PARÓDIA ANTIQUÍSSIMA N0 1
 
(À moda de Toms António Gonzag)
 
Tua burguesa bucet quanto lateja
(como se ostra degustando pérolas)
nem por isso, Marília, nem por iss,
ouriça menos meu chouriç.
 
Tua tímida bucet camponesa
(trancada a 7 chaves qual tesouro)
é no escuro, Marília, é no escur
que mole carne se torna ferro dur.
 
Amo a ambas com a mesma intensidad
e nessa classe de lutas me confundo
irônic, grostec, fero e rude:
 
diante de vós duas choro fundo
e volto à mamdeir tímid e trêmul
sem ter gozado tudo do que pude.
 
 
 

NOVA TROPICÁLIA
 
Onças, antas, tamanduás.
Sagüis, capivaras, tatus.
Preás, ariranhas e caititus.
Todos tomando nos cus.
 
Bagres, traíras, piraíbas.
Lambaris, piaus, pirarucus.
Piranhas, corvinas e pacus.
Todos tomando nos cus.
 
Sapos, jacarés e calangos.
Corais, jararacas, urutus.
Todos tomando nos cus.
 
Sabiás, curiós e sofrês.
Sacis, caaporas, jecas-tatus.
Todos tomando nos cus.
 
 
 

NA AURORA DA MINHA VIDA
 
Na cobertura
loura nua
pactua
com a lua.
 
Pela greta
qual retreta
feroz
punheta.

 
 

ERÓTICA BATALHA
 
Tua latejante buceta palpitante.
Meu amargo cacete perfilado.
Ovos batem continência à beira do saco.
Como um guerreiro de merda
o cu recua ante a dura ofensiva.
Grandes e pequenos lábios
batem palmas e riem.
Meu cacete é a bandeira nacional.
A guerra é santa e eu avanço.

 

 

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

Cague dentro de um prato fundo de porcelana.
Junte farinha. Uma pitada de sal. Pimenta.
Louro e orégano para realçar cheio e sabor.
Amasse com os dedos. Teste a consistência.
Leve ao forno branco. Asse com ternura.
Pense no futuro. Pense vagamente no futuro.

(O gambá tem 100 milhões de anos.)
(O esfenodonte está vivo há 200 milhões.)
(A barata. O rato. O cavalo. A centopéia.)

Mastigue lentamente de olhos fechados.
Mastigue lentamente. De olhos fechados.

 


ODE AO PONTO FINAL

Tudo o que começa, Mal, termina.
À sombra de um karma cochila outro karma.

Cadê o futuro que estava aqui? Fodeu-se.

(É muito tarde demais pra morrer jovem.
Os deuses desolados fecham a porta.)

 


PRATOS DO DIA

(Cardápio para o restaurante do Sérgio (Ralfo) Sant'Anna)

Orelha fritas. Bosta cum farofa.
Pimentão cum miolos de feto.
Câncer assado cum molho de camarão.
Olhos à milanesa. Sacos cum ovos ao molho pardo.
Dentes cariados cum aspargos.
Bucetas grelhadas. Seios murchos à moda da casa.
Filé de bunda. Dedos sem osso.
Leite materno ao ponto. Unhas torradas.
Muqueca de catarro. Sopa de urina.

 



ARTE POÉTECA

Bem no fundo da biblioteca
morava horrível poeta mongolóide.
Rimava fungo com resmungo
mofo com estofo
podridão com escuridão.
Guardava seus poemas numa lata velha.
Esquentava a sopa numa lata velha.
Amava, quando amava, uma puta velha.

 


OH QUE ESTÚPIDO FUI!

Quebrei minha panelinha literária
no dia em que nasci.
Voaram cacas, caquinhos e cagões
fedendo como nunca vi.

Desde então sou poeta solitário
corajoso, forte e temerário
orgulhoso pra caralho
mas no borralho.

Quem me empresta nova panelinha?
Quero que me puxem o saco.
Exijo ser chamado gênio.
Preciso cagar regras.

Ai que saudades de uma cagadinha
na minha literária panelinha.

 

(imagens ©davies & starr)

 

 

Sebastião Nunes, Sebastunes Nião, Sebunes Nastião, Bastião Nu, Sabião Bestunes, etc., escritor, editor e artista gráfico. Como poeta, tem onze livros de poesia experimental editados entre 1968/89, reunidos nos dois volumes da Antologia Mamaluca e Poesia Inédita. Ficcionista, com três livros: Somos todos assassinos (edições para subscritores pela Dubolso, 80, 81, 95, e uma edição comercial pela Editora Altana, de S. Paulo, 2000); Decálogo da classe média (Dubolso, 1998), enviado a 120 intelectuais de todo o país dentro de um pequeno caixão de defunto; História do Brasil — Estudos sobre guerrilha cultural e estética de provocaçam (edição para subscritores em 1991 e edição comercial em 2000, pela Editora Altana, de S. Paulo). Ensaísta, tem um livro pela Dubolso, em 1996: Sacanagem Pura, ensaios sacanas sobre publicidade; e uma apropriação lúcido-satírica do caderno Mais!, da Folha de S. Paulo, 1996, enviada a 450 personalidades da cultura brasileira. Autor de três livros infanto-juvenis pela RHJ, de Belo Horizonte (1998), e quatro pela Dubolsinho (2000), assinando Sebastião Nuvens. Editou, pela Dubolso, mais de 50 autores, especialmente de poesia e prosa experimental, desde 1980. Entre eles, Carlos Ávila, Rita Espeschit, Glauco Mattoso, Bernardo Guimarães (O Elixir do Pajé), Otávio Ramos, Romério Rômulo, Thais Guimarães, Roberto de Carvalho e vários outros. Entre obras sobre e a partir de seu trabalho, destacam-se: Antologia Mamaluca, espetáculo do Grupo Giramundo, com direção de Álvaro Apocalypse; Lugares, música de Fernando e Robertinho Brant, incluída no CD de mesmo título; Provocaçam, vídeo de Anna Flávia Salles Horta, Rodolfo Magalhães, Cristiane Zaggo e Ricardo Aleixo e Um fascículo mamaluco, organizado por Carlos Augusto Novais e Luiz Dulci, volume 5 da série Temporada de poesia, em 10 volumes, comemorando o centenário de Belo Horizonte. É colunista do Cronópios.