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pedras que nos cercam
trazia nos bolsos um punhado de pedras acariciava cada uma delas, deu-lhes nomes mas sempre se esquecia qual era qual, ficaram nos bolsos até o tecido ceder o teu nome foi com uma delas as letras escritas na memória sabem ao teu olhar, transformador de riachos |
não me habituo
Vejo-te dentro de mim inventei-te em dias dourados caminhas nas minhas almas divididas não sei do que são feitos os meus amores mas sei que não me habituei a saber dar-te um abraço que ficasse para sempre sacudo-me, torço-me, espero os ventos, afasto os dias não sei do que se trata a realidade lá fora mas sei que não me habituei
assim sabendo sem saber vou falando o que o meu peito grita a minha voz aquecida tenta não sei da cor na amargura do tempo mas sei que não me habituei nos meus desenhos as canções soam em ritmos atávicos não sei se existes mundo de cantares solidários mas sei que não me habituei a esquecer-me de ti |
tens sido
Tens sido um ás nessa de protocolos acho que me contagiei Vales pelos sorrisos provocados pelas tuas e pelas minhas palavras não de entrelinhas, sem linhas mesmo cada palavra escrita talvez não fossem nunca ditas Vales pelas provocações dos conhecimentos de mundos onde o convencional perde lugar mas está presente Vales pelo pedaço de coração que roubastes sem saber onde o colocar anda no firmamento Vales assim nesta amizade que sem tempo vive sem lugar cresce com carinho segue Vales pela liberdade de conhecer e não concordar Vales pela diferença num mar de águas comuns Valho por assim sentir, mesmo assim saber dizer-te sem medos demasiados mas com a vida pulsando neste mundo tão torto Oiço is a beautiful day de bem com os meus sentimentos saberás dizer-me mais de ti sem protocolos |
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desenhar
hoje desenhei-te em memórias de palavras o que me dizes ficou na sombra da invenção assim aquecidas, serão esquecidas neste desenho, vejo-te num olhar interno tombada sobre mim mesma não te sei também não me reconheço somos outros desenhar de esboços cheios de salinas dessas paisagens partilhadas no silêncio |
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por que é que
Por que é que o tempo passa? Por que é que a vontade existe? Por que é que a água não pára só? Por que é que há as cores nas nossas peles? Por que é que o beijo não é sempre doce? Por que é que as nuvens se movem? Por que é que o sol queima? Por que é que tu me amas? Por que é que nos esquecemos de cantar? Por que é que o vento nos dá alegria e tristeza? Por que é que há quereres sem futuro? Por que é que choramos salgado? Por que é que suamos quando sentimos calor e amor? Por que é que bocejamos e não gostamos? Por que é que adoro comer chocolate? Por que é que é que há sempre solidão? Por que é que é que me tiras o sono? Por que é que gostamos tanto do mar? Por que é que o corpo envelhece? Por que é que a saliva pode ser boa e terrível? Por que é que ler é um dos maiores prazeres? Por que é que as palavras nos fazem sonhar? Por que é que é que tenho de te escrever com tinta invisível? Por que é que amanhecemos sempre diferentes? Por que é que os aviões não nos trazem carinhos das nuvens? Por que é que gosto do vôo dos pássaros? Por que é que tenho cócegas infinitas? Por que é que os sonhos são tão intensos? Por que é que a amizade nos dá tanto prazer? Por que é que não nos desvencilhamos do orgulho? Por que é que a morte faz parte da vida? Por que é que os pensamentos de amor ardem? Por que é que os cravos tinham de murchar logo? Por que é que a terra me abraça em cânticos? Por que é que é que oiço a tua voz no meu peito? Por que é que é que nascemos misteriosos? Por que é que a cereja é tão doce de sabor e cor? Por que é que é que penteamos o cabelo? Por que é que é que o nosso coração palpita? Por que é que é que só sossego a desenhar? Por que é que é que temos de escolher? |
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lembranças
Algumas lembranças beijam a luz em jardins de flores do campo Algumas lembranças guardam as figuras desenhadas no papel amarelo Algumas lembranças repousam nos sonhos criados na varanda Algumas lembranças são frágeis mas sorriem como amigas Algumas lembranças são dores golpeadas em madeira Outras lembranças são inventos inventos da nossa alma
(imagens ©constança lucas) |
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