©andreas

 
 
 
 
 
 
 

SINEXTASIA



o jazz

acende um lume

na noite da alma


impregna o ar:

perfume

exótico & sensual


é carícia

na pele

das memórias


alimento

para o paladar


inebria

todos os sentidos


congrega

quem tem parentesco

de alma


e vai além

irmana universos


e o que não se pode

alcançar.







GIANT STEPS



soa o jazz


espiral

de notas

at night


redemoinho

ininterrupto

& intenso


ouroboros

sonoro


infinito


o tema

cessa


& retorna.







DISTANTE DE GAIA



perdi

de vista

a face de Gaia


soterrado

por escombros


pela peste

que assola

mundos


& não cessa


natureza

permitida

só em imagens


distantes


em delírios

noturnos 

& natimortos


nenhuma

réstia

de sol


restos

apenas.







INTERMEZZO



embora

viceje

a flor da morte


& seu hálito

putrefato


concedo-me

uma pausa


e vou extrair

o néctar

da vida


beber

de sons

& utopias


enquanto

me seja

permitido.







DIANTE DE UM MURAL DE PORTINARI



o mural

de Portinari


no Memorial

da América Latina


deixou-me

extasiado


Via Crucis


onde Tiradentes

— o mártir imolado —


verte sangue

por outros

de mais posses


Brasil

de sempre


nenhuma novidade


pouco aprendemos

nestes anos todos.







RUBRO DESEJO



lábios


rubros

& macios

como vinho


sorriso

no cenário

da tarde


brinde sutil

& intenso


ao que vêm

depois.







HARD LOVE



o amor

como um licor


doce

& embriagante


até surgir

a ressaca.







CÓSMICA PERTURBAÇÃO



foram-se

os anéis

de Saturno


ficaram

os dedos


sobre

o monte

de Vênus.







O POETA NU



exposto


à visitação

pública

& privada


às lives

livres

& lívidas


— livrem-me —


o poeta

perdeu-se


no rol

das subcelebridades


tornou-se

rio raso


pântano

de enganos


prosa.







OFERTÓRIO



não tenho posses

poses

ações na bolsa


nem um Bugatti

amarelo


para ofuscar

o sol


só a poesia

para te ofertar


nesta tarde

sem luz.







INSIGHT



na noite

ínfima


íntimos

pensamentos

afloram


infinito

momento


insight.







FIM DE TARDE



não é um acaso

o ocaso do sol

é caso comprovado

 



setembro, 2021



Ricardo Mainieri é poeta e prosador gaúcho. Nascido em Porto Alegre, nos inquietos anos sessenta. Publicitário de formação, trabalhou em jornais locais e no serviço público. Atualmente, é aposentado. Autor do livro de poesia A travessia dos espelhos, premiado na Coleção 90, do IEL, Instituto Estadual do Livro/RS. Participou de diversas antologias nacionais como Livro da Tribo, Editora Scortecci/SP e internacionais como a portuguesa Poezz, da editora Almedina/Porto. É owner do blogue mainieri's.


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