Quase 60 anos depois, Rio do sono, da poeta mineira Celina Ferreira,
ganha sua primeira edição em separado
Ganhadora de mais de um prêmio literário promovido pela Prefeitura do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, a poeta Celina Ferreira, nascida em Cataguases, obteve ainda o Prêmio Fernando Chinaglia, da União Brasileira de Escritores (UBE) e o prêmio do II Concurso de Poesia Feminina, promovido pela Gazeta de São Paulo.
Celina Ferreira recebeu também importantes premiações por sua produção literária para crianças, como o Prêmio de Literatura Infantil do Estado da Guanabara e o Prêmio Brasília de Literatura Infantil e Juvenil. A escritora foi ainda elogiada por poetas e críticos como Affonso Romano de Sant’Anna, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, que compôs um poema para ela, cujo título é o nome da poeta, e a incluiu em sua Antologia dos poetas brasileiros: fase moderna, organizada com Walmir Ayala e publicada pela Edições de Ouro, a atual Ediouro.
Mas, mesmo com tudo isso, quem hoje conhece Celina Ferreira? A poeta foi uma dentre tantos que acabaram por desaparecer de nossa história literária — fenômeno que, bem o sabemos, se dá muito mais com as autoras do que com os autores. Agora, no entanto, a Garoupa Editora busca trazer à tona a produção poética da escritora, iniciando com a publicação de Rio do sono, livro escrito em 1965, que somente foi publicado junto com os três primeiros livros de Celina, na edição intitulada Hoje poemas, da Imprensa Oficial do Estado de Minais Gerais.
Rio do sono, portanto, ganha agora sua primeira edição em separado, com um prefácio escrito pela professora de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a pós-doutora Anelia Pietrani, e orelhas da escritora e doutora em Teoria e História Literária Luciana Lima Silva. Além disso, a edição conta com um texto biográfico sobre a autora e uma breve discussão sobre o significado de editar Celina Ferreira hoje.
O primeiro lançamento foi em São Paulo, no dia 19 de setembro, no Alvenaria — Espaço Colaborativo, e contou com leitura de poemas por Luciana Lima Silva e pela editora da Garoupa, Marina Ruivo. Além disso, houve um pocket show da cantora e compositora Marina Melo. O livro será lançado no Rio de Janeiro ainda em 2024.
[três poemas de Celina Ferreira]
Ciclo
Abelha ou amor.
O mel, o orgasmo
na flor.
No corpo,
a medida fácil
do amor.
As feras
Que lutem, que se destruam
dentro da arena ou de mim,
se nada porque disputam
tem um prêmio ou tem um fim.
E eu, que resisto calada,
eu, que aflita, me contenho,
procuro em vão minha fala
sem voz, sem cor e sem tempo.
A pedra é a medida
A pedra é a medida
de minha inspiração.
Existe porque existe,
não porque eu queira, não.
Meu canto é ele e nele
minha alma se edifica:
Não catedral, mosteiro
de mim só e eremita.
De Manuel Bandeira:
Celina Ferreira
Não me tocou levemente:
Tocou-me fundo,
Celina, a tua poesia,
Que me tornou para sempre
seu cúmplice.
[em Estrela da vida inteira, José Olympio, 1966]
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O livro: Celina Ferreira. Rio do Sono.
São Paulo: Garoupa, 2024, 120 págs., R$ 40,00
Contatos: (11) 97777-9779 (Carola Gonzaga)
carola.imprensa@gmail.com
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setembro, 2024
Celina Ferreira, poeta nascida em Cataguases, Minas Gerais, em 1928. Na metade dos anos 1950, casou-se e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceram seus quatro filhos. Trabalhou como redatora de programas sobre literatura da Rádio MEC e, depois de ficar viúva muito cedo, passou a atuar como marchand no mercado das obras de arte. Publicou seu primeiro livro em 1954, Poesia de ninguém, seguido por Nave incorpórea (1955) e Poesia cúmplice (1959). Em 1966, a Imprensa Oficial do Estado de Minais Gerais publicou Hoje poemas, reunindo esses três primeiros livros da autora e o então inédito Rio do sono. Em 1973, publicou Espelho convexo. Ganhou vários prêmios literários, inclusive o prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de Escritores. Escreveu obras para crianças, que também foram premiadas. Faleceu em 2012, depois de muitos anos afastada da cena literária, por um quadro precoce de Alzheimer. [imagem: Celina Ferreira por Guignard]
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