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retrátil
respirar nas folhas do álbum o gosto de casa velha dos avós quando eram vivos e nos enchiam de sorrisos quentes com manteiga
bolinhos de chuva no telhado
[eu sentia cada golpe]
o escuro estreita as paredes e um senhor desenterra da boca uma lâmina mais fria que o inverno em seu rosto
o tempo repousa nos móveis
revoada em papel de seda passos minerais no relógio de alguém que se aproxima
o sem fim de se apagar os olhos vítreos
[não sou mais o mesmo] solidez de pó sobre a cadeira [sou ainda e tantos outros]
o infinito e a sucessão dos mesmos quadros
18h no zoológico
o relógio desregula os batimentos cardíacos da tarde e as colunas do meu corpo fogem pontualmente em desespero brando estão todos aqueles que arquivam sapatos e experimentam a oxidação dos ossos sob a mesa
retinas e dentes alambrados na veneziana espiam os cartazes do cirque du soleil
torcendo pra que não chovam elefantes ou tigres de bengala
presente
o pensamento querendo tocar o objeto paredes que se rompem ao contato de uma luva
o embrulho nas mãos se desnuda dos laços e revela o vazio em que se vê
perplexo você rega a fluidez da própria pele
um naco de metafísica sobre a cama um cadáver manipulado a silêncio e bisturi
espaço de uma sala incontinente
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Eduardo Siqueira (Maringá/PR, 1984). Tem poemas publicados na revista eletrônica Cronópios e participa da II Antologia de Poetas Lusófonos (Folheto Edições, 2009). Mais em seu blogue, aqui.
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