I:1

 

Narrativaemvozadulterada!

 

 

     disparo em volta de alteneiras

           fremindo todos os círculos

               amainando meus cachos

                                       insuflados

de costas para uma janela

sob o cortinado

que recorta o firmamento

das torres telefônicas

.

.

.

.

desconfio

dessas coisas

nada sei da geologia

dos toldos e balcões ulcerados

dessa gente que se acha connor macLeod 

do balouçar em cada esquina

das figuras midianitas

das vielas urinadas

das latrinas

 

por isso, talvez

deixo suturas estarradas na porta

.

.

.

longas são as noites naquele borrão

 sempre estridulando woody allen

                a rosa púrpura do cairo

é assim que me vejo

esmurrando

raias da galhofice

repetindo annie

naquela festa

neurótica

com imensos bigodes

com formas jocosas

sobrepujando

(aparentemente

    pelo menos)

                 meu documentário

não autorizado pelo morrissey

              nas estrofes espessas

 

&

 

trechos nacarados

deserto

inseto

certo

chorando

pelo avesso

da gruta lascux

digerindo

interpenetrações

destrinçando envilecimentos

.

(ele não entrou

em nada

tecnicamente

nada sobrou dele)

 

.

 

retiro a baixa temperatura

incendiando mouriscos

com gasolina

 

por ensejo da gravidade

quem sabe, glândulas

c/

estrídulo

incandescente

entre meus dentes

uma pálida herbicida

.

.

alto no ar

toco no clarim

e o andaime desaba

sem encontrar estadia

 

vergasto veias do libérrimo

visto meu estômago revirado

 

(casos em que uma coisa

              segue-se a outra)

 

                      numa fresta

     molduras vaticinadas

improvisam

sinfonias de chaleiras

com som zimbro

monotônico

 

astucci

no entardecer

      um poema

de ezra pound

alísios

escarpas em curvas

rambras poucas vezes vistas

.

não entendo

dos quirinais lívidos

dos sibilantes fora de frequência

da educação sentimental do jovem flaubert

dos peixes arrastando o lustro de lentilhas

na dúvida

não olho com cílios

não há ninguém fluindo

não deixo o vento mergulhar

um gole d'água sequer na forja

 

 

 

 

 

 

I:2

 

 

alquemila

 

 

nas lágrimas de rilke...

   vejo uma semente se rasgando

      acoplada em tapumes

               florescendo consoadas

         com dádivas que ilustram

 tulipas incendiadas

dentro dos sonhos

em sigilo

moroso

  

                       retratos alojados

reproduzem figuras maternas

pela noite

inundam

perto do cordame

 

 na castidade de aliocha

       o repouso beatífico

        gerado no fogo de odara

               lacerado por salmos

 

radiadores, retiram furacões das docas

jorram galhos mortos

o flando depura

comido por máculas viscosas

 

infusões:

 

      meu sudhir wadya tem som de ukelele

                  na coluna da minha manjedoura

                                         vivência vegetativa

                                                   no leste para

                                                         o sudeste

                              do outro lado do oceano

 

______________

   |um pingo de pele cobre o himalaia

    c/ partículas africanas de tirosinas|

 

 

 

 

 

 

I:3

 

 

hoppípolla

 

                                cato um elevo

                             cinematográfico

                         no sentido de tocar

                       torvelinhos no hálito

 

acordo o rebento da janela

na alimária das nuvens

 

tudo isso é verdade!

 

                          respiro flâmulas 01

          exasperantes02

                               pavimentos03

                                                 compilados04

                esqualos05

                                     ramalas06

 

      minha cercania fermenta adstringentes

  de arrefeços por cima do derme enquanto

                                           válvula do coração

                                                       adelgaçado

 

__________

         ****uma berma obliterada pelo esôfago

                                                         com a palma

                                                             granulosa

                                                               ¿ herpes

 

 

 

 

 

 

I:4

 

 

heinrichvonofterdingen

 

 

...penso como quem irisa poucas virtudes descendo o ralo nos dedos

com as mãos na cabeça estanco colgaduras por detrás dos ombros

deitado de costas (dove affonda a

die baue blume)

adormeço no romance de novalis

quando acordo

  miosotis e eisenhut

injetam cianureto onde nunca se entra desatinado...

.

.

.

.

na véspera da virada do milênio

comemorando bodas de pratas

um cartão postal 

datilografou:

 

- você tem um trem no coração

uma membrana degenerativa

as crostas arquejando

um dia o mundo arqueja

tudo arqueja

até mesmo as tilápias

os agrestes pedregosos

a montanha mágica

(thomas mann)

os vetustos

as lambretas

nossa gravidade

abortada

o açoite do bastardo

o universo

não-romanesco

              depauperado

 

 

§

 

 

 

 

 

 

I:5

 

 

entre quatro paredes (5:50 AM)

 

...os outros

     são organismos alheios, nocauteados

 subúrbios vacilantes

   não passam de chavões em placas sujas

   ruas esquisitas gargarejando mazurcas

        cafetões fumando em posição fecal

                              batedores de carteiras

                                              

                    

               |milharais digerindo trechos urbano

lembram semáforos serenando oxiluciferina|

 

 

___________

 

 

!P.S. ontem perdi o sonho. não preguei o sono

 

 

§

 

 

 

©irina zaytceva

 

 

I:6

 

 

das andanças bem aventuradas

 

 

...quantos carvões cabem numa fumaça? quantos pulmões dividem oxigênio com balões? e as xícaras? de onde trovejam suas asas? as elucidações em massa destrancam vários coxins na nuca. à esquerda, de antemão, a cortina bate palma conduzida pela cornucópia rente à botija de zimbro. o colar preciso vai certeiro, esfregando os ombros em cima do dique. antes, não estivera a dizer um marasmo em papel parede enrolado no baralho. depois do longo suspense, um olho arregalado senta na poltrona, uma última edição sobra na banca. em dado momento a valva dispara inerme na mandíbula do inválido, afunda três — ou mais polegadas do sargaço. em média, as coisas são pequenos sopros que se desmancham em penugens...

 

 

 

 

 

 

I:7

 

 

covinhas

 

 

         em um pedaço de pão, atulhado de prescrições, covinhas chegam cobrindo milhões de olheiras. suas fadas usam as meias com manchas das sapatinhas. estalos entre os travesseiros, o sofá de marroquim realça o forro grisalho, o casaco e o ralo ainda por fazer...

 

...todos os pilares param em diferentes pontos ao longo do curso, na escadaria, forçam os calcanhares — prosseguindo devagar, depois de algumas pausas- todas as claves, estrelas, bichanos e flores misturam na veneta o rompimento que deslinda convulsivamente os dedos maduros.

 

 passa um segundo, custa muito, passar outro segundo. quando menos se espera o terceiro segundo vem, voa para longe e parece arraigar na orla das nuvens sentado no meio do sono do mundo atrás do souvenir...

 

 

 

 

 

 

I:8

 

 

Ileuthyeria

 

 

         destinam o começo da avenida preconizada por um canto introdutório sem infâmia e sem louvor. uma parte da segunda cascata ganha escotilhas enquanto deixa escapar etólios das lanternas em outras vinirrubras. o endereço propriamente dito termina em sulcos. sendo assim, integra-se marulhos

 

numa alcova, do outro lado insondável da esfinge, tirésias nas varetas são naxos de luz ( em média meia vesta, não mais que isso) aquilo que se foi,  sentia constrangimento quando encarava-se de esguelha. por certo, ideogramas à maneira moscovita

 

iluminação ávida na luz. seria nictélia¿

 

pavões despojados, com tintura tireoidiana, escrevem na borda dos tendões seus cordones perto dos quios

 

toscanas perfuram oceanos por cima do embornal. (.·.) a meu ver, sucedem pilhérias de coches. depois de breves intervalos, sob a quilha amontoada, estava lá, as gavinhas enrolando suas cordagens. enfim, a língua que ventila o ar subterrâneo poderia ser da iracema — a doçura do apetite sobre a mesa com fome ressequida, quieta como buracos moveis

..

 

 

 

 

 

 

I:9

 

 

mawilda von meysenburg-

                        

                                  [ a ponte que leva ao céu]

 

{Antes}

 

...nos primeiros dias de gestação o derradeiro som transpira sinais de vida

o vasto corpo de universos, composto por oito braços, revela siddhartha

contra déspota, crianças nepalesas fermentam oceanos...

 

uma cena bonita acontece: uma gueixa enche o incensário de fogueira

a fogueira queima os trovões (que culminavam numa porção de relva)

.

.

.

.

em sânscrito!                                                    

através do mediterrâneo                                       

turbantes esfriam boa parte do sol

.                                                        .

chove sobre o vapor do incenso amanohashidate

.

.

.

heroikes

tukhes peristasis 

 

 

{depois}

 

       mawilda entra na trama...do seu amor - arrebatador de penhascos - nasce uma

figura pelo mando e desmando da realiza queneu ( formulação cronida dissociadora

da fertilidade). um tempo úmido se move espumando arbustos porejados.

 

 tragicamente, na sua face o poder delegado ao monarca dinástico fustigou-a sem piedade...

 

{agora}

 

    como prenúncio, ela reside em tribichen, alquebrada, onde dispensa serenamente sua

pelerine nec plus ultra na ponte rialto

   nivelada em palavras, apenas murmuradas, no bafejo melífluo dos transeantes com

exangues imberbes. mawilda não é mais a mesma. lembra servilha- o barbeiro- alojando

algodoados impronunciáveis no couro da sua boca de onde apanha arrebaldes rachados...

 

nota:

 

 este episódio, terre à terre, não contem nada de grandioso

um inverno enredado de iresinas de uma longa desventura nas frinchas

 

 

<acerbidade>

 

remira versículos, espalpas mosqueadas da serenidade

falda banhada pela asperidade

reitera

amena seu conspecto na fronte

 

&

 

culmina nas penínsulas honoríficas

.

.

.

vita nuova

 

[jâmbica, de maneira composta por epístolas

                     

                                                              hiperbato

 

               ...celebra poltrôes em vez de nomos

 

 

________

 

[La mer, la mer, toujours recommencee

O récompense après une pensée

Qu’un long regard sur le calme des dieux]!

                           

                                                  PAUL VALÉRY

 

 

 

 

 

 

I:10

 

 

prolegômenos por similitudes

 

fragmentos nova-iorquinos

interiorizam stanley

anedotas e lendas

 

(fora do pacífico

espraiando

no bronx)

 

onde formas em laranjas

se bifurcam

 

ruptura que suspira 01

                    codifica utensílios  02

linha transversal 03

      sobre sua voz arquipélago 04

polaroides 05

                   porção de eflúvios 06

 

rareia-se

hemisférios em torno do fogo

de dentro para dentro da cartilagem

metáfora contínua de um sentimento

desordem na condição de fecundidade

odisseias pouco atrasadas, sacralizadas

 

 

 

 

 

 

 

I:11

 

 

ostras e lascívias

 

 

patíbulo fala pelos adágios

por alguma preocupação

como que interior

embrionário

enochiano

pouco expressivo

a certeza do olhar poda

 

 

(ele que o fazia como ninguém

esquecer as chaves girando números)

 

tranca o coágulo, amolece

quebra a mandíbula

prende a maçaneta, a vontade

ergue um portal, a travessia lateja

o nome afoga

assim como as pessoas

orquídeas esparradas

ostras, lascívias

canículas

 

 

 

 

 

 

I:12

 

crenaque

 

dobrei minha maloca numa fedora

na massa cinzenta onde

uma língua crenaque

esfola fibras

de mortiços poucos k/h

no oeste

do juazeiro

antônio francisco

.

.

nas fronhas do seu cordel

incidência em ziguezague

crianças complexadas

por fanfarrões

caudalosos

em cavalos

     espadas

alijadas

gastronômicas

 

**

 

 

 

 

 

Claudio Castoriadis (Mossoró/RN). Poeta, músico e professor. Tem poemas publicados na Mallarmargens — Revista de Poesia e Arte Contemporânea e outras mídias. Edita, desde 2011 o blogue de poesia [claudiocastoriadis.blogspot.com.br] eleito duas vezes consecutivas o terceiro melhor blogue na categoria arte e cultura do Brasil pelo Prêmio Top Blog — um sistema interativo de incentivo cultural destinado a reconhecer e premiar, mediante votação popular (júri popular) e acadêmica (júri acadêmico), os blogues brasileiros mais populares que possuam a maior parte de seu conteúdo focado para o público brasileiro, com melhor apresentação técnica específica a cada grupo e suas respectivas categorias.