©lisa runnels
 
 
 
 
 
 
 

Os pais de Joãozinho, cansados de tanta briga, resolveram botar um ponto final no casamento e, como bons adultos, chamaram o pequeno filho, de oito anos, para uma conversa.

O início, diga-se, foi o de sempre: papai e mamãe te amam muito. Nada vai mudar em sua vida. E tome blá-blá-blá. Joãozinho ficou muito triste, claro, mas estava mais interessado em retornar ao seu Playstation. Afinal, papai e mamãe haviam dito que nada iria mudar.

Até que um dos pais perguntou:

— Filho, com quem você quer ficar?

Joãozinho, que já estava quieto, emudeceu de vez.

Como responder a uma pergunta desse tipo? Sim, porque aos pequenos ouvidos de Joãozinho, a indagação foi mais ou menos esta:

— Filho, quem você ama mais? Mamãe ou Papai?

Trata-se de um questionamento cruel e desnecessário a ser feito a uma criança. Confrontar o filho, especialmente, aquele pequeno, para deixar à sua escolha decisões que devem ser tomadas por adultos responsáveis, é meio caminho andado para o desastre absoluto.

Naturalmente, existem casos em que será necessária a intervenção de um terceiro para a conclusão de um impasse, mas a resolução nunca deve ser do filho.

À criança deve-se reservar o conforto necessário para se desenvolver saudavelmente dentro de um ambiente equilibrado e harmônico. À criança, deve-se, sobretudo, garantir a liberdade irrestrita de aprofundar laços de afeto com ambos os pais, independentemente da fixação de guarda e domicílio, porque tudo o que impede o sagrado direito à convivência entre pais e filhos é ponto fora da curva, que deve ser rechaçado por flagrante anormalidade.

Na dúvida, cara amiga, caro amigo, opte sempre pela guarda compartilhada que, afinal, é a regra na legislação pátria. Quanto à fixação de domicílio, aí sim, observe em qual ambiente seu filho se sente mais seguro e com maior identificação.

Ainda, na dúvida, e na fase que antecede a formalização da separação, com todos os seus desdobramentos, procure um profissional (psicólogo) para orientação do melhor procedimento a ser adotado em relação aos filhos.

E o Joãozinho?

Sobreviveu à crise entre seus pais. Amém.

                                                                             

 

setembro, 2019

 

 

Mariza Lourenço é advogada e mediadora.