Fragmento do prefácio escrito por
Claudia Roquette-Pinto



Volto da leitura do novo volume de poemas de Ademir Assunção com a sensação de ter sido levada em um estonteante travelling cinematográfico. Sem cortes. Escrevendo alternadamente sob a lente de aumento precisa e sensível de uma poética das minúcias ou através do telescópio de longo alcance do registro histórico e social, o autor de Risca Faca nos descortina uma visão vertiginosa do mundo — a de um artista fortemente marcado pela contemplação sobre o tempo e a impermanência, enquanto, pelo viés da poesia, procura dar conta do nosso cotidiano apocalíptico.


Em um movimento que se alterna entre o desejo de evasão e uma brava teimosia em continuar buscando aquele grão de sentido que nos permite sobreviver, Ademir faz um verdadeiro inventário de perdas, nomeando os dias duros, dias de agulha perdida no palheiro/ barata tonta na borda do bueiro e provoca: chamei pra briga o capeta de facão/ senti o aço perfurando a carne mole/ gritei bem alto um tremendo palavrão.


Imagens de violência e ideias de suicídio marcam presença ao longo do livro (às vezes bate um desânimo/ uma vontade filha da puta/ de esticar a corda/ apertar o gatilho). Mas não pensem vocês que não há sorrisos — e até risadas — na leitura de Risca Faca, pois ao lado de uma fina ironia, e mesmo diante do desespero de nossos dias, a poesia de Ademir Assunção tem também um bocado de humor (Triste Brasil! Ó quão estropiado/ Estás e estou como papel cagado!/ Pobre te vejo a ti, que terra mais zoada,/ Até Camões virou motivo de piada).



Poemas do livro












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O livro: Ademir Assunção. Risca Faca.
São Paulo: Demônio Negro, 2021.
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junho, 2021



Ademir Assunção é poeta e jornalista. Risca Faca é seu 15º livro. Mais em www.zonabranca.com.br.


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