Dalton Trevisan

 

Canção do Exílio

 

Não permita Deus que eu morra

sem que daqui me vá

sem que diga adeus ao pinheiro

onde já não canta o sabiá

morrer ó supremo desfrute

em Curitiba é que não dá

com o poetinha bem viu o que fizeram

o Fafau e o Xaxufa gorjeando os versinhos

na missa das seis na igreja da Ordem

o trêfego Jaime batia palminhas

em Curitiba a morte não é séria

........................................................

castigo bastante é viver em Curitiba

morrer em Curitiba é que não dá

não permita Deus

só bem longe daqui

mais prazeres encontro eu lá

.........................................................

O Vinholes e o Mazza gorjeando os primores

que tais não encontro eu cá

não permita Deus

sem que daqui me vá

minha terra já não tem pinheiro

o sabiá não canta mais

perdeu as penas enterrou no peito o bico afiado

de sangue tingiu a água sulfurosa do rio Belém

ao último pinheirito

foi demais o dentinho de ouro do ex-padre Emir

com raízes e tudo arrancou-se das pedras

montou numa nuvem ligeira

e voou sim sobre as asas do bem-te-vi

.........................................................

ó supremo desfrute

em Curitiba que não dá

não permita Deus que eu morra

sem que daqui me vá

nunca mais aviste os pinheiros

onde já não canta o sabiá

 

 

 

 

 

 

David Nasser e Herivelto Martins


Prece da Paz


Senhor, o meu vale é sempre verde

sempre quieto como um lago

que o vento não estremeceu

Senhor, o meu céu é tão sereno

que parece um grande leito

onde o silencio adormeceu.


Senhor, minha gente é mais alegre

mais feliz do que ninguém

Senhor, não deixai que mãos estranhas

roubem a paz que a minha terra tem.


Um dia as crianças

voltarão a brincar nas calçadas

das cidades distantes, além , muito além

um dia festejarão

o Natal sobre a neve

nas cidades distantes, além , muito além.


Mas se o meu vale escurecer

se o meu céu turvar

Senhor, ajudai-me a cortar

as mãos estranhas

que roubarem a paz

que hoje a minha terra tem.






Dircinha Batista

 

Minha Terra Tem Palmeiras

 

Minha terra tem palmeiras,

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá,

Tem cachaça, tem mulata,

Mas também muita mamata

Mas dá galho se falar!

 

Tem tubarão à toa

Mamando pra valer!

Eu também vou

Entrar no jabaculê!

 

 

 

 

 

 

Dr. Buffon


Paródia

Dedicada ao delegado de polícia, Pedro Velho Capim de Cheiro


Minha terra tem capim

Como lá outro não há.

O capim, que cheira aqui,

Nunca cheira como lá.


Nosso capim é mais velho,

Tem mais cheiro, mais verdura,

Serve até lá na polícia

Aos sicários de armadura!...


Em cismar, sozinho, nisso,

Mais receio encontro eu cá...;

Minha terra tem capim,

Como além outro não há.


Minha terra tem polícia,

Que tal não encontro eu lá;

Em cismar, sozinho, nisso,

Sustos mil eu raspo cá:

Minha terra tem polícia,

Que aos ladrões auxílio dá!


Não permita Deus que eu tenha

Tal polícia sempre cá,

Sem que ache as garantias,

Que existem só por lá;

Sem que veja demitido

Quem de burro provas dá.


[Jornal de Recife. Recife: 5 de novembro de 1877, ed. 254]







Edgar Yamagami


Hai-Kai & Tempurá


Não sou brasileiro, não sou estrangeiro. Sou como sou, vidente, e vivo tranquilamente todas as horas do meu fim (e do meu começo). Ouço Titãs e revejo Torquato Neto. Gosto do Pessoa na pessoa. Do Rosa na rosa. Do Caetano todo ano. Fontes de mel com olhos de gueixa.


Dizem que sou nissei. Não sei. Mas é bom ser japonês da cara chata, ter pinta de Curitiba, filosofar em polaco. Minha terra tem bananeira e aqui encontro tempurá. Os poetas que aqui gorgeiam também gorgeiam como lá.


Sutis diferenças. Mishima me emplaca a sol e aço, neve de primavera. Leminski não aquilo se não fosse tanto. O mistério da raça levanta um breve voo e a gente — meio lá meio cá — fica assim: observado e observando. O que vier a gente traça. O que não vier a gente inventa. Banzai!






Eduardo Alves da Costa

 

Outra Canção do Exílio

 

Minha terra tem Palmeiras,

Corinthians e outros times

de copas exuberantes

que ocultam muitos crimes.

As aves que aqui revoam

são corvos do nunca mais,

a povoar nossa noite

com duros olhos de açoite

que os anos esquecem jamais.

 

Em cismar sozinho, ao relento,

sob um céu poluído, sem estrelas,

nenhum prazer tenho eu cá;

porque me lembro do tempo

em que livre na campina

pulsava meu coração, voava,

como livre sabiá; ciscando

nas capoeiras, cantando

nos matagais, onde hoje a morte

tem mais flores, nossa vida

mais terrores, noturnos,

de mil suores fatais.

 

Minha terra tem primores,

requintes de boçalidade,

que fazem da mocidade

um delírio amordaçado:

acrobacia impossível

de saltimbanco esquizóide,

equilibrado no risível sonho

de grandeza que se esgarça e rompe,

roído pelo matreiro cupim da safadeza.

 

Minha terra tem encantos

de recantos naturais,

praias de areias monazíticas,

subsolos minerais

que se vão e não voltam mais.

 

A chorar sozinho, aflito,

penso, medito e reflito,

sem encontrar solução;

a não ser voar para dentro,

voltar as costas à miséria,

à doença e ao sofrimento,

que transcendem o quanto possam

o pensamento conceber

e a consciência suportar.

 

Minha terra tem palmeiras

a baloiçar, indiferentes

aos poetas dementes

que sonham de olhos abertos

a rilhar os dentes.

 

Não permita Deus que eu morra

pelo crime de estar atento;

e possa chegar a velhice

com os cabelos ao vento

de melhor momento.

Que eu desfrute os primores

do canto do sabiá,

onde gorjeia a liberdade

que não encontro por cá.

 

 

 

 

 

 

Eduardo Dias

 

Canção que Não é do Exílio

 

Na minha terra tem poesia,
com seus morros
gente passando pouca...

 

Tem amores vil
como toda cidade qualquer,
aqui — cantam as Sabiás,
como também os Bem-te-vis,
ao amanhecer — dó ré mi fá...

 

Digo que tem poesia
na minha terra,
porque seis horas da tarde,
quando o Sol se põe,
um não sei quê de volúpia,
invade meu coração.

 

Mas cá chegou — que pena,
a televisão.
Creio que tem poesia na minha terra,
porque uma revoada de garças... em fileiras...
cruzam ao redor da serra.

 

É um primor — mas se encerra,
muitas vezes sem as Sabiás,
dó ré mi fá...
porque tudo está se acabando,
com o desmatar.

 

 

Óbidos, junho/1989

 

 

 

 

 

 

Elaine Pauvolid

 

Sou ali

 

Tudo silencia e gorjeia

como gorjeasse o nada.

No entanto, gorjeia tanto este silêncio

que me tange e não me rompe

que poeta me vi nascer para cantá-lo.

Sou o cerne deste silêncio.

Onde ele toca, aqui estou.

 

 

Elaine Pauvolid

Na Germina

>Poemas

 

 

 

 

 

 

Elizabeth Hazin

 

Exílio

 

não permita Deus que eu morra

sem que possa um dia que seja

negar as palavras do verso

a brisa da manhã sacuda as folhas...

 

 

Elizabeth Hazin
Na
Germina
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Elsa Villon

 

Minha Terra Tem Buzinas que Não Param de Soar

 

Sou paulista de nascença

Mas paulistana de resto

 

Pizza é coisa séria

Muito recheio, sem miséria

Mortadela se come com a mão

E no meio do pão

O plural de pastel é 2, 3

4 pastel

 

O barzinho, a cantina

O mercadão

O pátio do colégio

A Sé

 

A poluição

O trânsito

A distância

A imensidão

 

Etnia

Cultura

Miscigenação

 

Minha Paulicéia

Nossa Odisséia

Diária

 

Fonte de riqueza

Fonte de miséria

Diária

 

Terra de todos

Terra de ninguém

Vai e volta

Vai e vem

 

Buzina

Xinga

Pára

E fica

Parado

Até dar o horário

De tudo

 

De todos

 

Terra da garoa

e dos demônios dela

 

Terra de alagar

Até viela

 

Japão na Liberdade

Itália no Bixiga

Churrasco Grego na calçada

Resulta em dor de barriga

 

Megalópole

Tradição

Comospolita

Confusão

 

Lugar de paulisssta estressado

Vamo embora mais eu pra Sum Palo

 

 

 

 

 

Escola de Samba Rosas de Ouro


Non Ducor Duco, Qual É a Minha Cara?

[Samba-Enredo 1992 | Sociedade Rosas de Ouro (SP)]


Bom é recordar, bom demais

Velhos lampiões de gás

Candelabros, garoa, galos nos quintais

O tempo passou perdido nos antigos carrilhões

Quando o gigante explodiu

Uma selva de pedra surgiu


O ar, cadê meu ar?

No Ibirapuera vou deitar e rolar

Paulista dos barões do café

Catedral, Marco Zero, salve a praça da fé!


Lugar de bamba, fala São João, fala Ipiranga

Rosas baianas faz no largo do Arouche

Toda a cidade girar

É gol, treme terra lá na geral

São milhões de divinos violinos lá no Municipal


Tietê, quero um dia beber você

As crianças virão saciar a sede na conchinha da mão

A estrela sampa brilhou iluminando os pioneiros

Jesuítas vindos da Serra do Mar


Azul e rosa a passar

Azul e rosa é roseira

Roseira onde canta o sabiá


Meu sabiá, ô ô ô ô

Soltou o trinar, cantou, cantou

Deu um show na passarela

Levantou a galera

Bateu asas e voou







Fabio Ewerton


Sem título, 1869


Nas setas dos meus desejos

Nos cantos sobre um luar 

Minha terra tem palmeiras (Dias)

Onde canta o sabiá.






 

Felipe Stefani

 

Pátria

 

A Gonçalves Dias

 

Ondas cantando na manhã de um agosto febril

vaga reminiscência na fonte das paisagens do delírio

aplaina a sonolenta idade das Palmeiras

ao toque da treva

minha infância escurece na escrita

curva louca de um pássaro

 

que Deus não permite o regresso

 

o que combate a memória em meus passos

cheios de orifícios e visões?

 

no exílio do corpo

minha pátria são as letras que bebo

nos restos do mar

 

travessia

 

 

 

Felipe Stefani
É o ilustrador de Sabiás & Exílios
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Fernando Bonassi


Cena 9: Canção do Exílio


Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados para atrapalhar os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz "tuim" na cabeça da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são mais as das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição.







F. J. da Costa


A Palmeira, 1879


Quando brilha a luz de aurora

Sob a tela de turqueza;

Quando esperta a natureza,

Tão gentil e tão louçã:

Eu te adoro alta palmeira,

Garbosa, altiva e faceira,

A implorar altaneira

Um sorriso da manhã.


Eu te adoro; e quando à tarde,

Nas planices de oriente,

Vem a vesper refulgente

Te vibrar dardos de amor:

Bem quisera ser phalena,

Para, adejando serena,

Afagar com a leve antena

Teu docel, desfeito em flor!


Teu docel, onde o canário,

Com a plumagem dourada,

Vem saudar a madrugada

Desenhada em céu de anil;

Onde o bafejo da brisa,

Que brandamente deslisa,

Se refresca e suaviza

Colhendo perfumes mil!


No verde manto do prado,

Marchetado de boninas,

Tu, palmeira, predominas,

Sozinha, sem ter rival!...

A risonha natureza

Te fez dos campos princesa,

Deu-te Deus tanta beleza,

Qual não deu à flor do val!






Ferreira Gullar

 

Nova Canção do Exílio

 

para Cláudia

 

Minha amada tem palmeiras

Onde cantam passarinhos

e as aves que ali gorjeiam

em seus seios fazem ninhos

Ao brincarmos sós à noite

nem me dou conta de mim:

seu corpo branco na noite

luze mais do que o jasmim

Minha amada tem palmeiras

tem regatos tem cascata

e as aves que ali gorjeiam

são como flautas de prata

Não permita Deus que eu viva

perdido noutros caminhos

sem gozar das alegrias

que se escondem em seus carinhos

sem me perder nas palmeiras

onde cantam os passarinhos

 

 

 

 

Volta a São Luís

 

Mal cheguei e já te ouvi

gritar pra mim: bem te vi!

 

E a brisa e festa nas folhas

Ah, que saudade de mim!

 

O tempo eterno é presente

no teu canto, bem-te-vi

 

(vindo do fundo da vida

como no passado ouvi)

 

E logo os outros repetem:

bem te vi, te vi, te vi

        

Como outrora, como agora,

como no passado ouvi

        

(vindo do fundo da vida)

 

Meu coração diz pra si:

as aves que lá gorjeiam

não gorjeiam como aqui

 

 

São Luís, abril, 1996

 

 

Ferreira Gullar
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Site Oficial

 

 

 

 

 

 

Francisco dos Santos

 

poema de domingo

 

minha terra tem palmeiras

e corinthians

se a polícia pegar

faz qualquer passarinho cantar

(o que falta no poema

o juiz roubou com o gol)

 

 

 

Francisco dos Santos
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Poemas

 

 

 

 

 

 

Francisco Simões

 

Terra Minha

 

Minha terra tem palmeiras... mas também tem muito hipócrita, e, olhe, quanto canalha, e quantos corvos, e quanta gralha, quanta gralha, "que nos palácios se assoalha, em úberes mananciais de tetas sufragam a sugação do comum";

 

Minha terra tem palmeiras... e tem milhões sem eira nem beira que vivem a tomar rasteira de discursos, de decretos, de verbas tantas desviadas, para longe ou para perto, onde o esperto prevalece, a nação deve e não cresce, e o social morre sem prece;

 

Minha terra tem palmeiras... mas também tem bandalheiras, privatizadas ou não, onde meteram e metem a mão, levando os anéis sem deixarem os dedos, sem medos nem CPI, e nós aqui oh, e nós aqui oh;

 

Minha terra tem palmeiras... e teve Severino, e mais 300 deputados, não cassados, que enxovalharam o destino, plantando o dito, Severino, e se ele não renuncia, a fria ia cobrar a conta, pois é, e que afronta, que afronta;

 

Minha terra tem palmeiras... mas também tem muita droga: droga de síndico, droga de técnico, droga de árbitro, de vereador, droga de deputado e de senador, droga de prefeito e governador, e até droga de presidente, no passado e no presente; e no futuro? Ora, a gente que agüente;

 

Minha terra tem palmeiras... isto é, nem sei se ainda tem, com tantas queimadas, desmatamentos, assentamentos irregulares, madeireiros e madeireiras, milhões de quilômetros quadrados, queimados, derrubados, e um Ibama perdido e desorientado;

 

Minha terra tem palmeiras... onde canta o sabiá, quero dizer, se é que ainda canta, pois a maldade é tanta, a ambição tamanha, que numa visão tacanha espanta e mata, na mata, no mato, na floresta, com fogo ou tiro na testa;

 

Minha terra tem palmeiras... e renúncia que não enobrece, pois é fuga do que não se esquece, não rejeita, não abjura nem renega, mas prega o traseiro na poltronice, montado na covardice, cavalgando de volta, o que nos revolta e indigna, para, amparado por uma lei, cheirando a corporativismo vil, poder retornar limpo ao lugar de onde fugiu;

 

Minha terra tem palmeiras... e corruptos na cadeia, mas a sociedade está cheia de outros tantos que, para nosso espanto, vivem sob o manto do direito, usufruindo da mesma liberdade que probos e honrados, num mal sopesado parâmetro de justiça;

 

Minha terra tem palmeiras... e vozes que falam em nome da honra, da família, da ética, em patética encenação, já que as mãos estão sujas, a consciência pesada, a língua envenenada, o riso masturbado e o mandato cassado;

 

Minha terra tem palmeiras... e também muita excrescência, sob o véu de excelência, sob o manto da imunidade, com direitos e privilégios, num sacrilégio à verdade que aos outros mortais assiste;

 

Minha terra tem palmeiras... e este incompetente e inconformado poeta, que indignado está sempre alerta: "Versífero, vejo meus versos, dispersos, perseguirem algum sentido no injusto, no destrutivo, no lascivo, num universo para poucos onde há muitos perdidos, desorientados, estuprados, com o rumo e a vida profanados e um abismo sem fundo nem reverso...".

 

Minha Terra tem palmeiras... e essa porqueira toda, mas dentro de mim tenho outra terra, a que escolhi e me basta como Pátria: A terra dos duendes, das fadas e dos homens de bem. A terra onde as águas cristalinas ainda não foram poluídas pelas descargas das usinas, e os baobás não precisam se esconder das motoserras.

 

É a Terra dos Rui (Barbosa e Barata) dizendo do amor soberano pela mulher e pela Pátria, enxovalhada Pátria vendida em cuecas! Aqui eu me posto e olho meus filhos. Serão Severinos? Serão Zé Cohen, que recusou um mandato por não se achar à altura e com isso ganhou o direito de ser singular?

 

Minha Terra tem palmeiras... e tem coisas verdadeiras como amigos que fazem questão de se chamar Titó e beber um copinho de pinga no final da tarde, enquanto falamos de poesia e enrolamos um cigarrinho de rolo.

 

Ah! Minha Terra, tão longe e tão perto, quando foi que desisti de ti e me mudei para dentro de mim? Quando será que um outro Cabral gritará deslumbrado: "Terra à Vista"?

 

 

Com agradecimentos ao Alberto Cohen, em setembro, 2005

 

 

Notas do autor

 

·         os três parágrafos com as letras em itálico são uma valiosa, inteligente e espontânea colaboração do amigo e excelente poeta paraense, o Alberto Cohen;

·         Rui Barata, para quem não o sabe, foi um dos melhores poetas do nosso Pará, mas que ainda não recebeu a divulgação e a consagração que fez por merecer;

·         "Titó", também para quem não o sabe, era o apelido de criança e juventude deste modesto escriba que se empenha em acreditar nos homens, mas se confessa quase um renunciante, retirante da esperança que só o amor ainda segura;

·         os versos citados com aspas, no texto da crônica, são do meu poema "Tempo de Corvos", escrito em outubro/1998.

 

 

 

 

Francisco Simões
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Poemas

 

 

 

 

 

François Seul


Canção, 1881


Minha terra tem empregos

Melhores que os de pachá...

Só os cobres que eles rendem,

Dão para tudo quanto há;

— Mas de todos o trabalho,

Em obtê-los é que está.


Minha terra é muito rica.

Há quem lhe encha o tesouro:

O Governo... com emissões,

O Povo com muito ouro;

Mas dos empregos que há

Tiram-lhe as rendas o couro...


Em cismar que dia e noite

Me empenhando um não apanho,

Passo a ser republicano

Pois assim muito tem ganho

— Empregos de bom quilate

E bolas de bom tamanho.


E assim permita Deus

Que ainda venha a ser ministro,

Deputado ou senador;

Que ainda tenha a de Cristo.

— Brasão, coupé, ordenança

E seja nobre... Está visto.






 

Fred Matos

 

Trinados

 

um sabiá-laranjeira
cantando no meu telhado
uma rede na sombra
meu potro de pêlo malhado
uma morena faceira
no bolso algum trocado
é tudo o que desejo
e estamos conversados.

 

nada mais há que eu queira
este é todo o meu tesouro
sou um homem abençoado.

 

não devo ao imposto de renda,
não preciso advogado
nem ouro pra ser roubado.

 

um sabiá-laranjeira
meu potro de pêlo malhado
uma morena faceira
no bolso algum trocado
uma rede na sombra
e estamos conversados.

 

 

 

Fred Matos
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Conto

 

 

 

 

 

 

Frederico Barbosa

 

Mais Prazer Encontro Eu Lá

 

 

para Odesina

 

morar em São Paulo

é viver em fuga

 

cidade escapista

essa sem praia

 

megavila

provincianópole

oximoro máximo

capital do interior

 

a alegria começa

como promessa de norte

utópico

 

quando

a estrada atravessa

o trópico

 

 

Frederico Barbosa
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