Rodrigo Leão - Quando e como surgiu a idéia de escrever Alqueluz?

Luiz Antonio Aguiar - Faz muito tempo. As 1001 noites são mais do que importantes em minha vida, eu me alfabetizei escutando essas histórias sendo lidas por meu pai, e o univero das 1001 noites foi uma das coisas que fizeram minha cabeça para a fantasia, e para ser escritor. Queria contar histórias tão fantásticas quanto aquelas. Tenho o projeto de escrever esse livro comigo faz mais de 10 anos.


RL - Qual influência tem de Malba Tahan?

LA - Malba foi um prolongamento das 1001 Noites, e acho que é um autor fundamental pelo que divulgou da fantasia árabe em nossa cultura.


RL - Por que a personagem principal é Laila, uma garota? Há quem a compare pela força poética à Narizinho? Você concorda?

LA - Mais ou menos. Narizinho, em Lobato, é um personagem mais delicado, principalmente nas aventuras. Laila está mais para uma protagonista que às vezes não sabe o que tem de fazer. Uma heroína que tem de lutar para se safar o tempo todo.


RL - Como foi o processo de criação do livro? Você utiliza escaletas?

LA - Sim, faço roteiros, levanto imagens que me cercam, e dão o clima. Um pouco disso está contado no HotSite do livro: www.docedeletra.com.br/alqueluz


RL - Como surgiu o escritor que há em você?

LA - Meio que de tanto contar história para mim mesmo, dentro da minha cabeça, quando era criança. Aí, eu descobri A Chave do Tamanho e vi que as histórias que eu bolava, podiam ser colocadas por escrito. Depois veio Mark Twain, a Condessa de Segur...


RL - Por que escreve livros infanto-juvenis? Nunca pensou em escrever para adultos?

LA - Já, mas fico chato, enroscado, amargurado. Melhor escrever para quem abre os olhos e se encanta diante do mundo.


RL - Em que os prêmios Jabuti impulsionaram a sua carreira?

LA - É um reconhecimento, uma validação. Foi importante ganhar o Jabuti, e outros prêmios também.


RL - Você montou, junto com o site Doce de Letra, todo um aparato para o lançamento do livro na Internet. A Internet ajuda ou atrapalha a vida de um livro?

LA - Foi uma experiência tipo abrindo caminhos. Creio que é um veículo que deve ser mais explorado, assim como devemos buscar o público que freqüenta a Internet.


RL - Você é o presidente da Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-Juvenil. Quais têm sido as vitórias à frente da Associação? Quais as vantagens de ser um associado?

LA - Temos conseguido um espaço institucional que leva a AEI-LIJ, representando autores, a participar dos fóruns que hoje discutem a Política Nacional de Leitura. Temos parcerias sendo consolidadas com a Feira Literária de Parati. E participação nas principais feiras de Literatura Infantil e Juvenil. Isso é o que colocamos à disposição de nossos associados.


RL - Poderia traçar um perfil do profissional que trabalha com o livro infanto-juvenil? Por que é o setor mais bem sucedido da área editorial?

LA - Porque tem uma ligação forte com seu público. Não só visitamos escolas e conversamos com a garotada o tempo todo, como em nossa literatura há espaço para uma interlocução, que já começa na criação da história. Ou seja, procuramos e queremos ser lidos! Isso faz uma enorme diferença.


RL - O que é necessário para aumentar o público leitor no Brasil?

LA - Distribuir renda, aumentar oportunidades de trabalho, prosperar com o país e aumentar o nível educacional e cultural de nossa sociedade.


RL - Você é mestre em Literatura Brasileira. O que mais o desencanta com a educação no Brasil?

LA - Os baixos salários dos profissionais da área e a falta de recursos.


RL - Como é o seu trabalho à frente da Veio Libri?

LA - A Veio Libri é uma consultoria editorial que há vários anos presta serviços para algumas das principais editoras do país, produzindo textos, fazendo traduções, leitura crítica e outros serviços correlatos.


RL - Quem considera que faz hoje no Brasil boa Literatura para adolescentes e crianças?

LA - Muita gente, uma lista enorme. Até porque o público é bastante diversificado e requer uma literatura bastante plural.


RL - Não estão dando, principalmente para as crianças, mais valor à ilustração que ao texto?

LA - Não, a ilustração tem ganhado maior importância ultimamente, até porque há uma mudança de mentalidade quanto ao caráter do livro, que também inclui a arte visual. Temos livros esteticamente mais bem cuidados hoje, o que é uma delícia para os leitores.


RL - O que deve ter um livro para que ele seja de Luiz Antonio Aguiar?

LA - Sempre procuro desenvolver bem personagens, enredo e história. Ou seja, cuido dos aspectos de composição literária, que acho fundamentais. Busco também aprender a lidar com diversos estilos e gêneros.


RL - Tem algum mote ou epígrafe que o acompanhe pela vida?

LA - Acho que não, lamento.


RL - Quando lhe entrevistei pela primeira vez você disse: "nenhum". Qual o papel que o escritor tem na sociedade? Mudou?

LA - Não. Posso ter minhas tendências pessoais, e respeito quem faz sua literatura de acordo com isso, mas se eu me filiasse, ou melhor, se filiasse o que escrevo, ia deixar de privilegiar o que realmente, para mim, faz a Literatura. Não desejo ensinar, nem pregar, nem convencer, nem defender. Quero escrever histórias que façam a garotada torcer, rir, chorar, lembrar, pensar o mundo com sentido de descoberta e liberdade.

 

 

Luiz Antônio Aguiar é carioca, de 1955. Mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ, com uma tese sobre leitura na cultura de massas, resenhista em cadernos literários, animador de oficinas de leitura e redação. Trabalhou muito tempo como roteirista de histórias em quadrinhos, escreveu pocket-books, trabalhou também em publicidade e marketing. Sócio da Veio Libri, que presta serviços de assessoria editorial para várias editoras, instituições e empresas: redação, copydesk, ghost-writer e tradução, confecção de roteiros de leitura, de textos promocionais (releases, orelhas, 4ª capas e catálogos) e avaliação de originais. Tem 60 títulos publicados, ganhou diversos prêmios com seus livros, inclusive o Jabuti, em 1994, com Confidências de um pai pedindo arrego. Membro da UBES, é sócio fundador e, atualmente, presidente da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ). Mais no Doce de Letra.

 

 

 

 

dezembro, 2005
 
 
 

Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há Flores na Pele, entre outros. Participou da antologia Na Virada do Século — Poesia de Invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái — Revista de Poesia & Debates. Edita os blogues Lowcura e Pesa-Nervos. Mais na Germina.