernidos morram por
falta desse simples dedinho de prosa com a medicina. "Volte sempre",
ainda se despediu o doutor. Também não carece exagerar, né, meu
amigo?!