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A novela de João Evangelista de Carvalho Malaquias encerra em si um sistema de valores e intencionalidades mediante a investigação cuidadosa de fatos, o gosto pela experiência comum num tempo, lugar e sociedade específicos e uma linguagem capaz de retransmitir ativamente um senso de concretude da narrativa. Ou seja: não é uma escrita em vão. Uma narrativa que se impõe por si mesma. Uma leitura barrocontemporânea sobre fato familiar.

Seus personagens são dilacerados pelo sofrimento, pela rusticidade da vida e das relações, pela solidão, e que parecem sempre a andar     pelo destino ao encontro do inusitado.

Sua linguagem ou escrita cria um fluxo à narrativa, que ganha densidade na descrição de cenas e perplexidade provocadas pelo destino das personagens vivenciando sempre ações de risco. O principal deles o risco de conviver com uma solidão fértil de imaginário, o risco de sua referência principal perde-se para sempre na contemporaneidade. Advém daí uma narrativa fragmentada, em suspensão da liberdade provocando um vazio na conclusão dos fatos, o que leva o leitor a questionar e a interagir com o seu imaginário. Por isso, sua narrativa expõe notas graves e quiálteras: as personagens são lidas em três tempos e sob um cenário pesado de circunstâncias vividas.

A novela tem, desde o início, uma ambientação pós-barroca em lugares onde se busca a superação da aporia através da metaforização da realidade. Os fatos sociais do provincianismo urbano descritos conforme convenções e contextos políticos e econômicos, revivifica épocas nas quais era preciso talento para sobreviver. Caso de Faísca, avô do Autor e protagonista da novela. Nele se concentra objetividade e universalidade como descrição dos conflitos interiores, revelação do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante do poder.

Augusto Cury escreve algo que projeta bem a novela de João Evangelista: "A sociedade não precisa de heróis, mas de seres humanos". A vida de Faísca, lê-se, tem "poder de crítica" por meio da resistência que encara face aos desafios da vida.

Líder como Faísca não é super-herói, e o Autor, ao contrário de superpoderes da linha Marvel, traz à tona o fluir da razão, a emoção e a espiritualidade pertencente a um ser humano.

Faísca é protagonista de sua própria vida: toma decisões, assume seu próprio livre arbítrio, faz ele mesmo a limpeza do cenário do espetáculo do seu viver: "terás que fabricar a ti mesmo", lê-se. José, alcunha de Faísca, ao beber, expressava "o langor dos poetas ou a exaustão dos músicos em estudos diários, até mesmo um reconfortante descanso depois de um dia de trabalho árduo, braçal, terminado".

Na sequência do desdobramento das surpresas, veem as revelações através de Faísca/José: "Minha filha se chamará Adelina". José possuía vasta produção cultural, "miopia translúcida", vendeu um violino Stradivarius "para socorrer um parente necessitado", que conseguiu reaver anos mais tarde. Não obstante o ato generoso, José é apresentado como pessoa sôfrega — "muito posso te dizer ao mesmo", no qual se nota "um coração fechado como uma lápide, uma cruz e uma escultura de anjo barroco".

Outros personagens vão sendo revelados na novela, como Conceição, filha de prostituta, engravidada por um trapezista de circo, fala de uma história que "poderia muito bem sair da boca do homem que a contou completamente alheia a mim". Casamento furtivo com uma mulher grávida, enquanto Itapecerica "vivia noites assombradas pela calúnia dos deuses abnegados, sorvendo líquido de sândalo da perfídia durante a gestação de Adelina".

"Escrever um livro, hoje, é uma temeridade" — o Autor constrói uma genealogia do sofrimento sem pieguismo — Afonsina, Inácio, Mário, José, Francisco, Ademar, Marlene, Rita cuja leitura poderá crescer em significados se se considerar Nietzsche como parâmetro. A novela é prova cabal de niilismo.

Qual a razão do corte epistemológico na narrativa com o descortino de vários filósofos como Nietsche, Kant, Benjamin, Darwin, outros? Eis uma questão machadiana para o leitor saborear. Por que questionar Octavio Paz? Seria para justificar a falência da crítica? O corte dado na narrativa, pela extensão, não seria outsider? O Autor estabelece uma linha de reflexão com o leitor, mas com quê objetivo? Em dado momento, o Autor, enquanto narrador, escreve: "A intenção é enxertar textos sobre os subtítulos doutor Flávio, doutor Levy e José Antonio: o intuito é não dar crédito aos desvios necessários".

De duas, uma: ou o Autor está num tour de force provocando a dialógica com o leitor através da "estética da recepção" de Hans Jauss, ou está se valendo da intertextualidade para ganhar fôlego na produção da narrativa. E então?

Quem, afinal, está pensando o livro? O narrador criado para essa função, no caso o Autor, neto do protagonista, ou o personagem fantasma, ambos sucedâneos que vão surgindo ao longo do texto? Exemplo: na frase "sonhei que a cidade sumia" (p. 48): quem é o sujeito?

Há no texto muito do hiper-realismo: retorno à representação, metalinguagem por suas referências serem outras imagens, tentativa de compensar o desaparecimento do real, pormenorização do detalhe às vezes levado ao extremo, tendência à exposição de elementos surpreendentes, inusitados ou enigmáticos que provocam efeitos subliminares, contexto de linguagem plástica, visual e performativa, inventiva libertária, o que Baudrillard pensou como "a alucinante semelhança do real consigo mesmo". 

 


 

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1985 foi o último ano de governo de exceção e o presidente — aliás, o 30º do país — era João Figueiredo. O período ficou marcado por diversos atos: "Vou fazer deste país uma democracia", alegou o general, através de uma "anistia ampla, geral e irrestrita" aos políticos cassados. Também naquele ano foram criados o Partido Democrático Social (PDS) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Em nível econômico o período ficou marcado pelo déficit de 100 bilhões de dólares, o que levou o país a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1982, ano em que também foi criado o Estado de Rondônia. Estava na pauta dos jornalistas saber se estados e municípios considerados áreas de segurança nacional e estâncias hidrominerais poderiam eleger seus prefeitos, o que só ocorreria em 1985.

Mesmo no período de abertura tornaram-se comuns os atentados, como o mais notório do Riocentro, na Barra da Tijuca, em 1981, cujas consequências fizeram surgir uma nova crise política. No último ano do governo Figueiredo deu-se sob a saída do Brasil da recessão e o PIB alcançou crescimento de 7%, com relativo equilíbrio nas contas externas. No geral, os fatos foram-se avolumando: em relação à censura, houve extinção da Rede Tupi; houve o ajuste semestral do salário, a criação do programa Carajás; implantação de programa de reforma agrária sob o slogan "plante que o João garante"; a assinatura da Lei de Segurança Nacional; e o apelo presidencial: "Que me esqueçam". O que, a propósito, seria impossível: Figueiredo era um militar no poder. Tudo isso era só a ponta do iceberg de uma época conturbada e demoraria, no mínimo, mais uma década para haver um pouco de democracia e paz. Não havia até então facilidades, sobretudo em cobertura feita em outro estado. Não havia celular e fotos tinham de ser reveladas no laboratório do jornal. As entrevistas coletivas eram marcadas com antecedência e mesmo assim censuradas previamente. O fato de ser decretada uma anistia motivou a direção do jornal "Estado de Minas" a mandar a Brasília uma equipe para cobrir a coletiva. Era tudo muito difícil. Viagem de ônibus, diária curta, jornalistas triados mediante comprovação de serem fichas limpas, além de talentosos e aptos a "furar" fatos até então inéditos da vida presidencial, quando Figueiredo já estava prestes a deixar o governo.

O repórter escolhido foi Henry Corrêa de Araújo, jornalista experiente, habituado a cobrir grandes encrencas, muito inteligente, gago, excelente escritor superpremiado, criador do grupo Veredas — convencido que foi de conseguir tirar de Figueiredo um teor de preciosa leitura. Figueiredo faria na ocasião um balanço de sua governança de exceção. E para Brasília foi o Henry cumprir sua missão.

Pergunta vai, resposta vem e num dado momento Figueiredo anuncia que "bom mesmo são os cavalos, que comem capim e não reclamam de nada". Bêbedo, Henry ouvia as asneiras do presidente, quando, aproveitando a dica do presidente enaltecendo os tipos de capim para seus cavalos, soltou uma frase imortal:

— Se o senhor manda o povo comer capim, que é bom pra saúde, como é que o senhor prefere?.

 


 

 

Um dia o menino de 10 anos reparou:

— Manhê, o que é isto na sua barriga?

— Isso é ar, respondeu a mãe, acariciando a gravidez de alguns meses.

O garoto continuou a ir à escola e a ver a barriga da mãe se estufar.

— Manhê, desse jeito sua barriga vai explodir como balão de aniversário. É muito ar...

E a mãe consola:

Não se preocupe, meu filho. Minha barriga não vai estourar.

O menino, às vezes, comportava-se como alguém ciente da gravidez da mãe. Chegou, no entanto, ao seu limite. Até que, saindo para ir à escola, demonstrou sua preocupação.

— Você vai ao hospital tirar o ar da barriga?

— Vou, meu filho. É rapidinho!

A volta da escola coincidiu com a volta da mãe. Ao notar que o ar havia "desaparecido", perguntou com toda ênfase:

— Uai, manhê! Cadê o ar?

— Vai lá no quarto pra você ver o ar no bercinho.

O garoto foi até o quarto e chegando bem próximo ao berço exclamou:

— Ei, pum!

 

— Qual é a fórmula da água benta? H Deus O.

— Por que a aranha é o animal mais carente do mundo? Porque ela é um aracneedyou.

— Sabe como é o pio do pintinho caipira? Pir.

— O que o pagodeiro foi fazer na igreja? Foi cantar pá God.

— Por que o Napoleão era chamado sempre pras festas na França? Porque ele era bom na party.

— O que aconteceu com os lápis quando souberam que o dono da Faber Castel morreu? Eles ficaram desapontados.

— A plantinha foi ao hospital, mas não foi atendida. Por quê? Porque lá só tinha médico de plantão.

— Qual é o rei dos queijos? É o reiqueijão.

— O que o pato falou pra pata? Vem quá.

— O que é, o que é: maconha enrolada em jornal? Baseado em fatos reais.

— Por que a velhinha não usa relógio? Porque ela é uma sem hora.

— O que a vaca disse pro boi? Te amuuuuuuuuu...

— Havia dois caminhões voando. Um caiu. Por que o outro continuou voando? Porque era caminhão-pipa.

— Quando os americanos comeram carne pela primeira vez? Quando chegou Cristovão com lombo.

 

— Durante uma consulta médica a distraída pergunta:

— Doutor, vai doer?

O médico responde:

— Vai sim, mas até amanhã passa.

E a distraída diz:

— Então amanhã eu volto.

 

A distraída chega à autoescola com uniforme de goleira de futebol. Curioso, o instrutor pergunta:

— Por que está vestida assim?

— Você disse que o Celta estava ocupado e que iria me ensinar a dirigir no Gol...

 

Um homem perguntou ao amigo:

— Por que sua mulher não toma leite gelado?

E o outro respondeu:

— Porque a vaca não cabe na geladeira.

 

O marido entra pra tomar banho e pede à mulher:

— Maria traga-me um xampu.

A mulher leva um frasco, mas em seguida ele torna a pedir:

— Maria traga-me outro xampu.

— Pra quê?! Há pouco lhe levei um.

— É que estava escrito nele que era para cabelos secos e eu já molhei os meus.

 

 

 

março, 2020

 

 

 

CORRESPONDÊNCIA PARA ESTA SEÇÃO

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