Silvae (gelichtet)

 

 

Das Harz läuft aus den Bäumen, wie gewohnt

stehen die Wälder, hölzern und grün

vor meinem Fenster, und überall auf der Erde

wo kein Feld ist, kein Garten

kein Haus wie das meine.

 

Manchmal ein Tier, an der Blattunterkante

eine rehbraune Schießscheibe mit wenigen

Treffern vom Vorjahr —

zwei uralte Pferde

ziehn Holz aus dem Windbruch, mit der Dunkelheit

kommen die Jäger, man sieht ihre gelben

Turnschuhe leuchten.

 

 

 

 

Silvae (iluminado)

 

 

A resina escorre das árvores, como de costume

as florestas,  madeiras e verde,

diante de minha janela, e em todo lugar no mundo

onde não há campo, jardim

casa como a minha

Às vezes um animal, na borda de uma folha

um alvo fulvo de cervo com poucos

acertos do ano anterior

Dois cavalos antigos

puxam as árvores caídas com a força do vento, com a escuridão

chegam os caçadores, vê-se pelo cintilar do

tênis amarelo

 

 

 

 

 

 

Das Meer bewohnt mich, wie Licht eine Stadt

 

 

Die offenen Balkone leuchteten, Inseln am Stadtring

die Luft lag herum, eine Fähre, vermutlich schlief sie

 

ich legte meinen Kopf in ihren Rumpf 

fand eine Strömung, das Regime der Flüsse

unter den Brücken und in den Tunneln

die Instrumente

Lichtketten, die sich bewegten.

 

Am Hafen

war ich allein mit dem Wasser, das dort an Land geht

Frachtkräne schienten den Kontinent

an seinen Rändern, im Hintergrund wirkten

die Meere.

 

 

 

 

O mar me habita como as luzes de uma cidade

 

 

As varandas abertas luziam, ilhas na margem da cidade

o ar circundava, uma balsa, provavelmente dormia

 

coloquei minha cabeça em seu casco

e encontrei uma correteza, a regência dos rios

sob pontes e nos túneis

os instrumentos

correntes de luzes que se moviam.

 

No cais

eu me encontrava sozinho com a água que ali desemboca à terra

guindastes de carga trilhavam o continente

nas suas margens, ao fundo medravam

os mares.

 

 

 

 

 

 

Russische Einheiten

 

 

Eine Art Liebe, zwischen den Blocks

mit Schneeohren: unwirklich, außer der Zeit

liegen die Steine unter dem Eis

die gefrorene Bremsspur, die Pirouette

des Betrunkenen —

in meinem Herz

dröhnt ein Finale, ich weiß nicht

von welchem Stück

durch das Balkonfenster

blickt die Geranie, reglos, ein schläfriges Kind

sagt: Wir haben Lenin gesehen…

 

und jedes Licht ist eine Münze Glück/Unglück

die Dinge zerfallen, in ihre stoische Schönheit

 

eine träumende Schaffnerin

mit eisernem Münzkasten

man sieht den Schnee und möchte sich losreißen 

 

wenn wir in kleinen Gefährten

durch Städte reisen, bleiben Ringlinien

die letzten Einheiten

atmet der ausgebeutete Raum

ein Massiv aus toten Bienen.

 

 

 

 

Unidade russa

 

 

Uma espécie de amor, entre os blocos

com orelhas de neve: irreal, exceto o tempo

as pedras estão cobertas pelo gelo

congelado o rastro da frenagem, a pirueta

dos embriagados

no meu sentimento

ameaça um final, não sei

de qual peça

através da janela da sacada

os gerânios olham, inertes, uma criança sonolenta

diz: vimos Lênin

 

e cada luz é uma moeda de felicidade/infelicidade

as coisas se desfazem em sua beleza estóica

 

uma pastora sonhadora

com baú férreo de moedas

vemos a neve e queremos nos desgarrar

 

se viajarmos em pequenos veículos

pela cidade permanecerão as linhas aneladas

como as últimas unidades

arqueja a área explorada

um sólido composto de abelhas mortas.

 

 

 

 

 

 

Diese Erinnerung endet am Meer

 

 

Du gehst im Salz spazieren, Seewind, Seeelefanten

später vergaß ich die geheimen Namen der Brandung

— dein Tasten im Sand, gestorbenes Holz

was immer das Meer auswirft unter Witterungen

du bist hier nicht einfach ein Freund

eine Erinnerung aus meinem goldenen Album.

 

Was aus den Händen fällt wird den Strand bilden

Bewegungen verblassen, Gesten zerfasern im Dunkel

— Nacht öffnet noch einmal den Kosmos

die Sterne sind Kunstlicht, aber sie legen noch einmal

Blickachsen in deinen Kopf, der nicht da ist.

 

Du gehst davon mit seltenen Pflanzen, Steinen

führst die Schildkröte fort an einem blauen Faden

— ich kann nicht erkennen, ist es die Welt

in ihrem Sinken, die dieses Garn aus meiner Haut zieht

oder nur ein verlorener Dämon

ein Plastikreptil aus den Jahren der Kindheit.

 

 

 

 

Esta lambrança termina no mar

 

 

Você passeia pelo sal, brisa do mar, elefante-marinho

mais tarde esqueci o nome secreto do fragor das ondas

— seu tocar na areia, madeira morta

seja o que for que o mar despoja nas tempestades

você não é aqui simplesmente um amigo

uma lembrança do meu álbum dourado.

 

Daquilo que se perde das mãos será feita a praia

Movimentos esmaecem, gestos se fragmentam no escuro

— Noite abre novamente o cosmos

as estrelas são luzes artificiais, mas suscitam de novo

eixos de visibilidade em sua cabeça, que não está aqui.

 

Você escapa indo com as raras plantas, pedra

conduz as tartarugas para longe em um fio azul

— Eu não consigo reconhecer, é este o mundo

em seu naufrágio que desprende este fio da minha pele

ou apenas um demônio perdido

um réptil de plástico pertencente aos anos da infância.

 

 

 

 

 

 

Den Toten des Surrealismus

 

 

Wer mit den Dingen zusammenstößt,

wird es derselbe sein, der sie harmonisiert?

Das ist es wohl, was mich traurig macht.

Hugo Ball

 

 

I

 

 

Draußen ist's still, kein Tank von Shell

im Resonanzbereich meines Lauschens

kein Atom bricht ab

fällt in den Schacht, kein deprimiertes Organ

probt den Verrat und die Lilie

vor mir im träumenden Glas —

 

dieses Gewächs meiner Sehnsucht auch

schneuzt sein Arom nur semiotisch

ohne Geräusch in die entsetzliche Nacht!

 

Draußen ist's still, der leere Parkplatz

Schubumkehr des Glücks und eine winzige

Akademie

fern dräut Asien

ein Horn des Poseidon, mit Güterzügen …

 

So kommt nun die Welt über den Winter!

Die Zwiebeln liegen auf dem Tisch

die Apparate des Wunders kreisen …

 

Aber der Schnee ist nicht mehr gotisch

eine wunschlose Erzform, ein hellblau

getakteter Geiger

nein, er ist grau

und labbrig, die Abraumetage des Frühlings

ach —

 

und nur die untersten Schnee-Engel

halten sich noch an den Tankstellen

vermummt und marxistisch

in ihren winddichten Anoraks.

 

 

 

II

 

 

Draußen ist's still, es schlafen Berg und Tal

reglos die Stadt, das Elend der Sprengwerke

 

ihr langsames Feuer vereinfacht den Raum

die Herzensgebrechen der Trainer

Balkonpflanzen

 

und in den Meeren der Wal

und im Gefrierfach der Aal

Delikatessen, am Rand meiner Schwäche

ruhet die Liebe auch, ein Ghetto Rosen —

 

die großen Betonkörper winkeln das Licht

wo meine Hand liegt

ein Joch für Nachtfalter

und die Gedichte gehn über den Schnee

in kleinen Schritten …

 

Die toten Surrealisten

rumoren unecht im Grundstock der Wälder

kauen den Sternklee in diese Nacht

trockene Seekoffer, Schneeklima —

 

hinter dem Elend der Bäume

leuchtet die Heimat

die Elemente erfinden sich, meine Geliebten

liegen im Streit und zerfallen

 

aufsteht der Mond, von seinem Sitz

da sein gelber Mund

dort seine Beine, die schleifen.

 

 

 

 

Os mortos do surrealismo

 

 

Quem colide com as coisas,

será o mesmo que as harmoniza?

Isso é exatamente o que me deixa triste.

Hugo Ball

 

I

 

 

Lá fora está silencioso, ninguém enche o tanque no Shell

na faixa de ressonância do meu ouvir

nenhum átomo se rompe

cai na perfuração, nenhum órgão deprimido

simula a traição e o lírio

diante de mim no vidro sonhador —

 

Esta planta do meu desejo também

ronca o seu aroma apenas semióticamente

sem ruído na noite aterradora!

 

Lá fora está silencioso, o estacionamento vazio

reversor de empuxo da felicidade e uma pequena

academia

longe a Ásia ameaça

um chifre de Poseidon, com trens de carga...

 

Assim o mundo supera o inverno!

As cebolas estão sobre a mesa

rondam o aparelho do milagre...

 

Mas a neve não é mais gótica

uma forma de minério sem desejo, uma luz azul claro

violino cronometrado

não, ela é cinza

e mole, o desterro da primavera

oh —

 

e somente os mais inferiores anjos da neve

continuam ainda no posto de gasolina

empacotados e marxistas

em seus anoraks à prova de vento.

 

 

 

II

 

 

Lá fora está silencioso, dormem montanhas e vales

inerte a cidade, a miséria das tacaniças

 

seu fogo lento simplifica o espaço

o peso no coração do treinador

as plantas da sacada

 

e nos mares da baleia

e no congelador da enguia

delicatessen, à margem da minha fraqueza

também repousa o amor, um gueto de rosas —

 

a grande massa de concreto enverga a luz

onde a minha mão pousa

um jugo para as mariposas

e os poemas caminham sobre a neve

em pequenos passos...

 

Os surrealistas mortos

rumorejam falsos no alicerce das florestas

mastigam o trevo da estrela nesta noite

seca mala marítima, clima de neve —

 

por trás da miséria das árvores

a pátria ilumina

os elementos se reinventam, meus amores

estão em desacordo e se desmancham

 

ergue a lua, do seu lugar

ali a sua boca amarela

lá as suas pernas, rastejam.

 

 

 

 

 

 

Elegie für K.

 

 

Müd ist mein Auge, müd müd

wie Alpen. Eine verwunschene Strecke

aus Jahren ist mein Gesicht

Felder, in denen ich schlief —

 

gelbe Lampions, ein verrätseltes Kinderfest

alles ist außer mir, ein Stausee

in dem geflutete Dörfer nachts leuchten.

 

Die Erde gibt Farben

die Haut gibt Einheit

in den Plantagen rüsten die Obstbäume kühn

gegen das Weltall —

 

ringsum die   Wiesen

reiben sich an meinen Füßen

der Fluss

an meiner Seite, unmerklich zieht ihn

ein fernes Meer.

 

 

 

 

Elegia a K.

 

 

Cansados estão meus olhos, cansados cansados

como Alpes. Um trajeto encantado

de anos é o meu rosto

campos, nos quais eu dormia —

 

lanternas amarelas, uma festa infantil cifrada

tudo está fora de mim, uma represa

luzes nas aldeias inundadas na noite.

 

A terra gera cores

a pele gera unidade

nas plantações as árvores frutíferas se armam corajosamente

contra o universo —

 

ao redor       os prados

esfregam-se nos meus pés

o rio

ao meu lado, imperceptível é atraído

por um mar distante.

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Steffen Popp (Greifswald, 1978), cresceu em Dresden, vive em Berlim. Autor dos livros de poesia Wie Alpen (Como Alpes, 2004) e Kolonie Zur Sonne (Colônia ao sol, 2008) e do romance Ohrenberg oder der Weg dorthin (Ohrenberg ou o caminho até lá, 2006). Em conjunto com Ulyana Wolf traduziu poemas do norte-americano Christian Hawkey. Seus poemas aparecem em importantes revistas e jornais literários, e no Jahrbuch der Lyrik (Anuário de Lírica). Contribuiu para a revista literária "Bella". É vencedor do prêmio Peter Huchel (2014). Steffen Popp escreve sob o espírito do romantismo. "Tudo precisa ser poetisado": com tal apelo os poetas do romantismo partiram para a promessa de uma "nova mitologia". Duzentos anos depois, Steffen Popp vem sendo considerado, por alguns críticos, um seguidor de Novalis. Mas na prática os críticos ainda não encontraram um denominador comum para classificar a poesia aparentemente "romântica e filosófica" do jovem poeta.

 

 

 

 

Viviane de Santana Paulo (São Paulo/SP). Poeta, tradutora e ensaísta, é autora dos livros Depois do Canto do Gurinhatã (poesia, Multifoco, 2011), Estrangeiro de Mim (contos, Gardez! Verlag, 2005) e Passeio ao Longo do Reno (poesia, Gardez! Verlag, 2002). Em parceria com Floriano Martins, publicou Em silêncio (ARC Edições, 2014) e Abismanto (poemas, Sol Negro Edições, 2012). Participa das coletâneas Roteiro de Poesia Brasileira — Poetas da década de 2000 (Global, 2009) e Antología de Poesía Brasileña (Huerga Y Fierro, 2007). Vive em Berlim.