©fernando torquatto | paparazzo
 
 
 
 
 
 
 

Fui convidada para dar uma entrevista ao jornalzinho da Saara — Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega —, atualmente o maior conjunto de lojas e camelôs do Rio de Janeiro. Cheguei um pouco atrasada e tomei um susto com a recepção. Tinha uma banda tocando bem em frente a uma banca de biquínis e uma faixa com a saudação: "Viva a nossa musa".

 

Fiquei me achando mais poderosa que a Gretchen e senti até pena de não ter vestido uma roupinha mais atrevida, mas eu havia me preparado para uma entrevista literária, segundo a informação do editor.

 

Eles apreciavam minha filosofia de vida. Será que eu sou a Nitchie do pagode e não sabia?

 

Sentei-me com Alberto, meu entrevistador, no restaurante Cedro do Líbano e imediatamente colocaram em nossa mesa kafta, tabule, quibes e esfihas. Sorri e disse que essa conversa era muito calórica, porém Alberto avisou que mulher acima do peso estipulado por Versolatos é que é o seguinte nessas bandas. Pronto, agora eu já estava possuída da quase certeza de que eu era Rosa Juliana Nitchie Paes.

 

O barulho da bandinha ia cada vez mais alto e a quantidade de gente, principalmente homens, idem. Eu quase já não ouvia as perguntas sobre meu livro, fora a surpresa com isso tudo. Que alegria!

 

Quando eu estava na quinta esfiha e na sexta resposta, o garçom deu um berro da porta, pra galera:

 

— O segurança avisou que ela acabou de chegar!

 

Eu sorri e pensei "mas eu já estou aqui há mais de uma hora". Então, de súbito, o entrevistador pediu-me um momento e levantou-se. Levantei-me junto e vi a Siri do BBB 7, a notável e gostosa sacoleira namoradinha do Alemão, chegar no maior agito, com a faixa de musa da Saara. Comi mais uma esfiha e pedi para embrulhar três quibes pra viagem.

 

Alberto voltou a sentar-se rapidamente e fez questão de tirar uma foto minha. Avisou que eu sairia no jornal daquela semana. Agradeceu minha atenção, pagou a conta e me deu um abraço carinhoso.

 

Fui andando pela Alfândega rindo da minha Gretchen imaginada, quando tocou o celular. Era meu marido perguntando como havia sido.

 

— Comi quase uma dúzia de esfihas e ainda tô levando uns quibes pro meu Magal.

 

— Viagem perdida?

 

— Não, de jeito nenhum. Acabei de comprar um lenço de onça por $4,99, para a inimiga declarada do final do ano e, no momento, estou na banca de calcinhas sexy. Cada uma show, pois quero vê-lo sorrir, quero vê-lo cantar, quero ver o seu corpo dançar sem parar.

 

— Mas vai sair a tal entrevista?

 

— Veremos na sexta.

 

Saiu, na penúltima página, um pouco acima do obituário, ainda bem.

 

A Siri na capa.

 

Mas justiça seja feita. Vaga no BBB é bem mais difícil que em universidades e Playboy vende muitíssimo melhor que livros. Volto lá para repetir o tabule. Bom demais.

 

 

 

 

 

setembro, 2007

 

 

 

 

Rosa Pena (Rio de Janeiro-RJ). Escritora, professora e administradora de empresas. Publicou PreTextos (Editora All Print, 2004) e Ui! (Rio de Janeiro: Editora Bagatelas!, 2007). Mais em seu site.

 

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