*

 

Alguns gostam de fi-o-fó
Outros de suco de mangaba
Eu, mais modesto,
Gosto mesmo é de uma
Xiranhanhanhanhã em noite de luar.

 

 


*

 

Sonhei um sonho arretado:
As raparigas de Maria Boa
Me lambiam
Da cabeça aos pés.
Quando acordei
Lampeão Virgulino
Me olhava com olhos
De poucos amigos.
Caguei-me todinho.

 

 


*

 

— Compadrim meu
Existe coisa melhor do que farinha com rapadura?
— Existe, homem: mulher nova, borogodosa e cheia de quentura,
Meu compadrim.

 

 


*

 

Sou macho
Eu também já broxei.
Sou macho
Eu também já levei porrada.
Sou macho
Eu também já dancei tango em Caruaru.

 

 


*

 

Vixe Maria, minha Nossa Senhora
Das Bicicletas Enferrujadas,
Hoje tô mais louco do que amanhã
Uma vontade danada de comer romã
Com farinha, rapadura e um belo xibiu
Tudo pelo bem do meu amado Brasil
Conforme Zé Limeira e o seu jumento
Assim diz o Novo Testamento.

 

 


*

 

Muitos são doutores em astrologia
Alguns são doutores em politicagem
Outros são doutores em teologia
Vários são doutores em viadagem
Chico Doido é doutor em bucetologia
Os demais são doutores em sacanagem.

 

 


*

 

Pretinha, pretinha, minha doce Rosinha,
Quando comerei a tua quente goiabinha?
Comerei hoje, comerei ontem, comerei amanhã?
Ou só comerei em noite de clássico no Maracanã?

 

 

 

 

 

 

*

 

Caicó é terra de cabra macho
O Seridó também.
Bem que Jesus Cristo
Poderia ter nascido por lá
Pra espantar as moscas
E atrair as donzelas da capital.

 

 


*

 

Eu queria comer uma dona
Mas ela era muito difícil e cheia de coisas
Não adiantava nada
Nem contar goga, fazer fita e pantim
Na frente da casa dela.
Não adiantou nem oferecer
Um folheto de feira de Cancão de Fogo.
O jeito foi dizer
Que eu também escrevia poesia
Cada uma mais doida do que outra
Assim do meu jeito.
Ela leu e rasgou os vinte e 3 poemas
Que eu fiz pra ela.
Ficou vermelha, me chamou de imoral
Mas findou me dando aquele priquito
Que era mais safado do que os meus versos.

 

 


*

 

Procotó procotó procotó
Vou voltar pra Caicó
Lá sou amigo de Bandeira
E terei a quenga que eu quero
Na rede que escolherei.
Procotó procotó procotó
Vou embora pra Caicó
Lá o Itans é tão grande
Que Joana, a louca da zona,
Foi champrada por Napoleão.
Procotó procotó procotó
Não há cidade como Caicó
Lá os serrotes são mais serrosos
Os açudes e rios mais belos
E as bucetas são mais quentes.

 

 


*

 

Gosto de mulher de tudo que é jeito
Até das muito bonitas
Que não sabem foder muito bem
E até mesmo daquelas
Que nunca deram o xibiu
Para o meu consumo.

 

 


*

 

Macaxeira mocotó
Vou embora pra Caicó
Lá terei a mulher que eu quero
Sem muito lero-lero
Na cama que foi de Bandeira
E da minha lavadeira
Senhora de muito respeito
E de um belo par de peitos.
Vixe Maria, me lembrei agora
Pra Caicó vou-me embora
Pra gritar "Viva Seu Libório"
Em noite de foguetório.

 

 


*

 

Nem todo mundo é bom de cama
Já dizia Jesus Cristo.
Nem todo homem é bom de pica
Já dizia Maria Bonita.
Nem todo homem tem culhão
Já dizia Lampião.
Nem todo mundo é bom de língua
Já dizia Abraão Lincoln.
E viva São Sebastião
No dia da esculhambação.

 

 


*

 

Homem com homem
Mulher com mulher
Pessoa com pessoa
Tudo vale a pena
Se a foda não é pequena.

 

 

 

 

 

 

*

 

Nunca mais vi o Itans sangrar.
Nunca mais, nunca mais!
Nunca mais mergulhei no Poço de Santana.
Nunca mais, nunca mais!
Nunca mais vi um filme no Cinema Pax.
Nunca mais, nunca mais!
Nunca mais chumbreguei as bucetas de Caicó.
Nunca mais, nunca mais!

 

 


*

 

A rapariga que eu mais quis bem
Me dava dinheiro
Me dava cigarro
Me dava cafuné
Me dava cachaça
Me dava embalo na rede
Me dava tudo
Só não me dava o cu.

 

 


*

 

            Dedicado a Zé Limeira

 

 

Prezada Dona Chica de Igapó:
Venho, de novo respeitosamente,
Com a minha filosopotia pai d'égua,
Solicitar a tua quente goiabinha
Para o meu particular uso e abuso.
Prometo que saberei borogodeá-la
Sem mais, sem menos, sem talvez
Pelo menos uma vez por mês
Limeirando uma, duas ou três.
Do teu Chico que nasceu em Caicó
País de cabra macho e de jumentos
Que adoram apreciar o luscofusco
De tangerinas e lobisomens. Arre égua,
Acabo de me lembrar agora: o Peru
Ganhou a guerra da Coréia
Com a força de sua idéia.
Passa, passa, passatempo,
Tempo, tempo, passa lento,
Jesus Cristo nasceu em Caicó
E morreu em Jardim do Seridó
Comendo macaxeira com mocotó,
Assim diz o Novo Testamento.

 

 


*

 

Tô fudido
A onça virou jacaré
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
O azul ficou vermelho
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
O general deu a bunda
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
Comeram a mulher do bispo
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
Cristo não é mais Cristo
Poesia não é mais poesia
Caicó não é mais Caicó
E botaram a culpa em quem?
Em quem botaram a culpa?
No prefeito de Cruzeta
Que não gosta de buceta?
No delegado de Jardim
Que não gosta de jasmim?
Não não e não
A culpa botaram em mim
Um tal de Chico Doido
Doidão por um xibiu
Quente e aveludado
Com sabor de mel e romã
Quente e aconchegante
Com sabor de mel e manhã
Assim como o xibiu
Da puta Rosalva
A maior devoradora de picas
Que este Chico Doido
Já viu provou e gostou.
Tô fudido
Ou fudido não estou?

 

 


*

 

Sou doido, sim,
Gostaria de ter comido Teresinha
Morango com açúcar e melão
Debaixo da ponte do Rio Barra Nova
Com bruta paixão.
Sou doido, sim,
Gostaria de ter lutado ao lado
De Lampeão com faca e facão
Pra enfrentar os macacos da capital
Com feroz emoção.
Sou doido, sim,
Por orgulho e tradição
Viva Nossa Senhora das Porradas
A caminho de São Sebastião.

 

 


*

 

Não, não sou Jesus Cristo
Nem a puta Madalena
Não, não sou Napoleão Bonaparte
Nem a rainha da Espanha
Não, não sou Lampião Virgulino
Nem a valente Maria Bonita
Não, não sou nenhum deles
Não sou nenhuma delas
Sou apenas o Chico Doido
Caicoense, buceteiro e bucetólogo.

 

 


*

 

Sou doido por mulher
Sou doido por cachaça
Sou doido pra gastar dinheiro
Sou doido por uma bunda
Sou doido por Caicó
Sou doido pelo mar
Sou doido por violão e lua cheia
Sou doido por uma conversa de bar
Sou doido por arribaçã
E sou doido propriamente dito.

 

 

 

 

Chico Doido de Caicó (1922-1991). Macho. Caicoense, buceteiro e bucetólogo. Doido propriamente dito. Mais informações com Moacy Cirne e Nei Leandro de Castro, que organizaram o seu único livro de poemas — 69 Poemas de Chico Doido de Caicó (Natal: Sebo Vermelho, 2002)

 

 

 

(imagens ©pawelwojcik)