Editor: profissional que adora livro, adora ler (além de conhecer minúcias da história de sua profissão, que remonta ao scriptorium medieval e à revolução de Guttenberg) e tem tino para farejar e descobrir novos e verdadeiros talentos, revelados ao público em belas edições.

Edótica: uma das várias artes desconhecidas no país.

Elegante: quem é capaz de usar palavrões (ou qualquer outra coisa) sem nem parecer forçado nem natural.

Elipse: método sutil através do qual o que ficou por dizer é mais importante do que está dito.

Elogio: cumprimento não merecido; sempre que encontrar no título de alguma obra "Elogio de... ", desconfie (menos do Elogio da Loucura, feito pela própria); pode ser encontrado como "encômio".

Emblema: diferente de divisa, símbolo e alegoria.

Epifania: momento chocante ou sutil de iluminação; nome dado ao discretíssimo deus ex machina empregado por vários autores; muito comum no caso de contos, nos quais é preciso que o leitor sinta as coisas se amarrarem pra valer: o conto seria como um sapato comum de amarrar num só laço, o romance, aquelas longas botas de cano longo, que se amarram infinitamente pela perna, e a novela seria uma sandália feminina que prende docemente no tornozelo.

Erotismo (erótico): suave pornografia dos intelectuais; exploração (no sentido científico) das fantasias sexuais.

Erudito: aquele que reconhece referências culturais e conhece o lugar que lhes é próprio num discurso ou em qualquer extrato de linguagem; especialista raríssimo e cultivado, diferente do sábio (ver "Sábio").

Escárnio: palavra que quase sempre vem acompanhada de "maldizer", como na expressão fechada "cantigas de escárnio e maldizer".

Escola: no caso de escola literária, você tem um indivíduo, e manifestações desse indivíduo (mesmo que sejam, hipoteticamente, outros indivíduos); lembrar das sábias palavras de Jean Cocteau: "não existem escolas, existem indivíduos"; no caso da escola onde todos começamos a estudar, trata-se de um lugar sem indivíduos, comprometida por anos e anos de equívocos insolúveis (indisciplina, maus professores, maus currículos, péssimo ambiente, má-vontade política, falta de verba e idéias, etc) para produzir fantoches encomendados pelo mercado de trabalho e pela miséria.

Estado: concepção antiga de poder, anterior às grandes corporações internacionais e ao capital especulativo.

Estereótipo: a cor local, o típico, que, na verdade, só se encontra dentro da cabeça das pessoas, sempre capazes de reduzir tudo o que viram e conheceram a um mínimo compartilhável com todos os que não viram nem conheceram nada.

Estilo: do latim stylus (que deve ter vindo de algum grego), significando uma pequena ponta afiada com que se faziam inscrições, daí que o bom estilo deve ter sempre algo de agudo; já disseram que "o estilo é o homem", um evidente exagero, porque estilo, no fundo, acaba sendo o que caracteriza alguns homens.

Ética: do grego ethos; palavra que desde a apropriação pela classe média e professores starlet de filosofia não faz mais sentido nenhum, quer dizer, adquiriu o seguinte sentido: ética é tudo o que disser respeito aos modestos privilégios da classe intermediária; variação cristã: sinônimo de "bom", isto é, uma boa pessoa é uma pessoa ética.

Exótico: o nosso país, claro. De José de Alencar e Gonçalves Dias a Jorge Amado e Manoel de Barros, vemos o Brasil como estrangeiros. E gostamos, ou melhor: gostamos desde que não sejam verdadeiros estrangeiros a nos pregar esses estereótipos.



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