Macarrônico: você deve usar essa palavra para falar com despeito da linguagem de uma obra literária que for incapaz de compreender, por exemplo, Antonio Candido chama macarrônicas as traduções de Odorico Mendes.

 

Maestria: o domínio do baixo contínuo nos mestres italianos anteriores a Bach; a pintura de gênero na Renascença e no Maneirismo, anterior a Velázquez; a prosa impecável de Merimée, Nodier e Stendhal, anteriores a Flaubert; a poesia retórica, musical e ornamental tudor e elisabetana, anterior a Shakespeare. São alguns exemplos.

 

Manipulação: muitos se queixam de que o lado por assim dizer "comercial" das artes tende à manipulação das emoções do público, ignorando, com comovente inocência, que desde o surgimento da imitação (ver MÍMESIS) essa é a única coisa que se faz em arte.

 

Marginal: pode ser um bandido meia-boca; pode ser aquela escrita que alguns leitores (principalmente autores famosos) deixam nas beiradas dos livros que leram, e que muitos consideram um documento mais importante do que os próprios livros nos quais vieram se intrometer; pode ser também aquela literatura que se escreveu no Brasil nos anos sinistros da ditadura, e que é às vezes chamada pejorativamente de "bicho-grilo".

 

Marxismo: religião dos ateus.

 

Massas: sob esse nome que evoca a cozinha italiana, com penne, spaghetti, etc., o século XX assistiu ao desenvolvimento da entidade abstrata "povo" nessa pasta indistinta que passou a ser chamada de "massas"; a cultura de massas não é nobre o bastante para ser erudita, nem folclórica o bastante para ser popular, resultando, portanto, numa coisa desagradável da qual ninguém ousa falar bem nas situações elegantes e ritualísticas dos meios culturais.

 

Medíocre: normalmente, os medíocres são as únicas pessoas felizes do mundo, uma vez que não entendem nem precisam lidar com os problemas da baixeza nem da grandeza, ex.: a classe média, os artistas medianos, etc; os que acreditam, como tentou Candide, que vivem no "melhor dos mundos possíveis".

 

Mefistófeles: mundano (ver MUNDANO).

 

Mensagem: a mensagem é o que há de importante numa obra; os autores estão sempre em busca de "passar uma mensagem", como os valetes de hotel, que o fazem sempre pelas frestas inferiores das portas dos quartos; nome de um dos livros mais importantes de poesia de língua portuguesa, escrito por Fernando Pessoa.

 

Mentira: versão literária da verdade.

 

Mercado: o mercado era até certo ponto desprezível no passado, pois se sabia que vender coisas não passava de um meio para se adquirir aquilo de que se precisava; com o advento da onipresente e ignorante deusa Economia (gr. oikós, isto é, das imediações do lar), o mercado passou para o centro das atenções, juntamente com os predicados de sua regente.

 

Milênio: "a mil chegarás, de dois mil não passarás"; tudo que é milenar é bom; é sempre cansativo começar um outro século, o que dirá de um outro milênio.

 

Mímesis: palavra que se tornou famosa com Aristóteles, que percebeu que toda arte se baseia num rudimento de civilização, isto é, no ato de imitar, que pode ou não levar a algum aprendizado. À imitação calculada se dá o nome de representação.

 

Minimalismo: lei do mínimo esforço na arte.

 

Mistério: a área cinzenta do conhecimento.

 

Moda: há o bom e o mau sentido de moda. O bom é aquele em que a moda se define por ser uma dose concentrada e estilizada do hoje; o mau é quando se define por ser a única coisa que importa, resultando num bando de maria-vai-com-as-outras, num manual do que fazer e em nomenclaturas específicas e efêmeras, coisa que se chama, com acento de desprezo, modismo.

 

Moderno: (lt. modus hodiernus) incapaz de nomear todo movimento que surgia no começo do século XX, a crítica desistiu e rotolou aquela porção, irrefletidamente, de moderna, o que significa, ao pé da letra, "ao modo de hoje". Disse irrefletidamente porque agora, passados uns tantos anos do "ao modo de hoje", foi preciso dar um passo adiante na areia movediça das classificações e inventar o "pós-moderno" e o "contemporâneo", que, é claro, já não têm o mais remoto indício de significado.

 

Mordaz: diz-se que algo é mordaz por sua qualidade humorística, comparada ao efeito de uma mordida, que pode ser dividida em mordiscada (com delicadeza) ou mastigada (impiedosamente).

 

Multimídia: multimerda, definiu o catalão Joan Brossa.

 

Mundano: maneira verbal cristã de condenar aqueles que, por não estarem preocupados com a partilha divina do Juízo Final, experimentam as possibilidades físicas deste mundo.

 

 

 

 

agosto, 2005