Era uma vez uma mulher que
tão depressa era feia como era bonita.
Quando era bonita, as
pessoas diziam-lhe:
— Eu
amo-te.
E iam com ela para a cama
e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas
pessoas diziam-lhe:
— Não gosto de
ti.
E atiravam-lhe com caroços
de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a
Deus:
— Faz-me bonita ou feia de
uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la
feia.
A mulher chorou muito
porque estava sempre a apanhar com caroços de azeitona e a ouvir coisas
feias. Só os animais gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como
quando era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais
não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço, estava um peixe
que comeu a mulher de um trago só, sem a mastigar.
Logo a seguir, passou pelo
poço o criado do rei, que pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as
criadas, a arranjarem o peixe, descobriram a mulher dentro do peixe.
Como o peixe comeu a mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o
peixe mal o peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o
peixe foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe
morreu.
As criadas e o rei eram
muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que não era feia. Por isso,
quando as criadas foram chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a
mulher, o rei apaixonou-se pela mulher.
— Será uma sereia? —
perguntaram em coro as criadas ao rei.
— Não, não é uma sereia
porque tem duas pernas, muito tortas, uma mais curta do que a outra —
respondeu o rei às criadas.
E o rei convidou a mulher
para jantar.
Ao jantar, o rei e a
mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher quando as criadas se foram
embora:
— Eu
amo-te.
Quando o rei disse isto,
sorriu à mulher e atirou-lhe com uma azeitona inteira à cabeça. A mulher
apanhou a azeitona e comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher
disse ao rei:
— Eu amo-te.
Depois
comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no tapete de Arraiolos da
casa de jantar.