©mira cosic
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Nesse difícil ano de 2020, trabalhei muito. Escrevi praticamente um romance inteiro, iniciado no final do ano passado e lançado agora, alguns textos avulsos, participei de "lives", assisti a outras, gravei vídeos, limpei casa, lavei banheiros, fiz comida, lavei roupas, vi minisséries intermináveis na Netflix, de preferência policiais escandinavas, li pouco (não gosto muito de ler quando estou mergulhada na escrita). Nada muito diferente da rotina de outras escritoras, imagino.

Mas pesando tudo com cuidado, vejo que arranjei um passatempo para as noites, ou melhor, madrugadas, pois durmo tarde. É provável que o considerem exótico, mas foi o que encontrei de mais relaxante: assisti a praticamente todos os vídeos de jogos de tarô de diferentes decks para os signos astrológicos nos meses de novembro, dezembro e ano de 2021. Nem sabia que isso existia. Conhecia, claro, previsões astrológicas e jogos de tarô, mas achei essa mescla muito interessante.

De cara, impressionou-me o clichê explicativo no início desses vídeos. Quase todos os tarólogos-astrólogos repetem, usando os mesmos termos, que, por ser um jogo geral, certamente não "ressoará para todos". "O que não ressoar" continuam "vocês jogam para o universo". Sempre que ouço isso, imagino o universo recebendo tudo "que não ressoa para X ou Y" e não consigo conter o riso. Eles têm toda razão nas explicações dadas aos consulentes, inclusive é uma demonstração de seriedade, mas quase tudo me faz rir mesmo, está no DNA, já me habituei. Sou, por natureza, das que reparam em tudo, tendente a ver graça nas mínimas coisas. Pois bem. O fato é que o universo deve estar entulhado, a essa altura, do que "não ressoa". 

Como tenho obsessão por pesquisa, resolvi comparar as previsões para ver se eram opostas, contraditórias, semelhantes e, em caso positivo, o que havia de comum no conjunto apresentado.  Elegi o signo de Capricórnio para fazer o recorte da amostra.

É preciso aclarar que há muitos anos fiz um curso de astrologia e tenho algumas noções. Quanto ao tarô, conheço as cartas, embora não saiba manuseá-las. Impressionou-me a grande quantidade de baralhos de tarô existente atualmente. Os especialistas nessa difícil arte chamam cada conjunto de cartas de deck. Outra novidade: há decks de animais, decks de anjinhos, decks vikings, enfim, de vários tipos. Não sabia: sou do tempo dos tarôs de Marselha, egípcio, cigano ou do clássico baralho usado pelas cartomantes, de cartas menores, com figuras antigas de casinhas, homens de chapéu e flores, entre outras. Fiquei espantada com certas cartas realmente horrorosas cuja suposta beleza foi evidenciada durante algumas tiragens. Quanto mais a pessoa insistia na boniteza inexistente, mais eu ria.

Quanto ao conteúdo, há quase uma unanimidade em relação ao ano de 2021, que, a julgar pelas expectativas, será bem mais leve que o atual. O principal motivo dos acontecimentos nefastos de 2020, que têm como carro-chefe a pandemia da Covid 19, seria a combinação do trio Plutão, Saturno e Júpiter em Capricórnio, que tivemos o tempo todo. Enquanto Plutão busca nas profundezas suas motivações, Júpiter as amplia, e Saturno as concretiza, especialmente se esse encontro astrológico se dá no signo mais realizador, materialista e concreto do Zodíaco. Partindo-se da ideia de que tudo é cíclico e não surge da noite para o dia, essa colheita do que foi mal semeado ocorreu agora, em 2020. Alguns astrólogos/tarólogos disseram que foi o ano mais difícil do século, não apenas para o Brasil, e sim para o mundo inteiro. As estruturas teriam sido balançadas e sacudidas em todos os países, em diferentes graus.

Se esses efeitos se deram no plano da coletividade, é de se esperar que tenham afetado os indivíduos de todos os signos. Deve-se registrar que essas tiragens não se referem somente ao signo solar, valendo para quem tem o Ascendente, a Lua, Marte e Vênus (o "homem" e a "mulher" interiores) naquele signo específico sobre o qual se fala. Ainda de acordo com esses profissionais, alguns signos foram mais afetados do que outros, embora ninguém tenha saído ileso. Há alguma controvérsia, mas a maioria cita os nativos dos eixos Câncer-Capricórnio (signos opostos e complementares, regentes, respectivamente, da Casa 4, da família e dos antepassados, e da 10, da carreira e imagem pública, conhecida como a "Casa do pai") e os de Áries-Libra (regente da 1ª Casa, a da identidade, e da Casa 7, das sociedades e do casamento), como os mais afetados pelo trio. Pelo que sei de astrologia, esses efeitos vieram para todos, na área do mapa astrológico em que os planetas Plutão, Saturno e Júpiter recaem ou na que os signos mencionados estão presentes. Podem ter sido sentidos em intensidades variadas, isso sim. Há também outros eventos importantes, como os eclipses do Sol e da Lua, mas nada que se compare ao nefasto trio.

A boa notícia é que finalmente Saturno e Júpiter estão saindo de Capricórnio e entrando em Aquário, o signo do amor universal, mais leve, desprendido e igualitário. Urano, seu regente, foi descoberto em 1781, anunciando a Revolução Francesa. O iconoclasta planeta é considerado o "dono" da internet, da eletricidade e dos novos aparatos tecnológicos. Júpiter e Saturno farão conjunção no grau zero de Aquário no próximo dia 21.

Que significado teria, no plano da coletividade, esse encontro denominado de "a grande mutação"? Bem, ambos os planetas, considerados "sociais", estiveram em signos de Terra (Touro, Virgem e Capricórnio) nos últimos duzentos anos. Por isso, sua entrada em um signo de ar (Aquário) tem um impacto social muito grande, pois é esperada uma mudança de princípios e valores, no mundo inteiro. Os astrólogos/tarólogos mais otimistas creem que essa mudança diz respeito à maior valorização do intelecto e do conhecimento em detrimento dos bens materiais. 

Que ninguém espere milagres ou facilidades: em primeiro lugar, Plutão continua em Capricórnio por mais algum tempo, embora, sozinho, tenha efeitos menos drásticos, pois seu papel é trazer a "sombra" para  a consciência e revelar as falsas necessidades, a fim de conectar os indivíduos com o que realmente importa; em segundo, porque, embora acene com novas oportunidades, a entrada de Júpiter e Saturno em Aquário exigirá uma capacidade de inovação enorme, as estruturas serão questionadas e o que antes dava segurança vai mudar rapidamente, provocando grandes tensões. Uma ideia parece ser geral, entre os estudiosos do "mundo do oculto": haverá necessariamente correções de rotas, modernizações, e a era do "eu sozinho" vai ficar definitivamente para trás, não por escolha, mas por coerção. A "grande mutação" é um processo, claro, que exigirá que passemos a dar visibilidade ao outro, que admitamos sua existência, se quisermos que a vida seja possível no planeta.

O ano novo será regido por Vênus, planeta pessoal, regente de dois signos, Touro e Libra, o que pode ser interessante para todos. Contudo, vale lembrar que tudo em astrologia é um processo. Uma das astrólogas prevê, por exemplo, que eventos ruins ligados ao solo e subsolo podem ocorrer em 2021, assim como desastres e acidentes com mineração. Afinal, duzentos anos em planetas de Terra não terminam num passe de mágica.

Seja como for, a mudança das configurações de 2020 é um bálsamo e creio que podemos esperar melhores dias, após a dissolução do trio pandêmico. Uma das ideias anunciadas é o avanço da medicina no próximo ano, não apenas no que se refere à vacina para a Covid 19, mas a outras doenças infecciosas. Tomara que as boas previsões deem certo e que não tenhamos de "jogá-las para o universo", como eles dizem. Pessoalmente, eu teria uma síncope se tivesse de fazer isso, pois arrumaria uma risaiada geral ao imaginar o gigantesco entulho do que "não ressoa". Os que conseguirem agilizar as mudanças e enfrentar os novos ventos provavelmente terão um bom ano, com altos e baixos, mas positivo, no cômputo geral. Júpiter e Saturno em Aquário trazem oportunidades, mas nem sempre as pessoas se dão conta disso. Gostaria de aproveitar todas, de vê-las concretizadas, em sua totalidade. Nós precisamos e merecemos, depois de tudo. Muito axé!

 

 

 

 

 

julho, 2020