I

 

 

um gonzo seresteiro

bule o ovo, demoro

tabaqueia rilhando

a lua incontáveis

tristezas de vime

divisam

austero brigue

onde, aos buxixos

camelos arruam

descrentes

donde começa

(quando termina)

a corcova

 

 

 

 

 

 

II

 

 

era que dentro do vazio ouvisse

uma emenda um olho

ou um olmeiro

cessando

 

no cais in-fólio do rosto

no veleiro côncavo

do metatarso

 

tempo ou carvoeiro

coxo provedor

dos degraus

 

por onde (rocinantes)

transpomos

o inopinado salto

 

de hórus a húris

nenhum

 

 

 

 

 

 

III

 

 

são graves são goivos buganvílias

amealhando o jardim, o acúmulo

de séculos

o ser e o tempo

ferreiro maltrapilho

troçando

as sevícias nossas

e as de Semíramis – a insaciável –

é Vésper – donairosa –

publicista breve

entrevendo

as volutas

do nosso desespero

 

 

 

 

 

 

IV

 

 

são melindres, são melasmas

serra-paus que garimpam

o ouro das têmporas

 

quanto a nós

 

formigas-brancas

colonizam

a mobília das mãos

 

 

 

 

 

 

V

 

 

vão-se os amigos

faróis, trovões pedregosos

pelos séculos

elos e loas

 

emendas, écfrases, ordálios

 

vão-se casas coleópteros pedúnculos cigarros

 

os finórios escudeiros

do prego das palavras

até que a morte

nos esconjure

ouvir

 

 

Nota

 

Paula Costa Vaz de Almeida foi uma tradutora do russo. Para a Editora Boitempo, traduziu Maiakovski, Aleksandr Bogdánov, Ivan Turguêniev, Pachukanis e Lênin. Para a editora Bazar do Tempo, traduziu Elos líricos (2022), antologia de poemas da poeta russa Marina Tsvetáieva. Paula nos deixou em outubro de 2024.

 

 

outubro, 2025

 

 

Alice Vieira é poeta, pesquisadora e professora de Literatura Brasileira na UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana). Possui três livros de poemas publicados: {Open Source} (2019, Penalux), Taxidermias (2020, Urutau), Isso não é um testemunho (2023, Urutau). Seus poemas estão publicados em diversas revistas literárias, como a Gueto e Ruído Manifesto.

 

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