A cópula



A cópula

carece

além da

violência

lasciva

mecânica

e insípida


É

degustá-la

em toda

sua extensão

visão

olfacto

tacto

audição

e paladar


A cópula

é

existência







Pé(nis)



Vertical

entre as nervuras

das mãos


Verga-se

buliçoso

sobre à boca


Vigoroso

enleia-se

às águas


Traçando

sua

supremacia

no rasgo

vulcânico







A vagina



Vistosa

doce néctar

com sabor


Deleita-se a língua

do seu calor

suas pétalas

se abrem esperando amor


Flor carnívora

devora a lua

encoberta no ventre

chora, delira


A boca que não é boca

se contrai em êxtase







Gênese



As mãos cegas

buscam pela

parte primitiva

da origem do mundo


A boca, ávida

vai devorando

o músculo invertebrado


O homem morre

e nasce

na cavidade

de uma mulher


Reescreve-se

assim o ciclo

da vida







Misto quente



Meio luar

descreve-se a sinuosidade

das coisas

um orifício

um membro


A melodia das ilusões

alucina os sentidos

Envolvido

o ânus deixa-se

invadir


Entre a dor

e o prazer

os vultos,

caminham


Escaldam

nos lençóis

do pecado

invocando

a deus

Êxtase


Circunscrevo minha língua

sobre a última gota

fonte natural da vida

fugaz, já se dissipa


Da carne hasteada

soldado abatido

combate encerrado







A boqueta



Sófrega

oprime

o músculo

másculo


Que pisca

entre as estreitas

paredes

viscosas

e ardentes


Vai e vem

roça a boca

do céu

que se abre

toda púrpura


Dois corpos

nus

transbordam

o caldo

sobre os

lençóis brancos e, mudos

A coisa


Às vezes

com os dedos

curiosos

toco

na coisa

hirsuta


Húmida

e cálida

suplica

pelo toque


A esfrego

a levo ao ápice

farta

transborda

a lava






Clitoriana



Suga-lhe

lentamente

o grelo


Besunta-lhe

a baba

vulcânica


Sopra-lhe

a brisa

ardente

e húmida



S-i-m-m-m-m-

batem

os sinos

da perdição

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Hera de Jesus (Maputo, Moçambique, 1989). Começou a escrever desde tenra idade. De 2013 a 2017, participou e foi distinguida em alguns concursos internacionais de poesia. Participa das antologias Soletras Esse Verso (2018) e Fique em Casa (2020). Tem contribuído para as revistas Lidilisha, Soletras, Conti outra, Por Dentro de África, Escamandro, Avenida Sul, Mallamargens e Folhinha Poética. É membro da Confraria Brasil/Portugal. Actualmente é colaboradora da revista Cultural Traços.