"Paráfrase", 1997 (II), díptico, 125 x 125 cm, têmpera
sobre tela
"(...) No caso especial
de Enio Squeff, observa-se um detalhe altamente significativo:
homem todo transido de música, nunca se
percebe, neste seu traço particular, onde as coisas realmente começam: se no ritmo, a desdizer-se; se no
tempo, a desmentir-se; se em certa
planura, a admitir o contrapeso da exploração cenográfica da profundidade. Nem importa: a sonoridade está em
todos os lugares, nos complexos acordes
a determinar certos tons de base (porque tudo se faz no plural), a
instruir o uníssono da linguagem
inconfundível e sempre variada de nosso artista. Nada existe que possa fazer-se estranho às sonoridades musicais,
como também nada existe que possa
alhear-se da vibração das cores. Mas, quaisquer sejam as raízes, trata-se
sempre daquilo que mais atrai: de
pintura, de forte ação de pintar, que tudo a si submete, ainda que desprevenida através de seus mais claros
propósitos. (...) Pois avanço que a
pintura de Squeff, precisamente por seus aspectos mais originais,
termina se inserindo na ampla e
diversificada presença dessa vertente sulina do expressionismo para assumir, plenamente, temáticas e linguagens de
brasilidade. Dir-se-ia até que Enio
pinta assim como quem não quer nada, espécie de hábito compulsivo preso a horários determinados, como que a
decorar a musicalidade de cada gesto
plástico, e é do fundo dessa reclusão que ele se alça a amplidões que são
totalmente suas — mas que também são
nossas, as dos espectadores —, e sabe construir a estrutura que define a sua arte".
Gerd
Bornheim, em As dobras do despudor
"Praga, mirum somnium somniave", 1998, 184 x 243 cm, óleo
sobre madeira
"(...) não é
propriamente com esta ou aquela figura particular, presente em alguma
obra historicamente anterior que Squeff
se relaciona, mas com uma HERANÇA, herança que reinterpreta, isto é, incorpora, individualiza e transforma em
traço estrutural de sua obra. A escolha
de um tema jamais fica alheia a essas considerações sobre o herdar. Seus temas, muitas vezes oriundos da
literatura, podem ser extraídos da imagética antiga ou da religiosidade popular, ou dos registros da
história da arte, mas principalmente das
cenas mais banais que a vida cotidiana nos oferece. E sua obra é
também um emblema daquilo que permanece
a partir de um certo legado, de tudo o que foi possível preservar do trabalho corrosivo do tempo. Um tema
insiste? Pois nessa insistência podemos
entrever a posta em ato de uma repetição significante, a própria
atuação do fantasma que habita o sujeito
que o artista é. (...) Ousaria dizer que Squeff tem a pintura por filosofia. A incessante (e inquietante)
preocupação com a obra, a obsessão pela
permanência da criação, ocupa nele esse lugar. Sua divisa parece ser a mesma de Leonardo da Vinci: Hostinato
rigore. Uma disciplina férrea, nenhum
dia sem desenhar ou pintar. Nada lhe escapa à atenção. Não esquece nada
do que entra na "confusão" do que é:
desce à profundeza do que pertence a todo o mundo, embriaga-se na espessura do mundo,
afasta-se dele e se olha. (...)".
Maria
Luiza
Silveira, em A figura escondida de todas as
figuras
"Apresentação", 2000, 120 x 80 cm,
aquarela e óleo sobre tela
"Vésperas paulistanas", 2002, 100 x 70 cm, óleo, aquarela e carvão
sobre tela
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