..........deus aqui se chama makemake/ nos informa o vendedor de estatuetas/ dado inútil quando você está sem um puto// o makemake de madeira custa 200 dólares/ nos informa o vendedor / jornalistas se informam sobre câmeras / a minha armazena 400 bilhões de megapixels informa um repórter bicha / já os moai kiss my ass sopram pro mar turquesa/// em hangaroa no hotel a arenga: sucata romântica americana & muitas libélulas & um copo d'água por 3 dólares/, velhos japas gringos dançando hula-hula informam: tudo vai acabar em banha trêmula ]]] muito embora/ não pareça educado deixar de aprender com a estupidez alheia/ & provocar acidentes felizes // como a miss chile / que me informa/ no meio de duas piñas coladas/ dois peitos soltos/ os rapanui ao pressentir a morte procuram as grutas de seus lagartos ancestrais// & nunca perdem o caminho de volta quando se tornam os fantasmas da noite

..........]]] pradarias, cabeças enterradas e bosta por bosta lembram minas gerais/ tudo eterno, severo, indiferente / e desperdiçado ::::::::: inexiste magia em lugares encantados como esta fábrica de sombreros de pedra rubi / senão repórteres atrás de fatos fajutos e cercas de arame farpado //// 'se queres saber do amor que fazem as pedras/ detona um omelete com um ovo de pássaro sagrado/ e esculpe um moai com a tua própria merda :::::::::::::

..........e então surgirá um cavalo branco no alto do vulcão /

..........: sou um moai esperando pelos olhos que meu clã prepara/ um golem enterrado saudoso de minha origem e da magia mana me comunicando com magma e peixes curados / o nariz pra baixo derrubado / palmeira solitária entre cactos que falam demais/// não quero incomodá-los, mas vocês estão me incomodando — maresia venenos fotos roem meu corpo há séculos ///// e assobios e gritos de perdizes superaquecem a luz da minha consciência// aqui neste vôo de moscas à espera que nosso rei retorne/// se quiser minha foto nalguma revista/ mesmo deitado e sem olhos importa é manter a aparência de homem-pássaro :::::::::

........../ céu /

..........: nesta última ilha, o dia é sempre mais longo que os teus arrependimentos/ passo todos os dias olhando para o oeste/// na esperança que meus olhos retornem do mar / aí provarei da carne das cores sem metáforas mumunhas cochichos :::::::::::::

..........durante as guerras intestinas, cada clã derrubou os moai do inimigo/ agora, 400 lábios beijam o mesmo chão que budas amassaram por amor aos talibãs/ 'enquanto esquecem bitucas entre pretas pedras vulcânicas ]]] nem todos se calam diante das pedras eternas / onde japas ricos se dissolvem em nitrato de prata// 'pássaros novos insistem em voar/ e caem/ em rano raraku, em torno a um morro em forma de mamilo, perto do mar/ cavalos relincham e a grama cheira forte/ somos todos peças de um xadrez de moscas e americanos que zunem/ & as crianças maori riem do meu nariz de macaco e de meus cabelos brancos/ me apontam e dizem que eu pareço makemake/ makemake/ makemake/ earthquake :::::::::::::

........../ nunca sairei daqui /

..........makemake é só o rosto de um deus sorridente/ 'quantos campos de futebol cabem em um vulcão?/ quantos discos voadores couberam no céu de páscoa?/ quantos deuses cabem no meu cartão de crédito?/, para crer em alguma informação/ é preciso passar pela morte/// pois se fria a água, a gaivota não pode tomar o sonho/// 'assim // por delicadeza/ só me resta subir ao mais alto rochedo/ encher meus bolsos de pedras/ me atirar no azul turquesa/ voltar à única polinésia real ::::: a submersa

..........butthole kongo/ um qualquer turista'

........../ fui

 

Outono, 2003







Ronaldo Bressane (São Paulo-SP, 1970). Trabalha como jornalista e é autor da trilogia de contos A outra comédia, formada por Os infernos possíveis [Com-Arte/USP, 1999], 10 presídios de bolso [Altana, 2001] e Céu de Lúcifer [Azougue Editorial, 2003]. Alguns de seus artigos podem ser lidos no jornal Rascunho; algumas reportagens, na revista TRIP. Além de colaborações esparsas em sites, revistas e suplementos literários, participou da revista PS:SP [Ateliê Editorial, 2003] e da antologia Geração 90: os transgressores [Boitempo, 2003]. É editor-executivo da Revista V. Edita o blogue Impostor.