No cume da minha serra Eu plantei
uma roseira, Quanto mais as rosas brotam Tanto mais o cume
cheira.
À tarde, quando o sol posto, E o
vento o cume adeja, Vem travessa borboleta, E as rosas do
cume beija.
No tempo das invernadas, Que as
plantas do cume lavam, Quanto mais molhadas eram Tanto mais
no cume davam.
Mas se as águas vêm correntes, E o
sujo do cume limpam, Os botões do cume abrem, As rosas do
cume grimpam.
Tenho pois certeza agora Que no
tempo de tal rega, Arbusto por mais cheiroso Plantado no
cume pega.
Ah! porém o sol brilhante Seca logo
a catadupa; O calor que a terra abrasa As águas do cume
chupa!
(imagem ©jozsef
szentpeteri)
Nota das Editoras: estes
versos constam do livro Poesias livres de Laurindo José da Silva
Rabelo (Poeta Lagartixa. Rio de Janeiro, 1826-1864), publicado
em folheto, em papel ordinário e por uma livraria-editora anônima do Rio
de Janeiro, provavelmente em 1882. Foram tão populares em fins do século
XIX, que chegaram a Portugal em cópias manuscritas, mais do que
clandestinas, sendo gravados em disco no início do século, por duas
vezes, pelo menos, sob a indicação de "poesia carnavalesca" ou
"versos carnavalescos". Quem dá conta desta informação é José
Ramos Tinhorão, no livro História social da música popular
brasileira (São Paulo: Editora 34, 1998). Foram gravados
em música, também, no Brasil, por Falcão, no CD Do penico à
bomba atômica (2000), com o nome de "No Cume", de
autoria (?) de Falcão e Plautus Cunha.
|