Limerick: o capricho do relaxo

 

 

     O limerick é um poema popular, basicamente oral, de tradição inglesa, cuja temática, dixit Glauco Mattoso, oscila entre o nonsense e o escatológico. Foi introduzido no Brasil, no final dos anos 70, pelo poeta, escritor e letrista Braulio Tavares, nas páginas então avulsas do Jornal Dobrabil, do próprio Mattoso, que também lançaria os seus Limeiriques (Edições Dubolso, 1989). 

     Retardatário, só vim a traduzir um punhado deles já no século 21, por desfastio, e mantive essa opus obscena convenientemente fora de cena. (Espero que minha mãe e minhas filhas não leiam esta amostra grátis. Muito menos a síndica do meu prédio, senhora severíssima, que canta no coro da igreja.) Porque o limerick, ladies and gentlemen, fala sempre, impudicamente, das partes ditas pudendas.   

    Algumas autoras de livros infanto-juvenis vêm usando essa forma poética para fins didáticos, mas limericks são mesmo os jogos florais do baixo calão e do bom humor. O capricho do relaxo. Aprecie sua chulice com moderação. Perdão, mamãe.

 

 

LRG
 
 
 
 

 

Um romano chamado Brutus

Fodia uma puta, abruptus.

Mas antes do jato,

Sofreu um infarto.

Morreu num coitus interruptus.

 

 

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Sempre virgem: Aparecida

Jurou ser casta toda a vida.

Mas quando o capeta

Lhe assanha a buceta,

C'uma vela está bem servida.

 

 

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 El Presidente, ofegante,

tentava meter na amante,

jovem jornalista,

boa de entrevista:

"Querido, o poder é broxante?".

 

 

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 Ousada, usava Leonor

Dinamite como vibrador.

Espalhou a vagina

Por toda Teresina.

Tecos de tetas por Salvador.

 

 

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Uma moça da zona rural,

Tinha tara por sexo oral.

Sugava em dois tragos

O leite dos bagos.

Mestra em chupeta. Doutoral.

 

 

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 Uma guria da Hungria,

Fodia com uma enguia.

Por que tal capricho,

Enfiar esse bicho?

"É maior que uma pica; mas fria!".

 

 

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"É grande e grosso", diz o Hugo,

Do calibre de seu tarugo.

Nenhuma faz fricote:

Já pega no mangote.

Pois gostam bem grosso o sabugo.

 

 

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Um jovem gaúcho, Felício,

Fodia qualquer orifício.

"Mulher é legal.

Ovelha é a tal.

Mas uma lhama... é meu vício".

 

 

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A mulher do barman Pimenta

Tem uma buceta suculenta.

É um suco tão bom,

que com rum e bourbon,

deu drinque: Leite de Jumenta.

 

 

*

 

 

Uma mulher chamada Duda

Tem a chavasca tão peluda,

Que um mau fodedor,

Enroscou o picador —

Perdeu seus colhões na barbuda.

 

 

*

 

 

Chiquinha já sabe o desfecho

De beber e perder o eixo.

Acorda pelada,

A racha melada,

Com porra pingando do queixo.

 

 

*

 

 

Jocosa, Lady Letícia

Peidava música com delícia.

Tudo bem que peidasse

Uma ópera de classe,

Mas a Ave Maria, na missa?

 

 

*

 

 

Certa moça de Moçambique

Não trepava: tinha chilique.

Até que um negrão

C'um pau de garanhão,

Curou de vez seu tremelique.

 

 

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Um chinês chamado Chang Cheng Ching

Tinha um pinguelo bem chinfrim.

Ao ver o pinto pronto,

As putas dão desconto:

"Você paga meia, pingolim".

 

 

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(imagens ©jupi galiano)      

 

Luiz Roberto Guedes (São Paulo, SP, 1955). Poeta e escritor. Publicou, entre outros, Calendário Lunático/Erotografia de Ana K (Ciência do Acidente, 2000) e organizou Paixão por São Paulo — antologia poética paulistana (Editora Terceiro Nome, 2004). Prepara o lançamento da novela O Mamaluco Voador, pela Travessa dos Editores, de Curitiba. É também letrista de música popular sob o nome de Paulo Flexa. Mais aqui.