Uma das definições que o dicionário oferece para a palavra "gênio" é muito conhecida e nem será preciso explicar aqui. Pois bem, todo mundo sabe o que é uma jogada genial. Ninguém duvida, por exemplo, que Pelé é um gênio do futebol. A definição para o sr. Edson Arantes do Nascimento parece até natural, talvez porque todo mundo neste país entende um tanto de futebol, até sem querer. O difícil é quando mudamos de área. A atmosfera fica carregada de olhares pasmos, inseguros, estupefatos. Ninguém fica sabendo de onde vem tanto espanto quando perguntam, por exemplo, se Santos Dumont era gênio. Vi na televisão: o repórter pretendia ouvir alguém para confirmar ou não. Ao final, ficou apenas a pergunta.

         E a essa pergunta acrescento outra: por que tanta insegurança em relação ao grande Santos Dumont? Será tão difícil assim perceber que ele sempre será uma das maiores figuras nascidas por aqui? Não foi herói do esporte, da política, da guerra, da malandragem, nada disso. Foi e permanece um herói da humanidade que só seria possível definir como um artista múltiplo. Sua capacidade de improviso, não pelo fácil, mas para resolver problemas complicadíssimos e inéditos a fim de fazer uma máquina voar. E essa máquina, por acaso não é uma incrível escultura toda carregada de inquietações?

         Como se sabe, não era só isso. Aquele chapéu que põe um toque mágico, esquipático, em qualquer fotografia que ele apareça. E mesmo sem o chapéu, porque esse ar, a gente percebe, não parece coisa deste mundo, é mais o efeito de uma aura. Tem certo brilho. E aquela casa de Petrópolis. Sua casa, mais do que uma máquina modernista de morar, era um brinquedo de morar. Aí está. O chapéu, os aviões, brinquedo de usar, um, brinquedo de voar, o segundo. É a invencionice infantil que vai do quase nada ao todo: um sonho total. Às vezes as palavras não funcionam. Então podemos usar imagens. A que me ocorre para definir Santos Dumont é bastante conhecida. Mostra o Einstein cavalgando uma bicicleta cujas rodas projetam no chão a sombra de um oito. O oito deitado, símbolo do infinito.

  

 

 

 

janeiro, 2007

 

 

 

elenco@germinaliteratura.com.br