El Aleph

 

 

quando afogo

o meu

sob teu vário lábio

 

quando me salvas

pelos cabelos

e me ensinas

a varar a violência de teus rios

 

quando vejo

embora vesgo

a miragem violácea

(sagrado cálice marsala)

e sinto o sabor de sol

o gosto de sal do Mar Vermelho

 

quando me obrigas

com a mestria de teus dedos

e teu zelo

a localizar teu ponto Geométrico

 

 

 

 

 

 

rapto-pássaro

 

 

                            à Orides Fontela

 

 

Que fazer do

(meu?)

raro

pássaro

 

soltá-lo

engaiolá-lo

comê-lo?

 

 

 

 

 

 

o que é, o que é

 

 

que não se pega

mas estilhaça

embora pegue

feito nódoa afiada?

 

que mutila a matéria

qual invisível e hodierna

máquina?

 

que pesa

feito escombro

sem pesar

uma migalha?

 

 

 

 

 

 

hipótese lúmino-pornográfica-aero-espacial

 

 

e se um grande prazer

rôla pelo ar

brilhante como uma estrela

 

 

 

 

 

 

mudar:

 

 

rasgar

as pregas

do cotidiânus

 

 

 

 

 

 

pré-coito

 

 

de obra aberta

o poeta espera

a penetração

do leitor

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Raul Colaço (Jaboatão dos Guararapes/PE, 1992). Graduado em Licenciatura em Letras Português-Espanhol pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e, atualmente, cursa o mestrado em Teoria da Literatura da Universidade Federal de Pernambuco. Em 2016, foi o quinto colocado no Prêmio VIP de Literatura da A. R. Publisher Editora, na Categoria Poesia, e finalista do IV Prêmio Pernambuco de Literatura com o livro de contos Rúmino-ressonância (Chiado Editora).